quarta-feira, 2 de junho de 2010

Viver Morrendo e Morrer Vivendo

O filósofo Horace Kallen é o autor do célebre pensamento: “Há pessoas que pautam a vida em função do temor à morte, e há pessoas que pautam a vida pela alegria e satisfação da vida. Os primeiros vivem morrendo, os outros morrem vivendo”.
Concordo com ele. Existem pessoas que o seu viver é um velório contínuo, um lamento eterno. Não conseguem celebrar a vida, são amargas e amarguradas, pessimistas e descontentes. Homens que se irritam com tudo e com todos, mulheres infelizes porque não recebem amor, filhos zangados porque não tem a presença de seus pais. Empregados rebeldes, patrões insatisfeitos, médicos sisudos, gerentes carrancudos, atendentes com semblantes carregados, enfim, gente decididamente infeliz. Fazem parte do coral de Jorge Luis Borges que desabafou: “No passado cometi o maior pecado que um homem pode cometer, não fui feliz”.
O famoso escrito Mark Twain descreveu muito bem este grupo de pessoas que vivem morrendo: “Nascem, labutam, suam e se debatem para obter o seu pão; disputam e ralham e brigam; porfiam por obter mesquinhas vantagenzinhas um sobre o outro. A velhice vai-se acercando deles, e as enfermidades se seguem; as vergonhas e humilhações vão derrubando seus orgulhos e vaidades. Os entes queridos são tirados deles, e a alegria da vida é transformada em angústia dorida. O fardo da dor, da preocupação e da desgraça torna-se mais pesado, ano após ano. Finalmente a morte chega a eles – a única dádiva sem veneno que a terra sempre tinha reservada para eles – e desaparecem de um mundo onde nada valiam, onde nada realizaram, onde eram um erro, um fracasso, uma tolice, e onde não deixaram o mínimo sinal de terem existido – de um mundo que os lamentará por um dia e os esquecerá para sempre!”
Todo homem deveria constantemente parar e se perguntar: “A minha morte deixaria o mundo mais pobre ou apenas menos povoado?” Apesar da morte ser um problema para o ser humano, não é o medo diante dela que, na verdade, deveria nos atormentar, mas o pavor de uma vida sem importância. Em Morte e Vida Severina, João Cabral de Mello Neto afirmou que “as pessoas não tem medo de morrer; elas, na verdade, tem medo de morrer sem saber por que viveram”. Ou seja, há uma razão para a insatisfação no ocaso da vida: a sensação de uma vida desperdiçada. No tempo das sombras, no crepúsculo, a gente se alegra com as memórias e colhe os frutos das sementes que lançamos ao chão enquanto era dia. A grande aflição não é morrer, mas morrer sem ter vivido, morrer sem ter descoberto porque, afinal de contas, vivemos. Os homens precisam morrer vivendo em vez de viver morrendo.
Um grande exemplo de alguém que vive morrendo é o suicida. Tal pessoa tem mais medo de viver a vida do que de enfrentar a morte. Isto acontece porque a sua vida é pior do que a morte! Seus relacionamentos estão destruídos, sua família é um fardo e não o compreende, sua profissão transformou-se num deserto árido, seus sonhos desmoronaram como um castelo de areia, suas fobias aumentam a cada dia, seus amigos são interesseiros.. esta pessoa não vive, sobrevive; não ama, reclama; não é, já foi.
Por outro lado, existem pessoas especiais, de bem com a vida, alegres, cheias de esperança, amor, paz e bondade. São pessoas que sabem viver, simplesmente porque estão preparadas para morrer. São capazes de enfrentar os problemas, as tribulações, os perigos, as angústias que a vida lhes traz, de frente, com coragem e ousadia. “Não tenho medo da morte porque sinto que vivi. Amei e fui amado. Fui desafiado em minha vida pessoal e profissional, e consegui, senão um desempenho perfeito, pelo menos qualificável, e, talvez, um pouco mais do que isso. Deixei minha marca nas pessoas e cheguei a um ponto da vida em que não mais preciso me preocupar com esta marca. Sou capaz de olhar para o último ato de minha vida; tenha ela a duração que tiver, com a certeza de que, finalmente, aprendi quem sou e como devo conduzir a vida. Ando sem medo pelo vale das sombras; não apenas porque Deus está comigo, mas porque Ele me trouxe aqui. Não há jeito de evitar a morte, mas a única cura para o medo da morte é o sentimento de ter vivido”. (Harold Kushner)
Sócrates já dizia que uma vida sem exame não vale a pena ser vivida. Todos nós deveríamos, em algum momento de nossa existência, questionar a própria vida. Quem não consegue fazer este questionamento será escravo de sua rotina, será controlado pela mesmice, nunca enxergará nada além do véu do sistema, viverá para trabalhar, cumprir obrigações profissionais, ter um papel social. Por fim, sucumbirá no vazio. Viverá para sobreviver até que a morte chegue.
O famoso filósofo dinamarquês Kierkegaard dizia que “a vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só pode ser vivida olhando para a frente”. Sendo assim, siga o conselho bíblico pronunciado pelo apóstolo Paulo: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que diante de mim estão, prossigo”. (Fp. 3:13)
A você que consegue morrer vivendo, parabéns! Continue sendo exemplo de vida aos que estão vivendo um contínuo velório. A você que, infelizmente, vive morrendo: Existe esperança! Busque aquele que ousadamente afirmou: “Eu sou o Caminho, a verdade e a VIDA”.

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