“Ouvindo que Ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram”. (Evangelho de Marcos 9:11) Este verso desperta dois sentimentos no meu coração. Sentimentos opostos e que, aparentemente, não podem conviver ao mesmo tempo no mesmo coração: Consolo e medo.
Consolo pelo fato de que a fé dos discípulos era semelhante a minha: Fraca, oscilante, inconstante. A consolação vem do fato de que, apesar de possuírem uma fé fraca e inconstante, Deus usou aqueles homens no seu reino e para Sua glória. Isto significa que Ele também pode me usar! Isto significa que existe esperança para um coração que muitas vezes fraqueja em sua fé diante das lutas desta vida.
Medo pelo fato de que os discípulos não acreditaram em algo anunciado pelo próprio Jesus. Cristo anunciou várias vezes que iria ressuscitar e, mesmo assim, eles não acreditaram! O mesmo pode acontecer comigo: Descrer das promessas divinas. E quando eu não confio nas promessas de Deus, a ansiedade toma conta do meu coração, a preocupação torna-se um sentimento presente no meu dia-a-dia, todo o meu ser passa a conviver com o fantasma da depressão. Acabo sofrendo demasiadamente pelo fato de não confiar nas promessas de Deus
Esta dicotomia presente na alma humana – crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza – e que está implícita neste verso de Marcos, pode ser percebida na vida dos heróis da fé (Hb.11). O autor de Hebreus separa boa parte de seus escritos para falar de alguns homens que, segundo ele, foram grandes por causa da sua fé. Aqueles homens e mulheres não são heróis de uma guerra, de uma nação, de uma tribo, de um time. O destaque dado a eles não foi por aquilo que fizeram, mas pela fé que tiveram ao fazer o que fizeram. O elogio feito a cada um deles tem haver unicamente com a fé.
O autor de Hebreus celebra a fé dos nossos antepassados espirituais: Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé “conquistaram reinos, administraram a justiça e obtiveram as promessas”.
Sem dúvida que essas pessoas são especialmente dignas de louvor por sua atividade fiel no serviço ao Senhor. No entanto, as Escrituras não escondem nem camuflam os erros, desvios e desobediências desses homens. Noé embebedou-se e seu filho mais novo viu sua nudez; Abraão e Isaque mentiram para se proteger; Jacó enganou seu pai para ganhar o direito de primogenitura; Moisés não cumpriu corretamente as ordens de Deus, além de ser um assassino; Davi foi um adúltero e homicida. Então, percebam, os grandes heróis da fé também tinham seus pecados e dificuldades. E por mais incrível e irônico que possa parecer, uma das dificuldades desses homens era justamente a falta de fé. É isso mesmo! Os heróis da fé em algum momento de suas vidas, não tiveram fé!
Isto fica muito evidente na vida de Gideão que é citado pelo autor de Hebreus como um herói da fé. Um anjo, depois o próprio Senhor apareceu a Gideão para dizer-lhe que ele seria um poderoso guerreiro que libertaria os israelitas da opressão midianita. Diante da clara palavra divina, o que fez Gideão? Ele questionou a palavra de Deus. O Senhor então deu a Gideão um sinal, fogo saiu milagrosamente da rocha e consumiu o pão e a carne. Gideão foi temporariamente convencido por Deus através daquele milagre. Digo temporariamente, porque quando os midianitas vieram para atacar Israel, Gideão duvidou novamente daquilo que Deus já tinha lhe garantido.
Diante de sua dúvida e falta de fé, Gideão pediu mais um sinal a Deus provando que ele realmente seria o libertador de Israel. Ele colocou um pedaço de lã no chão e pediu a Deus que o molhasse sem molhar o solo em volta. O Senhor atendeu ao pedido de Gideão, mas sua fé ainda não acreditou no milagre. Gideão queria mais uma prova! Ele pediu que Deus fizesse o inverso, molhasse o chão e deixasse a lã completamente seca. O Senhor, mais uma vez foi paciente com Gideão e lhe atendeu ao pedido. Só então Gideão convenceu-se daquilo que Deus lhe tinha dito anteriormente. Só então Gideão acreditou na palavra de Deus.
