quarta-feira, 2 de junho de 2010

Consumismo: o deus da nossa sociedade

O consumismo nos apresenta os serviços e bens materiais como uma promessa de felicidade. As pessoas são tentadas a depositar suas esperanças na riqueza e nos bens materiais. Os objetos variam muito, de casas e carros a férias e planos de pensão. Mas a mensagem secular é sempre a mesma: “Você alcançará a felicidade nestas coisas”. Uma vez que dispunha de muitos recursos, o rico insensato na parábola de Jesus sentia-se seguro no controle da situação e bem estabelecido na vida.
O consumismo concentra-se no poder da escolha pessoal do cliente, e as pessoas gostam do sentimento de escolher e comprar. De alguma forma, nos sentimos seguros e confortáveis adquirindo bens. Gostamos de sentir este poder. Não é apenas o fato de nossas necessidades materiais serem supridas, a grande questão é o poder de escolher que nos fascina e seduz. Ser capaz de escolher o que queremos é uma de nossas formas de expressão, e as pessoas sentem muito prazer nisto.
As empresas perceberam que não são apenas as coisas materiais que trazem contentamento, mas que a sensação de poder é a principal responsável pela alegria que as pessoas sentem quando compram algo. Portanto, um dos componentes eficazes do consumismo é o prazer por meio do poder. Quando entramos em uma loja e mostramos nossos cartões de crédito, fazemos com que os vendedores e atendentes se tornem nossos servos. Somos patrões, e sentimo-nos como deuses. E esta sensação de ser um deus nos é bastante atraente desde o Éden quando a serpente seduziu a mulher com a seguinte proposta: “sereis como deuses”. (Gn.3:5) No sistema capitalista, o consumidor pode ter qualquer coisa que seja o seu objeto de desejo. Com o sistema de cartão de crédito, o consumidor é tentado a gastar um dinheiro que ainda não recebeu. Sendo assim, podemos pensar no consumismo como um novo evangelho, a “boa-nova secular”. Podemos defini-lo, grosso modo, da seguinte maneira: “Consumismo é aquela promessa de felicidade oferecida pelos bens materiais que se capitaliza no prazer de escolha do consumidor”.
O consumismo apresenta-se como um método para alcançar a felicidade, e isto é um sucesso, afinal, o que o homem mais deseja é a felicidade. A grande questão a ser observada é o fato de que, biblicamente, a nossa felicidade só será encontrada em Deus. Na primeira carta escrita ao jovem Timóteo, o apóstolo Paulo encoraja os ricos a não depositar a sua esperança nas riquezas, mas em Deus. Na sua epístola aos crentes de Roma, o mesmo apóstolo afirma que a tendência natural do homem longe de Deus é de adorar a criatura – as coisas materiais – ao invés do Criador. Ao agir assim, o homem muda a ordem da criação, pecando contra Deus.
É claro que todos nós temos de consumir coisas para viver, contudo, parece que estamos caminhando na direção de uma sociedade que vive para consumir. Sendo assim, qual deve ser a postura do cristão neste mundo capitalista que adora o deus-consumismo?
Surpreendentemente, não devemos ser totalmente contrários. Devemos perceber que o cristianismo é uma religião materialista. Ao contrário de alguns heréticos que diziam “Não se case, não toque neste alimento” (I Tm. 4), porque acreditavam que as coisas materiais eram más, nós acreditamos que o mundo material foi criado por Deus, e, portanto, há algo de bom neste mundo criado por Deus. Na encarnação, o próprio Deus assumiu a forma física. Sendo assim, devemos ser cuidadosos quanto à nossa forma de lidar com a questão dos bens. Não devemos ser totalmente negativos com relação a isto.
O grande problema a ser percebido é o fato de que uma vez que o consumismo molda os nossos pontos de vista, ele afeta a nossa espiritualidade. O modo como o consumismo modela o caráter das pessoas não corresponde necessariamente ao modo como Cristo, no evangelho, quer que o nosso caráter seja moldado. Por exemplo, numa sociedade acostumada com o cartão de crédito que nos diz que podemos ter aquilo que desejarmos já, neste instante, como uma pessoa aprende sobre a graça cristã da paciência? Além disso, o consumismo nos afasta do foco! Embora muitos aspectos do consumismo não sejam necessariamente errados, eles nos desviam do nosso foco, do nosso alvo, dos nossos objetivos como cristãos.
Repito, nada há de errado com o mundo material, no entanto, os cristãos estão sendo levados cada vez mais a adorar as coisas criadas. É provável que a nossa alegria esteja alicerçada nas criaturas em vez de firmadas no Criador Muitos de nós se tornaram mais amantes dos prazeres do que de Deus (II Tm. 3:4). Talvez não haja nada de errado com certas coisas que podemos comprar, no entanto, a vida fica tumultuada e absorvida por coisas, atividades, diversão e tudo o mais que achamos tempo para fazer. Nossa vida cristã é contaminada, não necessariamente por grandes corrupções, mas por assuntos triviais. Em linguagem antiga, acabamos nos tornando mundanos. Nós, cristãos, jamais deveríamos nos esquecer da advertência bíblica de que os filhos de Israel assimilaram a cultura dos povos vizinhos e o Exílio foi o resultado. Também não deveríamos desprezar o fato de que os humanistas seculares podem desprezar a fé de uma igreja confortável; no entanto, é mais difícil escarnecer da fé de uma Madre Teresa.

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