O processo de descoberta da verdade começa com as leis auto-evidentes da lógica chamadas primeiros princípios. São chamados de primeiros princípios porque não existe nada por trás deles. Esses primeiros princípios são as ferramentas que usamos para descobrir todas as outras verdades. Sem eles, ninguém poderia aprender nenhuma outra coisa.
Para entender o que estamos dizendo, considere o seguinte argumento lógico:
1. Todos os homens são mortais.
2. João é um homem.
3. Portanto, João é mortal.
A conclusão necessariamente segue as premissas. Se todos os homens são mortais e se João é um homem, então João é mortal. Contudo, as leis da lógica não nos dizem se estas premissas são verdadeiras, o que comprometeria a conclusão. Talvez nem todos os homens sejam mortais. Talvez João não seja um homem. A lógica por si só não pode dizer nada disso. Esse ponto é facilmente entendido ao olharmos para um argumento válido que não é verdadeiro.
1. Todos os homens são répteis de quatro patas.
2. Antônio é um homem.
3. Portanto, Antônio é um réptil de quatro patas.
O argumento é válido porque a conclusão segue as premissas. Mas a conclusão é falsa porque a primeira premissa é falsa!
O que Norman Geisler e Frank Turek nos mostram é o fato de que um argumento pode ser logicamente correto, mas ainda ser falso, afinal, as premissas do argumento não correspondem à realidade. Portanto, a lógica nos leva somente até aqui. A lógica pode nos dizer que o argumento é falso, mas não pode dizer por si só quais premissas são verdadeiras. Como sabemos que João é um homem? Como sabemos que os homens são répteis de quatro patas? Precisamos de mais informações para descobrir estas verdades. Obtemos as informações com base na observação do mundo ao nosso redor e, então, tiramos conclusões gerais destas observações. Ao observar alguma coisa diversas vezes, você pode concluir que algum princípio geral é verdadeiro. Quando um objeto cai da mesa repetidas vezes, a conclusão a que se chega é que o objeto sempre cairá da mesa. Esse princípio de chegar a conclusões gerais a partir de observações específicas é chamado de indução. Este é o processo utilizado para descobrir se uma premissa em um argumento é verdadeira e válida. Este é considerado um método científico.
A maioria das conclusões baseadas na indução não pode ser considerada absolutamente certa, mas apenas altamente provável. Estamos completamente certos de que a gravidade faz todos os objetos caírem no chão? Se as conclusões indutivas não são seguras, podemos confiar nelas? Sim, mas com graus variáveis de certeza. A conclusão é praticamente correta, mas não é absolutamente certa. Podemos ter certeza com uma dúvida justificável, mas não certeza absoluta.
Um exemplo muito interessante citado por Norman Geisler e Frank Turek para nos ajudar a entender o que estamos falando é o seguinte: Não temos uma informação perfeita sobre o líquido que está dentro de um litro de leite. Imaginamos que ele possa ser ingerido e que não vai nos envenenar. Mas estamos 100% certos disso? Não! Confiamos em nossas experiências anteriores de beber o leite. Acreditamos que as pessoas que o produziram são pessoas sérias. Supomos que o que esteja dentro da caixa do leite não seja veneno. Contudo, não estamos completamente certos disto. Semelhantemente, não possuímos informação perfeita sobre o caráter das pessoas quem acabamos de conhecer. Depois de algum tempo de convivência, passamos a confiar nelas bem mais do que no começo. Contudo, estamos completamente certos de que elas são dignas de confiança? Nossa conclusão pode ser altamente provável, mas não é certa. Esse é o caso de muitas decisões que tomamos na vida.
Semelhantemente, nós usamos a indução para investigar Deus da mesma maneira que usamos a indução para investigar as outras coisas que não podemos ver, ou seja, observando seus efeitos. Não podemos observar a gravidade diretamente, podemos apenas observar os seus efeitos. Não podemos observar a mente humana diretamente, apenas os seus efeitos. Dos efeitos, fazemos uma inferência racional quanto à existência de uma causa.
Outro exemplo citado por Norman Geisler e Frank Turek é o da leitura de um livro. Por que acreditamos que um livro é efeito de uma mente humana? Porque todas as nossas experiências de observação nos dizem que um livro é um efeito que resulta apenas de uma inteligência preexistente, o escritor. Ninguém nunca viu o vento, a chuva ou outras forças naturais produzirem um livro. Você só viu até hoje pessoas, seres inteligentes produzem um livro. Apesar do fato de você não ter visto ninguém escrevendo um livro, você pode concluir que ele deve ter um autor inteligente capaz de escrever o que está ali. Ao assumir que um livro tem um autor, estamos colocando juntas a observação, a indução e a dedução.
Se fôssemos escrever tudo que acabamos de falar de maneira lógica, o argumento seria o seguinte:
1. Todos os livros têm um autor (premissa baseada na investigação indutiva)
2. “Deus é Soberano” é um livro (premissa baseada na observação)
3. Portanto, “Deus é Soberano” tem um autor (conclusão)
Portanto, o argumento é válido por causa da dedução, e é verdadeiro porque as premissas são verdadeiras. As premissas foram verificadas por meio da observação e da indução.
*Toda a argumentação deste artigo foi retirada do excelente livro “Não Tenho Fé Suficiente Para ser Ateu” de Norman Geisler e Frank Turek, publicado no Brasil pela Editora Vida.
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