Gideão, citado como exemplo de fé, colocado na galeria dos heróis da fé, em alguns momentos de sua vida, duvidou da palavra de Deus e teve dificuldades na sua fé. Foi preciso a presença de um anjo, do próprio Deus e de três milagres para convencer o herói da fé daquilo que Deus lhe tinha dado como certo que iria acontecer.
Os discípulos ouviram de Jesus várias vezes que Ele iria ressuscitar, mas mesmo assim, duvidaram! Crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza, esses sentimentos estão presentes mesmo na vida daqueles que são considerados grandes homens no reino de Deus!
Outro herói da fé que tem muito a nos ensinar com a sua vida é Abraão, considerado e chamado de o “pai da fé”. Deus apareceu a Abraão e lhe disse que ele seria o pai de uma grande nação. Abraão creu em Deus, contudo, em vez de esperar com paciência um filho de sua esposa, ele dormiu com sua serva, e concebeu um filho que não era o filho da promessa.
Quando Deus apareceu para censurar esta atitude de Abraão e lhe dizer que o filho da promessa nasceria de Sara, ambos, Abraão e Sara, deram uma risada irônica de descrença da palavra de Deus. Deus então ordenou que o nome da criança fosse “Isaque” que significa “ele ri”. Talvez para que Abarão sempre que falasse o nome do filho, lembrasse que ninguém deve rir, ironizar ou descrer da promessa de Deus. Apesar de tudo isto, Abraão é modelo de fé, pelo seu comportamento quando Deus ordenou que ele sacrificasse Isaque.
Foi por passar por aquele terrível teste de fé que Abraão foi mencionado em Hebreus 11. A experiência pela qual Abraão passou no Monte Moriá nos mostra a incrível dificuldade de se confiar em Deus. Infelizmente, por conhecermos o desfecho, a história perde a sua força. Por estarmos familiarizados com o que aconteceu, a história perde um pouco de sua relevância. Nós temos um privilégio que Abraão não teve, nós sabemos qual é o final da história. Abraão não tinha a mínima noção de que Deus iria enviar um cordeiro para ser sacrificado. Sendo assim, coloque-se no lugar de Abraão ao ouvir a ordem de Deus para sacrificar seu único filho: A história surge como tragédia de proporções inimagináveis!
Quais foram os pensamentos que passaram pela mente de Abraão durante os três dias de viagem até o Monte Moriá? Quais foram as explicações que ele deu a sua mulher, aos servos, e depois, ao próprio Isaque? Quantas vezes ele não pensou em desistir? Quantas vezes ele não questionou este mandamento de Deus? Quantas vezes ele não suplicou a Deus para que esta ordem fosse deixada de lado? Quantas vezes ele não se perguntou se tinha entendido corretamente a ordem de Deus? Diante de todas estas questões, sentimentos e inseguranças, Abraão passou pelo dilema moral entre o amor pelo filho e o dever para com Deus. Certamente que ele sofria, ele estava angustiado, apavorado, temeroso, contudo, ele permaneceu obediente àquilo que Deus tinha lhe ordenado.
Mas por que Abraão persistiu? O autor de Hebreus nos oferece a resposta. E é exatamente aqui que vemos a fé de Abraão: “Pela fé, Abraão ao ser provado, ofereceu Isaque. Aquele que havia recebido as promessas ofereceu o seu unigênito, embora Deus lhe tivesse dito: Em Isaque será chamada a tua descendência. Abraão julgou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar”. (Hb. 11:17-19)
Abraão acreditou no improvável, no inimaginável, naquilo que não fazia sentido, naquilo que era incrível. Ele acreditava que ao oferecer Isaque, ele o receberia de volta. Apesar de anteriormente ter falhado diante de algumas provas, desta vez, o grande patriarca ao ser testado com o sacrifício de seu filho, confiou em Deus.
Abraão creu na aparente contradição de que ele mataria seu filho, mas o teria de volta. Este é o grande teste da fé: Continuar sonhando mesmo diante das aparentes impossibilidades; crer quando tudo nos leva a descrer; acreditar no que fere o senso comum, no que extrapola as categorias do explicável e plausível; crer contra as evidências, provas e probabilidades.
