O milho produz conforme é tratado. Se lhe retiro amido, dá maisena; se frito dá pipoca; se cozinho ou asso é com para comer; se não serve para mais nada, é bom para os cavalos e as galinhas.
Mas, o milho só produz se for tratado como é devido, na hora certa. E a cada espécie só posso pedir o que pode dar. Milho comum não dá pipoca. Milho de pipoca não serve para fazer curau.
Se não cozinho o milho verde, enquanto está verde, ele fica duro. Se frito o milho verde ele não dá pipoca.
Se colho o sabugo antes de crescer, ele não serve.
Até que o milho fique como quero, como precisa, preciso cuidar dele, dar-lhe o que precisa.
Desta forma, preciso aprender algumas verdades da vida humana com o milho. Precisamos ajudar aos outros a produzir, a crescer, a se realizar.
Contudo, é necessário entender que não podemos pedir a pessoa imatura que seja madura no tempo que nós desejamos. Como o milho, ela tem o seu tempo certo de amadurecer.
Precisamos dar-lhe o que precisa para desenvolver-se.
Precisamos exigir das pessoas conforme as suas habilidades.
Precisamos entender que se alguém está doente, precisamos ter paciência e dar-lhe o que é preciso para se recuperar, e, a partir daí produzir.
Precisamos conhecer a espécie de cada um, o seu grau de maturação, as suas necessidades, conforme precisa, na hora que precisa. E desta forma, amaremos as pessoas verdadeiramente, ajudando-as a desabrochar.
A pipoca é um milho mirrado e subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sob o fogo, esperando assim que os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente, os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles; os grãos duros, quebra-dentes, se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem.
Na simbologia cristã, o milagre do milho de pipoca pode ser representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser do outro.
Em Minas Gerais todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não podem existir outra coisa mais maravilhosa do que o jeito de ser delas. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida, perde-la-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. O seu destino é o lixo.
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