quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Piedade Não Substitui a Mensagem

Certa vez Francisco de Assis convidou um jovem monge para acompanhá-lo a uma aldeia com a intenção de ali pregar o evangelho. Chegando ao local, eles encontraram muitas doenças e grande pobreza. O empenho deles em aliviar aquelas doenças os manteve ocupados o dia inteiro. Ao entardecer o jovem monge perguntou a Francisco de Assis: “Quando vamos começar a pregar?” E Francisco respondeu: “Estivemos pregando o dia inteiro”.
Francisco estava enganado! Atos de misericórdia não podem ser igualados a pregação da Palavra de Deus! Manifestações de piedade não são substitutos da exposição das Escrituras! Quando Jesus enviou os apóstolos às ovelhas perdidas da casa de Israel, Ele os disse o seguinte: “Pregai que está próximo o reino de Deus. Curai os enfermos”. (Mt. 10:7,8) Deveriam não só curar, mas principalmente pregar. A pregação era a principal tarefa! E eles obedeceram: “Percorriam as aldeias, anunciando o evangelho e efetuando curas por toda parte”. (Lc. 9:6) Quem conhece a vida, o ministério e os escritos do apóstolo Paulo, sabe muito bem que ele sempre subordinou os atos de cura à pregação da Palavra de Deus.
Muitos têm caído neste erro sutil ao afirmar que a piedade e o viver santo podem ser substitutos da pregação da Palavra de Deus. Conquanto o nosso exemplo, a nossa vida e a nossa conduta sejam importantíssimas, não é o nosso santo viver ou a nossa conduta irrepreensível que irá transformar a vida das pessoas. Podemos cair na tolice de acreditar e defender a ideia de que apenas a nossa moralidade basta para alcançarmos o coração das pessoas com evangelho.
O conteúdo do evangelho não vem pela observação. O nosso estilo de vida não substitui a mensagem pregada. As principais doutrinas da fé cristã não são ensinadas pela observação das pessoas. A palavra que produz vida precisa ser anunciada com os nossos lábios. O nosso exemplo moral não é desculpa para deixarmos de anunciar o evangelho. A fé no coração das pessoas vem pelo ouvir a pregação da Palavra de Deus.
O maior e principal instrumento de Deus no convencimento do pecador sempre foi, é, e sempre será, a exposição das Escrituras. Isto é tão interessante que existem dezenas de casos onde o pregador está em grande pecado e, mesmo assim, a vida de muitas pessoas é abençoada através da sua pregação. Isto acontece porque o poder não está no mensageiro, mas na mensagem. É o evangelho e não o evangelista que é o poder de Deus para transformar o homem.
Ao contrário do que muitos pensam, Deus pode, em sua soberania, usar pessoas ímpias para a pregação da sua Palavra, e ainda assim fazer com que esta pregação produzir grandes frutos. Deus utilizou-se do perverso Balaão para anunciar uma importante profecia. O ímpio Caifás deu testemunho da expiação de Jesus Cristo, e Judas foi um dos doze enviados por Jesus para pregar o evangelho.
Se aprouver ao Senhor, Ele usará quem bem entender na propagação da sua Palavra. Alguém pode argumentar o seguinte: “Mas pastor, então por que é que o apóstolo Paulo nos ordena a “vivermos vidas santas no meio de uma geração incrédula e corrupta?”A “sermos luzeiros num mundo que está completamente em trevas?”A “vivermos de forma irrepreensível, como exemplo aos demais?”(Fp. 2:15) A ordem paulina para sermos irrepreensíveis é para que a mensagem que proclamamos não encontre barreiras na sua aceitação por parte das pessoas, não encontre nenhuma resistência por parte daqueles que irão nos ouvir. A ordem paulina para sermos irrepreensíveis em nosso viver não é para que o evangelho ganhe autenticidade, mas para que ele ganhe credibilidade. O evangelho continua sendo poderoso a despeito daqueles que o pregam. O evangelho continua sendo o poder de Deus, mesmo que um ladrão, um adúltero, ou seja lá quem for, o anuncie. A credibilidade pode ficar comprometida, mas nunca a autenticidade!
Certamente que as pessoas terão uma dificuldade maior em crer no evangelho se ele for anunciado por um bandido. Mas se a mensagem pregada por este bandido for a genuína mensagem da Palavra de Deus, ela deixou de ser verdadeira? Ela perdeu o seu poder? O poder da mensagem não é anulado se aquele que a anuncia não é moralmente correto. Certa vez perguntaram a um grande pastor e escritor que caiu em adultério: “O que fazemos agora com os seus livros?”. Ele respondeu: “Continuem lendo, as verdades não são minhas, são de Deus”.
O que desejo enfatizar é que conquanto a Bíblia nos exorte a sermos irrepreensíveis em nosso viver, isto acontece primeiramente porque Deus ordena a nossa santificação, mas também porque um correto viver facilita a proclamação da mensagem. A Bíblia não nos ordena viver de forma correta para que o evangelho ganhe autenticidade. Portanto, aqueles que julgam o evangelho baseados nos seus seguidores, estão equivocados. Não é a vida dos cristãos que dá validade ao cristianismo, o cristianismo é verdadeiro e poderoso por si só! Não é a vida dos filhos de Deus que faz de Deus um Deus maior ou menor. Deus é Deus e ponto final! Gandhi estava equivocado quando afirmou: “Eu teria me tornado cristão se não fossem os cristãos”. Ele pode (e deve) criticar os cristãos, mas jamais o cristianismo! Não é correto, como diz o pensamento: “Desprezar uma verdade por causa da sua fonte”. Tudo isto nos mostra que a piedade não substitui a mensagem proclamada. Não estou desprezando a necessidade de vivermos de maneira correta. Isto é importantíssimo! Isto é ordem bíblica! É este correto viver que abre as portas para o anúncio do evangelho. Contudo, vida piedosa e conduta exemplar não podem tomar o lugar da proclamação do Evangelho.

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