A grande questão a ser percebida no exemplo de Abraão é que ele não tinha certeza de que Deus iria ressuscitar o seu filho, ele tinha fé e nada mais. O grande patriarca não tinha evidências confiáveis de que Deus lhe daria o filho de volta, ele tinha fé e nada mais. O “Pai da fé” não poderia garantir que seu filho voltaria a vida depois do sacrifício, ele tinha fé e nada mais.
Abraão nos mostra que a fé não é uma garantia de que as coisas realmente acontecerão como desejamos ou planejamos. A fé muitas vezes navega num mar de incertezas, num oceano de inseguranças, num mundo de dúvidas. Não é sempre que temos a certeza de que Deus irá realmente fazer aquilo que oramos e pedimos, virá sobre as nossas vidas livrando-nos dos nossos problemas e dificuldades, nos libertará daquela situação opressora.
Enquanto estivermos neste mundo, o nosso relacionamento com Deus será marcado por dúvidas e incertezas. É neste momento que carecemos de ter uma fé como a de Abraão. Uma fé que não entende os caminhos de Deus, que não compreende o porquê de Deus fazer determinadas coisas, que não sabe explicar os desígnios e propósitos divinos. Uma fé que mesmo diante destas questões, prefere confiar em Deus e fazer aquilo que Ele ordenou fazer. Jó compreendeu perfeitamente esta fé e afirmou: “Ainda que ele me mate, nele eu confiarei”.
O que desejo enfatizar é que assim como Abraão, Gideão, os heróis da fé e os discípulos, eu e você não teremos uma fé forte o tempo todo! Nossa fé, em alguns momentos de nossa vida irá fraquejar! Como já disse anteriormente, cremos, mas temos medo, cremos, mas não estamos seguros quanto ao que desejamos, cremos, mas achamos que não merecemos tamanha graça, cremos, mas ainda somos incrédulos.
Ao contrário do que muitos pensam, é possível estar comprometido com Jesus mesmo diante da incerteza. Pense nos discípulos de Jesus que ficaram com Ele enquanto outros abandonaram o Messias. Os discípulos que ficaram, o fizeram porque a razão os persuadiu que Jesus era o Cristo? Eles permaneceram porque suas dúvidas intelectuais foram todas dissipadas? Eles insistiram em caminhar com Jesus porque viram, ouviram e aprenderam todas as coisas? Não! Absolutamente não! Eles ficaram com Cristo e continuaram a crer, apesar de muitas perguntas profundas que permaneceram sem resposta! Quando Jesus perguntou-lhes se eles também queriam ir, Pedro respondeu: “Para onde iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. (Jo. 6:68)
Em 1987 os alunos de uma faculdade cristã nos EUA debateram se Bono Vox, cantor do grupo U2, era realmente cristão. Bono, em várias ocasiões professou sua fé e muitas músicas que ele compôs falam da fé cristã. Contudo, o debate surgiu porque numa de suas músicas, Bono afirma o seguinte: “Ainda não achei o que procuro”. Os estudantes interpretaram esta frase como uma negação da fé.
Abraão, Gideão, os discípulos, Bono, eu e você ainda não achamos respostas para muitas perguntas que procuramos. E tem mais, assim como eles, nós iremos partir deste mundo sem as respostas que tanto gostaríamos de ouvir. O Autor de Hebreus afirma que alguns heróis da fé: “Não alcançaram as promessas. Viram-nas de longe, e saudaram-nas. E confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra, mas desejam uma pátria melhor, isto é: celestial”. (Hb.11:13,16)
Muitas respostas e promessas de Deus não serão recebidas nesta vida. Muitos heróis da fé não viram a promessa sendo cumprida, eles aguardaram e não viram! Mas esta é a grande questão da fé: Mesmo que eu não entenda, eu confio; mesmo que eu não receba, eu confio; mesmo que eu não seja abençoado, eu confio. “Mesmo que ele me mate, nele eu confiarei”.
Todas estas questões me mostram que a verdadeira fé não é algo embalado, empacotado, pronto para se abrir e usar. A fé, como disse Kierkegaard, é tarefa para a vida inteira, não é algo que se adquire em semanas ou meses. A fé como deixou claro o autor de Hebreus é uma jornada, uma peregrinação para receber aquilo que é prometido por Deus. É um anseio, uma esperança, um desejo de viajar até o fim e ao chegar lá, encontrar o Autor da fé esperando por você.
