Quando leio o que alguns escritores redigiram, penso que escrever é fácil. Fico impressionado com a capacidade de determinadas pessoas de transmitirem as suas ideias no papel. Poucas coisas me deixam tão fascinado como um bom livro, um grande artigo, uma resenha bem feita. Ao me deparar com as palavras de alguns gênios da caneta, sou levado a dizer o que disse Milton Nascimento em sua música Certa canções: “Certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: Como não fui eu que fiz?!"
Escrever não é fácil! Carlos Drummond de Andrade dizia que “A escolha das palavras adequadas é uma renhida batalha, muitas vezes inglória, que tem início mal rompe a manhã.” Certamente que não foi Drummond, mas existe um escritor que resolveu guardar o texto inacabado na gaveta até descobrir, quase dois anos depois, a palavra que faltava para transmitir com clareza sua idéia e pingar o ponto final no manuscrito. Otto Lara Rezende corrigia e modificava seus escritos exaustivamente. Mesmo depois de publicados, ele revisava seus livros. A conseqüência disto é que seus livros tiveram várias edições revistas. Jorge Luís Borges afirmava que um autor publica seu livro para livrar-se dele.
Ainda citando grandes escritores que revelaram a sua angústia e dificuldade com esta arte, lembro-me de Mark Twain quando afirmou que: "A diferença entre a palavra quase certa e a palavra certa é realmente muito grande: é a diferença entre um vaga-lume e um relâmpago". Philip Roth em “O Escritor fantasma”, afirmou o seguinte: “Eu viro frases do avesso. Essa é a minha vida. Escrevo uma fase e depois a viro do avesso. Em seguida, olho e viro-a novamente. Depois vou almoçar. Mais tarde, volto e escrevo outra frase. Em seguida, tomo um chá e viro a nova frase do avesso. Depois releio as duas frases e as viro. Aí, deito-me no sofá e fico pensando. E, então, me levanto, jogo as frases fora e começo tudo de novo.” E, por fim, o grande Henry Nouwen: “A maioria dos estudantes pensa que escrever é colocar idéias, insights e visões no papel. Acham que, primeiramente, precisam ter alguma coisa a dizer antes que possam efetivamente escrevê-la. Para eles, escrever é um pouco mais do que registrar um pensamento preexistente. Porém, com esta abordagem, o verdadeiro ato de escrever torna-se impossível. Escrever é um processo no qual descobrimos aquilo que vive dentro de nós. O próprio escrever revela o que está vivo. A mais profunda satisfação ao escrever é exatamente que este ato abre novos espaços dentro de nós dos quais não tínhamos consciência antes de começar a escrever. Escrever é embaraçar numa jornada cujo destino final não sabemos”.
Conquanto seja trabalho árduo, escrever é algo que ajuda os escritores em sua solidão e angústia. Dizem que os escritores possuem a “síndrome do observador”. Gostam demasiadamente de observar todas as coisas ao seu redor. Por causa disto, escrever é um ato de extrema solidão. Os escritores constroem uma realidade artificial, habitada somente por eles, e que, normalmente parece mais real do que o mundo lá fora. O resultado é que os escritores possuem a tendência de se afastar da vida observando-a sem participar realmente dela.
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