segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Barão de Itararé


O humor é uma arma muito importante em lutas políticas. Ele é um recurso utilizado para enfraquecer a posição dos adversários. Este método é utilizado desde a Antiguidade. Os mestres da retórica ensinavam que não existia nada melhor do que a zombaria e a ironia para minar os argumentos dos oponentes. Apresentar um líder em traços ridículos ante o público é uma forma de desacreditá-lo e desmoralizá-lo. É por isso que a caricatura é uma arma de ataque. Na mordacidade ela revela sua força.
Jornalista, poeta satírico, autor de frases que entraram para a história do humor – “O fígado faz muito mal à bebida”, “A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda” e muitas outras – Aparício Torelly, o barão de Itararé (1895-1971), não perdia a fleuma nem nos momentos mais difíceis da vida. Em 1934, era um dos redatores do Jornal do Povo, que por sinal só durou dez dias. O jornal publicava, em fascículos, a história do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibatada, de 1910 (assunto tabu para a Marinha brasileira). Certo dia, um grupo de homens não identificados – cogitou-se que eram militares – seqüestrou e espancou impiedosamente o humorista. O que fez Torelly? Um manifesto indignado condenando a truculência de que foi vítima? Nada disso. Apenas escreveu numa placa os dizeres “Entre sem bater” e afixou-a à porta da redação. Nunca houve, na história da imprensa, um ato de protesto tão elegante e bem-humorado.
Conta-se ainda que no Curso de Medicina, onde estudou Torelly, o professor se dirigiu ao aluno e perguntou:
-Quantos rins nós temos?
-Quatro! - Responde o aluno.
-Quatro? - Replicou o professor, arrogante, daqueles que sentem prazer em tripudiar sobre os erros dos alunos.
-Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala. - ordenou o professor a seu auxiliar.
-E para mim um cafezinho! - Replicou o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
-O senhor me perguntou quantos rins 'nós temos'. 'Nós' temos quatro: Dois meus e dois seus. 'Nós' é uma expressão usada para o plural. Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.
Usando o humor, Torelly ensinou àquele professor e a todos que lêem esta história que às vezes a vida exige muito mais compreensão do que conhecimento! Às vezes as pessoas, por terem um pouco a mais de conhecimento ou 'acreditarem' que o tem, se acham no direito de subestimar os outros.
E haja capim!

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