segunda-feira, 16 de agosto de 2010

“Bem-aventurados os humildes de espírito”

     “Bem-aventurado” significa mais do que feliz. Esta expressão significa que aquela pessoa possui a aprovação de Deus. Jó foi um homem aprovado por Deus: “Viste o meu servo Jó? Reto, íntegro, se desvia do mal...” (Jó 1:8) Jó não era bem-aventurado só por ser feliz, mas principalmente porque Deus aprovava a sua conduta Muitas pessoas correm freneticamente atrás de títulos acadêmicos, mestrado, doutorado, PHD... Mas o título mais importante de todos, é o APD: Aprovado Por Deus.
     Esta primeira bem-aventurança é imprescindível para entendermos todas as outras. A ordem em que elas foram arrumadas por Jesus não foi por mero acaso. Existe nas bem-aventuranças uma seqüência lógica e espiritual. Todas as demais características são resultantes dessa primeira qualidade. Todas as outras características são edificadas sob a primeira característica.
     Esta é a primeira bem-aventurança pelo fato de que ninguém pode entrar no reino de Deus, a menos que seja pobre de espírito. Os orgulhosos e auto-suficientes jamais entrarão no reino de Deus. No alfabeto do cristianismo, a humildade é a primeira letra. No reino de Deus não existe uma única pessoa que não seja pobre de espírito. Portanto, esta é a característica fundamental do cristão, do cidadão do céu; e todas as demais características resultam dessa primeira qualidade.
     Muitos têm interpretado este texto como se Jesus estivesse valorizando os pobres, materialmente falando. São Francisco de Assis é o patrono deste grupo de pessoas. Eles dizem que o voto de pobreza voluntário é imprescindível para adquirir o reino dos céus. Somente os que fazem parte deste grupo é que herdarão as benécias do reino. Traduzem o texto da seguinte maneira: “Bem-aventurados em espírito são os pobres”. O problema é que em nenhum lugar das Escrituras é ensinado que a pobreza leva alguém para o céu. Não há nenhum mérito ou vantagem na pobreza. A pobreza não serve de garantia de espiritualidade. Se fosse assim, as pessoas seriam salvas pela pobreza e não pela graça de Deus. As pessoas que pensam assim e fazem voto de pobreza, estão acreditando nos seus esforços e não na graça de Deus. Isto é anular por completo o sacrifício de Cristo na cruz. O que conduz o homem ao céu é unicamente a morte de Cristo em seu lugar. Portanto, esta interpretação distorce totalmente a palavra de Jesus aqui em Mateus.
     Quem são os humildes de espírito? Como identificá-los? Como defini-los? Os humildes de espírito são aqueles que reconhecem que nada podem realizar para ser salvos, que entenderam a realidade de que nada são sem o auxílio divino, que compreenderam que nada possuem em si mesmos que os ajude diante de Deus, que reconhecem a sua pobreza espiritual. Os membros da igreja de Laodicéia foram condenados por Deus porque diziam: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa nenhuma”. O humilde de espírito tem uma atitude completamente contrária. Eles fazem parte do grupo que declara: “Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?!” (Rm.7:24) Eles entenderam a palavra de Jesus quando disse: “Sem mim nada podeis fazer”. Eles reconhecem que nada possuem para oferecer a Deus e, mesmo que tivessem, Deus não precisa de nada! Ele é Deus!
     “Ser humilde de espírito é reconhecer nossa pobreza espiritual, ou falando claramente, a nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus e nada merecemos além do juízo. Nada temos a oferecer, nada a reivindicar, nada com que comprar o favor de Deus.” (John Stott) “Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de espírito.” (Calvino)
     Encontramos na Bíblia vários exemplos de pessoas pobres de espírito. Gideão: “Quem sou eu para cumprir tal tarefa? Pertenço a menor tribo de Israel e à menor família desta tribo”. Moisés sentiu-se incapaz para conduzir o povo no êxodo para a terra de Canaã. Davi: “Senhor quem sou eu para que venhas a mim?”. Davi era rei, portanto, extremamente rico, mesmo assim, ele declarou o seguinte: “Eu sou pobre e necessitado, porém, o Senhor cuida de mim”. (Sl. 40:17) Jó: “me arrependo no pó e na cinza”, “Falei uma vez, duas, questionei... mas não falo mais nada! Tu és Deus.” Isaías: “Ai de mim! Sou homem de lábios impuros...” O publicano da parábola contada por Jesus: “Senhor sê propício a mim que sou pecador”. Pedro: “Retira-te de perto de mim porque sou um homem pecador”. Paulo tinha todas as razões do mundo para sentir-se auto suficiente. A lista de Filipenses 3 nos fala de suas condecorações. Sobre isto ele nos diz o seguinte: “Se alguém poderia confiar na carne (ser auto-suficiente) este sou eu.” No entanto, diz ele: “Tudo que era lucro passei a considerar como perda!”
     Em Lucas 18 Jesus contou uma parábola para ensinar verdades concernentes à oração. Dos muitos ensinamentos relacionados a oração, esta parábola nos mostra a maneira como devemos orar. Aprendemos ali o que devemos fazer e o que não devemos fazer com a oração. Encontramos nesta história a oração que Deus aceita e a oração que Ele não aceita. E o ensinamento é que Deus aceita a oração daquele que é humilde de espírito.