Consolo pelo fato de que a fé dos discípulos era semelhante a minha: Fraca, oscilante, inconstante. A consolação vem do fato de que, apesar de possuírem uma fé fraca e inconstante, Deus usou aqueles homens no seu reino e para Sua glória. Isto significa que Ele também pode me usar! Isto significa que existe esperança para um coração que muitas vezes fraqueja em sua fé diante das lutas desta vida.
Medo pelo fato de que os discípulos não acreditaram em algo anunciado pelo próprio Jesus. Cristo anunciou várias vezes que iria ressuscitar e, mesmo assim, eles não acreditaram! O mesmo pode acontecer comigo: Descrer das promessas divinas. E quando eu não confio nas promessas de Deus, a ansiedade toma conta do meu coração, a preocupação torna-se um sentimento presente no meu dia-a-dia, todo o meu ser passa a conviver com o fantasma da depressão. Acabo sofrendo demasiadamente pelo fato de não confiar nas promessas de Deus
Esta dicotomia presente na alma humana – crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza – e que está implícita neste verso de Marcos, pode ser percebida na vida dos heróis da fé (Hb.11). O autor de Hebreus separa boa parte de seus escritos para falar de alguns homens que, segundo ele, foram grandes por causa da sua fé. Aqueles homens e mulheres não são heróis de uma guerra, de uma nação, de uma tribo, de um time. O destaque dado a eles não foi por aquilo que fizeram, mas pela fé que tiveram ao fazer o que fizeram. O elogio feito a cada um deles tem haver unicamente com a fé.
O autor de Hebreus celebra a fé dos nossos antepassados espirituais: Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé “conquistaram reinos, administraram a justiça e obtiveram as promessas”.
Sem dúvida que essas pessoas são especialmente dignas de louvor por sua atividade fiel no serviço ao Senhor. No entanto, as Escrituras não escondem nem camuflam os erros, desvios e desobediências desses homens. Noé embebedou-se e seu filho mais novo viu sua nudez; Abraão e Isaque mentiram para se proteger; Jacó enganou seu pai para ganhar o direito de primogenitura; Moisés não cumpriu corretamente as ordens de Deus, além de ser um assassino; Davi foi um adúltero e homicida. Então, percebam, os grandes heróis da fé também tinham seus pecados e dificuldades. E por mais incrível e irônico que possa parecer, uma das dificuldades desses homens era justamente a falta de fé. É isso mesmo! Os heróis da fé em algum momento de suas vidas, não tiveram fé!
Isto fica muito evidente na vida de Gideão que é citado pelo autor de Hebreus como um herói da fé. Um anjo, depois o próprio Senhor apareceu a Gideão para dizer-lhe que ele seria um poderoso guerreiro que libertaria os israelitas da opressão midianita. Diante da clara palavra divina, o que fez Gideão? Ele questionou a palavra de Deus. O Senhor então deu a Gideão um sinal, fogo saiu milagrosamente da rocha e consumiu o pão e a carne. Gideão foi temporariamente convencido por Deus através daquele milagre. Digo temporariamente, porque quando os midianitas vieram para atacar Israel, Gideão duvidou novamente daquilo que Deus já tinha lhe garantido.
Diante de sua dúvida e falta de fé, Gideão pediu mais um sinal a Deus provando que ele realmente seria o libertador de Israel. Ele colocou um pedaço de lã no chão e pediu a Deus que o molhasse sem molhar o solo em volta. O Senhor atendeu ao pedido de Gideão, mas sua fé ainda não acreditou no milagre. Gideão queria mais uma prova! Ele pediu que Deus fizesse o inverso, molhasse o chão e deixasse a lã completamente seca. O Senhor, mais uma vez foi paciente com Gideão e lhe atendeu ao pedido. Só então Gideão convenceu-se daquilo que Deus lhe tinha dito anteriormente. Só então Gideão acreditou na palavra de Deus.
Gideão, citado como exemplo de fé, colocado na galeria dos heróis da fé, em alguns momentos de sua vida, duvidou da palavra de Deus e teve dificuldades na sua fé. Foi preciso a presença de um anjo, do próprio Deus e de três milagres para convencer o herói da fé daquilo que Deus lhe tinha dado como certo que iria acontecer.
Os discípulos ouviram de Jesus várias vezes que Ele iria ressuscitar, mas mesmo assim, duvidaram! Crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza, esses sentimentos estão presentes mesmo na vida daqueles que são considerados grandes homens no reino de Deus!
Outro herói da fé que tem muito a nos ensinar com a sua vida é Abraão, considerado e chamado de o “pai da fé”. Deus apareceu a Abraão e lhe disse que ele seria o pai de uma grande nação. Abraão creu em Deus, contudo, em vez de esperar com paciência um filho de sua esposa, ele dormiu com sua serva, e concebeu um filho que não era o filho da promessa.
Quando Deus apareceu para censurar esta atitude de Abraão e lhe dizer que o filho da promessa nasceria de Sara, ambos, Abraão e Sara, deram uma risada irônica de descrença da palavra de Deus. Deus então ordenou que o nome da criança fosse “Isaque” que significa “ele ri”. Talvez para que Abarão sempre que falasse o nome do filho, lembrasse que ninguém deve rir, ironizar ou descrer da promessa de Deus. Apesar de tudo isto, Abraão é modelo de fé, pelo seu comportamento quando Deus ordenou que ele sacrificasse Isaque.
Foi por passar por aquele terrível teste de fé que Abraão foi mencionado em Hebreus 11. A experiência pela qual Abraão passou no Monte Moriá nos mostra a incrível dificuldade de se confiar em Deus. Infelizmente, por conhecermos o desfecho, a história perde a sua força. Por estarmos familiarizados com o que aconteceu, a história perde um pouco de sua relevância. Nós temos um privilégio que Abraão não teve, nós sabemos qual é o final da história. Abraão não tinha a mínima noção de que Deus iria enviar um cordeiro para ser sacrificado. Sendo assim, coloque-se no lugar de Abraão ao ouvir a ordem de Deus para sacrificar seu único filho: A história surge como tragédia de proporções inimagináveis!
Quais foram os pensamentos que passaram pela mente de Abraão durante os três dias de viagem até o Monte Moriá? Quais foram as explicações que ele deu a sua mulher, aos servos, e depois, ao próprio Isaque? Quantas vezes ele não pensou em desistir? Quantas vezes ele não questionou este mandamento de Deus? Quantas vezes ele não suplicou a Deus para que esta ordem fosse deixada de lado? Quantas vezes ele não se perguntou se tinha entendido corretamente a ordem de Deus? Diante de todas estas questões, sentimentos e inseguranças, Abraão passou pelo dilema moral entre o amor pelo filho e o dever para com Deus. Certamente que ele sofria, ele estava angustiado, apavorado, temeroso, contudo, ele permaneceu obediente àquilo que Deus tinha lhe ordenado.
Mas por que Abraão persistiu? O autor de Hebreus nos oferece a resposta. E é exatamente aqui que vemos a fé de Abraão: “Pela fé, Abraão ao ser provado, ofereceu Isaque. Aquele que havia recebido as promessas ofereceu o seu unigênito, embora Deus lhe tivesse dito: Em Isaque será chamada a tua descendência. Abraão julgou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar”. (Hb. 11:17-19)
Abraão acreditou no improvável, no inimaginável, naquilo que não fazia sentido, naquilo que era incrível. Ele acreditava que ao oferecer Isaque, ele o receberia de volta. Apesar de anteriormente ter falhado diante de algumas provas, desta vez, o grande patriarca ao ser testado com o sacrifício de seu filho, confiou em Deus.
Abraão creu na aparente contradição de que ele mataria seu filho, mas o teria de volta. Este é o grande teste da fé: Continuar sonhando mesmo diante das aparentes impossibilidades; crer quando tudo nos leva a descrer; acreditar no que fere o senso comum, no que extrapola as categorias do explicável e plausível; crer contra as evidências, provas e probabilidades.
A grande questão a ser percebida no exemplo de Abraão é que ele não tinha certeza de que Deus iria ressuscitar o seu filho, ele tinha fé e nada mais. O grande patriarca não tinha evidências confiáveis de que Deus lhe daria o filho de volta, ele tinha fé e nada mais. O “Pai da fé” não poderia garantir que seu filho voltaria a vida depois do sacrifício, ele tinha fé e nada mais.
Abraão nos mostra que a fé não é uma garantia de que as coisas realmente acontecerão como desejamos ou planejamos. A fé muitas vezes navega num mar de incertezas, num oceano de inseguranças, num mundo de dúvidas. Não é sempre que temos a certeza de que Deus irá realmente fazer aquilo que oramos e pedimos, virá sobre as nossas vidas livrando-nos dos nossos problemas e dificuldades, nos libertará daquela situação opressora.
Enquanto estivermos neste mundo, o nosso relacionamento com Deus será marcado por dúvidas e incertezas. É neste momento que carecemos de ter uma fé como a de Abraão. Uma fé que não entende os caminhos de Deus, que não compreende o porquê de Deus fazer determinadas coisas, que não sabe explicar os desígnios e propósitos divinos. Uma fé que mesmo diante destas questões, prefere confiar em Deus e fazer aquilo que Ele ordenou fazer. Jó compreendeu perfeitamente esta fé e afirmou: “Ainda que ele me mate, nele eu confiarei”.
O que desejo enfatizar é que assim como Abraão, Gideão, os heróis da fé e os discípulos, eu e você não teremos uma fé forte o tempo todo! Nossa fé, em alguns momentos de nossa vida irá fraquejar! Como já disse anteriormente, cremos, mas temos medo, cremos, mas não estamos seguros quanto ao que desejamos, cremos, mas achamos que não merecemos tamanha graça, cremos, mas ainda somos incrédulos.
Ao contrário do que muitos pensam, é possível estar comprometido com Jesus mesmo diante da incerteza. Pense nos discípulos de Jesus que ficaram com Ele enquanto outros abandonaram o Messias. Os discípulos que ficaram, o fizeram porque a razão os persuadiu que Jesus era o Cristo? Eles permaneceram porque suas dúvidas intelectuais foram todas dissipadas? Eles insistiram em caminhar com Jesus porque viram, ouviram e aprenderam todas as coisas? Não! Absolutamente não! Eles ficaram com Cristo e continuaram a crer, apesar de muitas perguntas profundas que permaneceram sem resposta! Quando Jesus perguntou-lhes se eles também queriam ir, Pedro respondeu: “Para onde iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. (Jo. 6:68)
Em 1987 os alunos de uma faculdade cristã nos EUA debateram se Bono Vox, cantor do grupo U2, era realmente cristão. Bono, em várias ocasiões professou sua fé e muitas músicas que ele compôs falam da fé cristã. Contudo, o debate surgiu porque numa de suas músicas, Bono afirma o seguinte: “Ainda não achei o que procuro”. Os estudantes interpretaram esta frase como uma negação da fé.
Abraão, Gideão, os discípulos, Bono, eu e você ainda não achamos respostas para muitas perguntas que procuramos. E tem mais, assim como eles, nós iremos partir deste mundo sem as respostas que tanto gostaríamos de ouvir. O Autor de Hebreus afirma que alguns heróis da fé: “Não alcançaram as promessas. Viram-nas de longe, e saudaram-nas. E confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra, mas desejam uma pátria melhor, isto é: celestial”. (Hb.11:13,16)
Muitas respostas e promessas de Deus não serão recebidas nesta vida. Muitos heróis da fé não viram a promessa sendo cumprida, eles aguardaram e não viram! Mas esta é a grande questão da fé: Mesmo que eu não entenda, eu confio; mesmo que eu não receba, eu confio; mesmo que eu não seja abençoado, eu confio. “Mesmo que ele me mate, nele eu confiarei”.
Todas estas questões me mostram que a verdadeira fé não é algo embalado, empacotado, pronto para se abrir e usar. A fé, como disse Kierkegaard, é tarefa para a vida inteira, não é algo que se adquire em semanas ou meses. A fé como deixou claro o autor de Hebreus é uma jornada, uma peregrinação para receber aquilo que é prometido por Deus. É um anseio, uma esperança, um desejo de viajar até o fim e ao chegar lá, encontrar o Autor da fé esperando por você.
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