     A parábola conta a história de dois homens. O fariseu que tinha uma visão distorcida acerca de si mesmo. Ele não disse na sua oração: “Oh Deus, eu sou”, mas disse: “Eu não sou como os demais homens”. Isso é muito significativo, afinal, ele se comparou aos outros, por isso ele se considerava justo. Além disso, ele era orgulhoso, exaltado e confiava em si mesmo. Tal era a exaltação própria desse homem que a sua oração era um elogio acerca de si mesmo. Por isso que Jesus disse que ele “orava de si para si mesmo” (v.11) Ele relatou na oração aquilo que ele fazia além do que a lei exigia: “Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”. A lei exigia um jejum por ano, e aquele homem fazia dois por semana!
     Ele era desprezador: “Por si considerarem justos, desprezavam os outros”. (v.9) Era um hipócrita, afinal, orava a Deus, mas com o fim de louvar a si mesmo. Ele menciona o nome de Deus apenas no início. Logo depois do início de sua oração, Deus sai do foco. O que acontece é um louvor de si mesmo.
     Essas características deste fariseu deixam evidente o que não é uma pessoa humilde de espírito. Em toda a oração proferida pelo fariseu, não há nenhum elemento de petição. Ele não é pobre! Ele não precisa de nada! Não existe da parte dele nenhum senso de pecado diante de Deus.
     Já o outro personagem da parábola, o publicano, ele é o oposto do fariseu. Ele pensava realisticamente acerca de si mesmo. Diz o texto que o publicano estava “longe”. Ele não tinha coragem de chegar perto do local de culto. Além disso, não tinha coragem de levantar os olhos aos céus, no entanto, “batia no peito e dizia: Ó Deus, sê propício a mim, pecador”. Era assim que ele se via, como um tremendo de um pecador!
     Porque se viu como pecador, era humilde. Além da sua posição, as suas palavras comprovam a sua humildade. Ele demonstra ser pobre de espírito, afinal, o que é que ele oferece ao Senhor? Ao contrário do fariseu, ele não tinha nada para oferecer a Deus. Ele poderia cantar o hino: “Eu venho como estou, porque Jesus na cruz morreu por mim, eu venho como estou”. Ele era consciente do seu estado de miséria, e, por causa disso, concentrava-se na misericórdia de Deus.
     Todos os homens têm um conceito elevado acerca de si mesmos. Sejam os pobres, sejam os ricos, sejam os intelectuais, sejam os ignorantes, todos têm um conceito muito elevado acerca de si mesmo. E a maior prova disso são as guerras entre os homens. Por que marido e mulher brigam tanto? Por que irmãos brigam entre si? Por que há concorrência nos empregos e nas igrejas Porque o conceito acerca de si é muito elevado!
     Enquanto não nos tornamos humildes de espírito, nossas relações são baseadas na concorrência, na disputa, com sentimentos de grandiosidade. Sendo assim, podemos afirmar que os humildes de espírito são assim porque Deus usou de misericórdia para com eles. Os humildes de espírito são aqueles sobre quem o Senhor derramou luz.
     O que é a humanidade sem Cristo? É uma sociedade de pecadores sem a correta visão acerca de si mesmos. Enquanto o holofote divino não brilhar sobre a humanidade, os homens vão continuar sendo autoconfiantes, auto-satisfeitos.
     Já os bem-aventurados são aqueles que receberam a Palavra de Deus e puderam constatar quem eles eram de verdade. Não foi por acaso que o salmista disse: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos”.
     Porque eles foram declarados bem-aventurados? O texto responde: “Porque deles é o reino dos céus”. Eles são bem-aventurados porque desde agora já possuem o sumo bem dado por Deus em seus corações. O Reino de Deus está neles! Deus os resgatou do império das trevas e os transportou para o reino do Filho do seu amor. O reino de Deus pertence a eles! “Não temais pequeninos, porque Deus o vosso Pai, se agradou em dá-los o seu reino”. (Lucas) A eles foi dada completa salvação! Ou seja, a soma completa das bênçãos que é concedida àqueles que são humildes de espírito.
     Porque deles é o reino dos céus, eles podem orar: “Venha a nós o teu reino”. Somente eles podem dizer: “Ó Senhor governa-nos pela tua Palavra e pelo teu Espírito de tal maneira que nos submetamos a Ti”. “Fortalece a tua igreja e faze-a crescer”. “Destrói a obra do Diabo, destrói toda força que se rebela contra Ti”. Somente eles podem orar desse jeito, afinal, o homem natural nunca vai fazer esta oração!
     O Bem-aventurado é alguém que antes era auto-suficiente, autoconfiante, auto satisfeito. Mas ele foi conduzido pelo Espírito Santo a perceber a sua completa necessidade de Deus.
     “Todo que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha, será exaltado”. O publicano reconheceu a sua dependência completa de Deus, e assim, ele foi justificado, santificado, declarado bem-aventurado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário