quarta-feira, 25 de agosto de 2010

“Bem-aventurados os Mansos”

     Na medida em que vão sendo enunciadas, as bem-aventuranças ficam mais difíceis de serem praticadas. Isto acontece pelo fato de que a partir daqui, passamos a nos relacionar com o próximo. As duas primeiras bem-aventuranças dizem respeito ao nosso relacionamento particular com Deus, esta terceira nos mostra como devemos nos relacionar com o próximo.
     Lidar com pessoas é a tarefa mais difícil do mundo! Alguém discorda desta afirmação? A vida é complicada de ser vivida, por causa dos seres humanos. Somos inconstantes, imperfeitos, mentirosos, ciumentos, hipócritas, cheios de manias, com idiossincrasias... Definitivamente, não existe nada mais complicado do que lidar com pessoas. É por isso que a partir de agora as bem-aventuranças ficam mais complicadas.
     “Bem-aventurados os mansos” trata muito mais de uma atitude para com o próximo do que uma atitude particular. E ser manso com pessoas invejosas, mentirosas, dissimuladas, cheias de pecado... não é fácil! Além disso, as duas primeiras bem-aventuranças são percebidas unicamente por Deus em nossas vidas. A partir de agora Jesus trata de algo que faz com que a nossa vida se torne uma vitrine, um aquário. Agora todos podem perceber se realmente somos mansos, misericordiosos, limpos de coração. Ou seja, agora não dá mais para camuflar, para esconder, para fingir. Agora as pessoas estarão com seus holofotes direcionados para as nossas vidas.
     Mansidão não é alguém sem coragem, não é sinônimo de fraqueza, pelo contrário, é força sob controle. Quando reagimos às ofensas que nos sobrevém com mansidão, não estamos sendo fracos, estamos agindo como Jesus agiu. Mansidão não é falta de firmeza de caráter, os mártires eram mansos e não foram fracos em seu caráter. Mansidão não é aquele camarada bobo, simplório... que todas as pessoas escarnecem e tiram proveito.
     Mansidão significa ter disposição para sofrer o dano ao invés de causá-lo. O manso prefere sofrer a fazer o outro sofrer. Ele paga a conta que não é sua. Mansidão significa demonstrar amor e compaixão com aquele que te machuca. O manso jamais reage com vingança para com aquele que lhe faz mal. Miriã e Arão criticaram Moisés duramente, publicamente! Sofreram o juízo de Deus por causa disto. Contudo, quando estavam debaixo do juízo, Moisés intercedeu a Deus por eles. Moisés não reagiu com vingança, mas com amor e compaixão. Dá para perceber que estas coisas não são naturais? O normal do ser humano é dar o troco, é ir à forra, é não levar desaforo para casa. Foi por isto que Jesus disse: “Importa-vos nascer de nos”. Se não nascer de novo não poderá compreender estas coisas!
     Mansidão significa estar submisso aos decretos de Deus. Em Romanos 9:6-24 encontramos o apóstolo Paulo afirmando que o manso reconhece que ele é o barro e que Deus é o oleiro. O manso entende que é um pedinte (humilde de espírito), então ele acaba dizendo: “Quem sou eu para discutir com Deus?” “O Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor”.
     O manso é aquele que possui disposição de ser alguém com pouca honra neste mundo. Ele tem a capacidade de sofrer injustiça sem guardar ressentimento, raiva, ódio... Neste processo, a pessoa é bondosa e paciente com o próximo. O manso é difícil de ser irritada, ele possui um grande domínio próprio. Por causa desta característica, o manso é gentil, humilde, atencioso, cortês...
     O manso não tem autocomiseração, ou seja, ele não fica se lamentando devido da vida que possui. Ele é uma pessoa ensinável, está disposta a aprender, pois descobriu que não é dona da verdade. Além disso, ele é gentil, humilde, atencioso, cortez, bondoso de espírito.
     Foi da vontade de Deus que em sua Palavra fosse registrada o exemplo de algumas pessoas que eram mansas. Abraão foi manso em sua atitude para com Ló. Ele permitiu que seu sobrinho escolhesse o que melhor lhe agradasse. Ele não reclamou nem murmurou da escolha feita por Ló.
     Moisés é descrito como o homem mais manso que já existiu. “Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra”. Não impunha a sua própria vontade aos outros, estava na corte de faraó, tinha do melhor... mas deixou tudo para servir a seu povo e seu Deus. Depois do que Miriã e Arão fizeram com ele, como foi que ele reagiu? Ficou ressentido e contra-atacou a irmã? Despejou toda a sua ira contra o irmão a quem ele tanto confiava? Moisés não fez nada disto! Por ser um homem manso, ele abriu mão completamente dos seus direitos. Por ser manso ele esteve completamente livre do desejo de vingança. No final da história, encontramos Moisés orando e clamando a Deus por sua irmã. O resultado de suas orações foi a cura de sua irmã.
     Estevão orou por aqueles que o apedrejavam: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Paulo suportou atrocidades, mentiras, calúnias terríveis das igrejas contra ele. Mesmo assim continuou amando-as.
     No segundo livro do profeta Samuel é narrado o momento em que Davi estava fugindo de Absalão que tentou usurpar o Reino do pai. Neste contexto, fugindo de seu filho e cheio de angústias pela atitude do filho, Davi se deparou com um homem chamado Simei que o abordou de forma hostil e perversa. Simei era um homem da casa de Saul que estava cheio de inveja contra Davi. Ele agrediu a Davi com palavras e com atitudes violentas. A sua ira era tão grande que ele não levou em consideração a força militar que Davi possuía, 600 guerreiros muito bem treinados. O ódio de Simei cegou-lhe para esta realidade e levou-lhe a atitudes insensatas.
     Simei amaldiçoou Davi com palavras fortíssimas. Chamou-o de insignificante, usurpador, homem vil. Foram injúrias das mais pesadas! E lembrem-se do seguinte, Davi era rei! Davi sofreu tudo isto quando se encontrava angustiado pelas atitudes de seu filho. E o pior de tudo, as acusações de Simei contra Davi não tinham fundamento.
     Como reagiu Davi diante destas duras e injustas agressões? Ele não permitiu que seus soldados fossem vingadores. Qual de nós aqui não faria a mesma coisa? Davi não só não revidou o ultraje sofrido, mas não permitiu que seus soldados o fizessem. Os mansos não atacam, não contra-atacam e nem aplaudem quem o faz. Além disso, Davi admitiu que aquela atitude de Simei era resultado da providência divina. Ou seja, Davi se submeteu aos desígnios de Deus. Na sua mansidão e docilidade ele ansiou pela misericórdia divina. Mesmo podendo silenciar Simei definitivamente, Davi não ousou defender-se ou agredir o ofensor. Ele entregou-se àquilo que Deus tinha resolvido fazer com ele.
     E, por fim, Davi exibiu uma atitude humilde para com o outro determinada por uma estimativa correta acerca de si mesmo. D. M. Lloyd-Jones afirma que mansidão significa “permitir (sem mágoa) que os outros apontem os nossos defeitos. Reconhecer diante de Deus e de nós mesmos que erramos é uma coisa, agora, permitir que outros denunciem estes mesmos erros é completamente diferente! Não estamos preparados para permitir que outras pessoas pensem ou falem de nós aquilo que sabemos ser verdade e que até mesmo reconhecemos diante de Deus. Instintivamente, nos ofendemos quando alguém fala algo a nosso respeito que sabemos ser verdade! Preferimos nos condenar a nós mesmos, do que permitir que outra pessoa nos condene”.
     Portanto, os mansos não se ressentem diante das ofensas, não exibem espírito vingativo, não fazem retaliações. Os mansos não ficam indignados, não permitem que a inveja invada o seu coração. Num mundo de selvageria e concorrência desleal, os mansos confiam e descansam no Senhor, eles não lutam com unhas e dentes pelos seus direitos, eles entregam o seu caminho ao seu Deus. Eles sabem que o Senhor “fará sobressair a sua justiça como o sol e o seu direito como a luz do meio dia”.
     O mundo diz que são os poderosos que herdarão a terra. Segundo C. Darwin só os mais fortes, capazes, inteligentes... é que irão prevalecer. Somente os valentões, arrogantes, poderosos... é que vencem na luta pela sobrevivência. A sociedade raciocina em termos de poderio, de habilidades, de auto-segurança, de agressividade. Achamos que as pessoas mansas nada conseguirão neste mundo. Estas pessoas são ignoradas, desprezadas, desprestigiadas, esquecidas... Indo contra todo este pensamento, Jesus Cristo afirma, “os mansos herdarão a terra”! Foi por isso que Ele afirmou: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou mando e humilde coração”. (Mt. 11:28,29)
    Depois de tudo o que você leu, se você ainda disser: “Eu dar o meu braço a torcer?” “Eu agüentar desaforo?” “Eu caminhar a segunda milha? Dar a outra face?” “Eu, eu, eu...” Se você continuar com o seu eu, você vai é para o inferno! Os que vão herdar a terra são os mansos!
    Somos abençoados, bem-aventurados não pela força, mas pela mansidão. O manso é aquele que compreendeu perfeitamente o que disse o missionário Jim Elliot: “Não é tolo quem abre mão do que não pode reter para segurar firme aquilo que não pode perder”.
    “Bem-aventurados os que mansos porque eles herdarão a terra”.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"Bem-aventurados os que Choram"

     Quando foi a última vez que você chorou? Ontem, semana passada, mês passado, ano passado, não lembra? Quanto a esta questão, existem três tipos de pessoas: Os “durões", aqueles que raramente derramam uma lágrima, são contidos até mesmo naqueles momentos de forte emoção; Os “normais”, choram quando a ocasião é de choro, mas não choram por qualquer coisa; Os “derretidos”, pessoas que choram por qualquer coisa.
     Apesar dos derretidos, vivemos hoje numa geração que não sabe o que significa chorar. Querem uma prova infalível? Qual é o jovem que nos dias de hoje carrega consigo um lenço? Uma das coisas que o mundo mais procura evitar é o choro. Toda a organização da sociedade é para evitar as lágrimas. Quantos programas de humor existem hoje na TV brasileira? Quase todas as noites o brasileiro vai dormir "dando risada". A única vez em que ele vai dormir "chorando" é na Quarta-feira feira quando seu time perde.
     Estes dados nos mostram o tipo de cultura no qual vivemos hoje, uma cultura hedonista: prazer sim, choro não. É a ideologia daquele homem que disse: “Direi a minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come, bebe e regala-te”. Vivemos hoje diante da geração dos olhos secos.
     Lágrimas podem significar tristeza: Alguma coisa extremamente triste pode acontecer nos levando às lágrimas. Lágrimas podem significar dor: Muitos não conseguem conter suas lágrimas diante de um dor física ou emocional. Lágrimas podem significar raiva: choramos diante de situações que nos deixam irados! Lágrimas podem significar alegria: Por mais irônico e incrível que pareça, a alegria também pode nos levar às lágrimas. Mas lágrimas também podem significar Arrependimento. Este tipo de lágrima está quase em extinção nos dias de hoje.
      As lágrimas de arrependimento são as lágrimas das bem-aventuranças. O choro das bem-aventuranças é aquele que acontece por causa da convicção de pecado. As pessoas que choram ali não são os melancólicos, os tristonhos, os depressivos. Não é um choro devido a algum sofrimento, a alguma dor física ou emocional, a alguma perda... Os chorosos das bem-aventuranças são aqueles que reconheceram o seu pecado. A sua iniquidade é algo tão terrível para elas que a sua reação é o pranto. É o lamento pela convicção de pecado. Assim como a humildade de espírito não tem qualquer ligação com questões financeiras, pois é uma atitude espiritual, o chorar desta bem-aventurança não tem nenhuma ligação com coisas terrenas. Este choro é proveniente de uma tristeza espiritual.
     Inicialmente eu perguntei: "Quando foi a última vez que você chorou?". Agora a pergunta é outra: Quando foi a última vez que você chorou pelos seus pecados? Se derramar lágrimas por quaisquer outros motivos está fora de evidência, imagine chorar pelos pecados cometidos! Quando foi a última vez que você entrou no seu quarto e lamentou pelo seu orgulho, pela sua mentira, pela sua auto-suficiência, pela sua vaidade... Quando foi que você saiu de algum lugar onde o seu pecado ficou evidente, e foi lamentar diante de Deus?
     Então, logo de cara dá para perceber que esta bem-aventurança é mais uma que não vai ter a aprovação mundana. O mundo acha esta declaração de Jesus completamente absurda e ridícula. Sendo assim, o verdadeiro cristão é alguém completamente diferente do incrédulo. Os que choram não são vistos com bons olhos pelos mundanos. E o pior! Os que choram não têm sido vistos com bons olhos pela própria igreja! Quando foi a última vez que você viu alguém chorando diante da exposição das Escrituras? Quando foi que você foi tão impactado pela pregação da Palavra de Deus que no fim, você foi embora para casa lamentar o seu erro, rever as suas posturas diante da vida, ao invés de falar de futebol, das viagens, de piadas, disto e daquilo outro que não tem absolutamente nada a ver com aquilo que acabou de ser pregado?
     O que será que aconteceu? A Bíblia não está sendo pregada como deveria ou os homens estão com os corações extremamente endurecidos? A Palavra de Deus deixou de produzir efeito ou as pessoas estão com suas consciências cauterizadas? Antigamente as pessoas tremiam, temiam, choravam diante da exposição das Escrituras. Hoje parece que a pregação é sonífera. A pregação ficou tão chata que não vemos a hora da conclusão. A vontade de ir ao banheiro é maior que a vontade de ouvir a exposição. Mexer no celular é melhor do que prestar atenção na exortação. Conversar com a pessoa ao lado é mais importante que orar diante do que está sendo pregado.
     O que será que está acontecendo? É fácil encontrarmos pessoas lamentando pelo término do namoro ou pela economia do país; pela oportunidade perdida num emprego ou pelos inúmeros impostos que precisam ser pagos; pelas restrições e proibições que a igreja e a vida lhe fazem. Contudo, é cada vez mais raro encontrar uma pessoa que lamente pelos seus pecados.
     Por que será que chegamos onde estamos? O que precisamos fazer para sair de onde estamos? Precisamos nos fazer estas e muitas outras perguntas! Precisamos buscar respostas para tentar, através da iluminação e ajuda do Espírito Santo, reverter esta situação que se instalou em nosso meio e em nossas vidas.
     Certamente que existem motivos pelos quais não choramos mais pelos nossos pecados. Vejamos alguns desses motivos que tem sido diagnosticados pelos teólogos de nosso tempo.
     Primeiro, este tipo de choro só pode ser derramado por alguém que é humilde de espírito. Esta resposta é o próprio texto das bem-aventuranças quem nos concede. Uma coisa leva a outra. O humilde de espírito percebendo a sua carência e necessidade, a sua desgraça e condenação, ele clama por perdão, ele suplica por auxílio, ele chora diante da sua iniquidade. Ele lamenta por ter ofendido Àquele que fez por ele aquilo que ele não poderia fazer! Só o humilde de espírito que já percebeu que nada pode fazer, é que chora pelo auxílio divino. Bem-aventurados os que choram surge de dentro de bem-aventurados os humildes de espírito.
     Qual o problema? A arrogância é um dos sentimentos mais valorizados e cultivados nesta era pós-moderna. A jactância está sendo alimentada diariamente em nossos corações. A prepotência é própria dos auto-suficientes que jamais serão humildes de espírito. Quem é que nunca foi picado por este verme? Quem nunca foi contaminado por este veneno? Portanto, o nosso orgulho, a nossa empáfia nos impede de chorarmos pelos nossos pecados. Somos muito corretos para derramar lágrimas diante da exposição das Escrituras. Somos muito morais para sermos convencidos de que estamos em pecado. Nossa vida é muito certinha para termos que lamentar por hábitos e práticas que supostamente são pecaminosas.
      O segundo motivo pelo qual não choramos mais pelos nossos pecados é devido ao fato de que os valores bíblicos têm sido deturpados, alterados, completamente modificados! O que está ocorrendo hoje é uma inversão dos valores bíblicos. Como entender esta super ênfase no triunfalismo, se a Bíblia dá ênfase em outra área? O livro de cânticos da Bíblia tem 70% do seu conteúdo em forma de contrição, arrependimento, lamento. Será que Deus não quer nos mostrar alguma coisa com esta estatística?!
      A Bíblia dá uma ênfase maior ao choro do que ao riso. Em II Samuel 1:18 encontramos Davi danado ordens específicas para que seu povo fosse ensinado a lamentar. Jó afirmou: “Os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus”. (Jó 16:20) Isaías: “Regar-te-ei com as minhas lágrimas, ó Hesbom e Eliabe”. (Is. 16:9) Jeremias, conhecido pelo apelido de “o profeta chorão” afirmou: “Oxalá a minha cabeça se tornasse em um manancial de águas, e os meus olhos em uma fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo.” (Jr.9:1) A Bíblia tem um livro dedicado exclusivamente ao lamento, Lamentações de Jeremias. O livro todo é de clamor, choro, lágrimas, arrependimento... “Filha de Sião, corram as tuas lágrimas como um ribeiro, de dia e de noite; não te dês descanso, nem parem de chorar as meninas de teus olhos.” Quase todas as páginas do livro de Salmos são molhadas por lágrimas dos autores. “Toda a noite faço nadar a minha cama no choro, e molho o meu leito com lágrimas”. (Sl. 6:6) “As minhas lágrimas servem-me de alimento de dia e de noite”. (Sl. 42:3) Maria banhou os pés de Jesus com lágrimas (Lc. 7:36-50) O próprio Jesus, não há qualquer registro de que Ele alguma vez tenha dado risada. Não significa que ele não tenha feito isto, é claro que fez! No entanto, é nítido que Deus desejou enfatizar o aspecto do lamento. As Escrituras relatam Jesus chorando quando Lázaro morreu e em frente a Jerusalém. A aparência de nosso Senhor era de alguém muito mais velho do que a sua idade (Jo.8:57) Isto aconteceu porque sabemos que o sofrimento envelhece. Lembrem-se dos títulos atribuídos a Jesus: “Varão de dores; Servo sofredor; sabe o que é padecer”.
      O problema se encontra no fato de que não pode existir alegria verdadeira sem convicção e confissão de pecados! Sem arrependimento não pode existir felicidade. Os bem-aventurados são aqueles que choram, percebeu? Segundo a Bíblia, a felicidade só é possível depois do arrependimento pelos pecados cometidos. Você confessou os seus pecados? Você chorou pelas suas iniqüidades? Não? Então não há o que celebrar! Sua alegria é falsa, é mentirosa, é efêmera! Seu louvor é enganoso, apenas disfarça a sua dor e a sua vida pecaminosa.
      Biblicamente, o negativo sempre precede ao positivo. Antes do consolo vem o choro de arrependimento pelas iniqüidades cometidas. Isaías 61: Antes da coroa existem os sacos de cinza; antes de óleo de alegria existe o pranto; antes das vestes de louvor existe o espírito angustiado. Assim também acontece em todo o cristianismo, ou seja, antes da glória existe a cruz. Em Romanos sete, antes de “Graças a Deus por Jesus Cristo”, Paulo disse: “Desventurado homem que sou”. O salmista afirmou que “Os que semeiam com lágrimas – colherão cânticos de alegria”. (Sl. 126:5)
     Não se engane, sem arrependimento pelos pecados cometidos não pode existir felicidade! Aparentemente esta bem-aventurança é um paradoxo. Como entender felizes os que choram? Normalmente uma pessoa feliz não chora. No entanto, esta tristeza é geradora de alegria sim! Isto acontece por que quem chora segundo as bem-aventuranças é aquele que confessou os seus pecados e os abandonou! “A primeira característica do reino do céu é a alegria transbordante que vem da contrição e do arrependimento. O brilho do sol é sempre mais doce depois que conhecemos as sombras.” (R. Murray)
      Existem inúmeras e trágicas conseqüências devido ao fato de não mais lamentarmos os nossos pecados. Os prejuízos espirituais devido à ausência de arrependimento são inimagináveis! “A doutrina defeituosa do pecado e essa idéia superficial de alegria, operando juntamente, produziram entre nós um tipo de crente superficial, uma forma de vida cristã extremamente inadequada”. (D.M.Lloyd-Jones) Pedro só foi restaurado por Jesus depois que "chorou amargamente". Depois deste acontecimento, Pedro tornou-se maduro para ser o que foi nas mãos de Deus. “Se deixarmos passar o tempo para nos arrependermos, ficaremos arrependidos para sempre de termos deixado o tempo passar”. (Thomas Adams)
       Bem-aventurados os que choram “porque eles serão consolados”. Serão consolados porque a tristeza os leva a olhar para Deus. E Deus perdoa, liberta, fortalece e acalma: “Deus lhes enxugará toda lágrima”. Precisamos reaprender, ou quem sabe, aprender a chorar pelos nossos pecados. Que o uso do lenço possa voltar a ser um costume em nosso meio.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

“Bem-aventurados os humildes de espírito”

     “Bem-aventurado” significa mais do que feliz. Esta expressão significa que aquela pessoa possui a aprovação de Deus. Jó foi um homem aprovado por Deus: “Viste o meu servo Jó? Reto, íntegro, se desvia do mal...” (Jó 1:8) Jó não era bem-aventurado só por ser feliz, mas principalmente porque Deus aprovava a sua conduta Muitas pessoas correm freneticamente atrás de títulos acadêmicos, mestrado, doutorado, PHD... Mas o título mais importante de todos, é o APD: Aprovado Por Deus.
     Esta primeira bem-aventurança é imprescindível para entendermos todas as outras. A ordem em que elas foram arrumadas por Jesus não foi por mero acaso. Existe nas bem-aventuranças uma seqüência lógica e espiritual. Todas as demais características são resultantes dessa primeira qualidade. Todas as outras características são edificadas sob a primeira característica.
     Esta é a primeira bem-aventurança pelo fato de que ninguém pode entrar no reino de Deus, a menos que seja pobre de espírito. Os orgulhosos e auto-suficientes jamais entrarão no reino de Deus. No alfabeto do cristianismo, a humildade é a primeira letra. No reino de Deus não existe uma única pessoa que não seja pobre de espírito. Portanto, esta é a característica fundamental do cristão, do cidadão do céu; e todas as demais características resultam dessa primeira qualidade.
     Muitos têm interpretado este texto como se Jesus estivesse valorizando os pobres, materialmente falando. São Francisco de Assis é o patrono deste grupo de pessoas. Eles dizem que o voto de pobreza voluntário é imprescindível para adquirir o reino dos céus. Somente os que fazem parte deste grupo é que herdarão as benécias do reino. Traduzem o texto da seguinte maneira: “Bem-aventurados em espírito são os pobres”. O problema é que em nenhum lugar das Escrituras é ensinado que a pobreza leva alguém para o céu. Não há nenhum mérito ou vantagem na pobreza. A pobreza não serve de garantia de espiritualidade. Se fosse assim, as pessoas seriam salvas pela pobreza e não pela graça de Deus. As pessoas que pensam assim e fazem voto de pobreza, estão acreditando nos seus esforços e não na graça de Deus. Isto é anular por completo o sacrifício de Cristo na cruz. O que conduz o homem ao céu é unicamente a morte de Cristo em seu lugar. Portanto, esta interpretação distorce totalmente a palavra de Jesus aqui em Mateus.
     Quem são os humildes de espírito? Como identificá-los? Como defini-los? Os humildes de espírito são aqueles que reconhecem que nada podem realizar para ser salvos, que entenderam a realidade de que nada são sem o auxílio divino, que compreenderam que nada possuem em si mesmos que os ajude diante de Deus, que reconhecem a sua pobreza espiritual. Os membros da igreja de Laodicéia foram condenados por Deus porque diziam: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa nenhuma”. O humilde de espírito tem uma atitude completamente contrária. Eles fazem parte do grupo que declara: “Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?!” (Rm.7:24) Eles entenderam a palavra de Jesus quando disse: “Sem mim nada podeis fazer”. Eles reconhecem que nada possuem para oferecer a Deus e, mesmo que tivessem, Deus não precisa de nada! Ele é Deus!
     “Ser humilde de espírito é reconhecer nossa pobreza espiritual, ou falando claramente, a nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus e nada merecemos além do juízo. Nada temos a oferecer, nada a reivindicar, nada com que comprar o favor de Deus.” (John Stott) “Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de espírito.” (Calvino)
     Encontramos na Bíblia vários exemplos de pessoas pobres de espírito. Gideão: “Quem sou eu para cumprir tal tarefa? Pertenço a menor tribo de Israel e à menor família desta tribo”. Moisés sentiu-se incapaz para conduzir o povo no êxodo para a terra de Canaã. Davi: “Senhor quem sou eu para que venhas a mim?”. Davi era rei, portanto, extremamente rico, mesmo assim, ele declarou o seguinte: “Eu sou pobre e necessitado, porém, o Senhor cuida de mim”. (Sl. 40:17) Jó: “me arrependo no pó e na cinza”, “Falei uma vez, duas, questionei... mas não falo mais nada! Tu és Deus.” Isaías: “Ai de mim! Sou homem de lábios impuros...” O publicano da parábola contada por Jesus: “Senhor sê propício a mim que sou pecador”. Pedro: “Retira-te de perto de mim porque sou um homem pecador”. Paulo tinha todas as razões do mundo para sentir-se auto suficiente. A lista de Filipenses 3 nos fala de suas condecorações. Sobre isto ele nos diz o seguinte: “Se alguém poderia confiar na carne (ser auto-suficiente) este sou eu.” No entanto, diz ele: “Tudo que era lucro passei a considerar como perda!”
     Em Lucas 18 Jesus contou uma parábola para ensinar verdades concernentes à oração. Dos muitos ensinamentos relacionados a oração, esta parábola nos mostra a maneira como devemos orar. Aprendemos ali o que devemos fazer e o que não devemos fazer com a oração. Encontramos nesta história a oração que Deus aceita e a oração que Ele não aceita. E o ensinamento é que Deus aceita a oração daquele que é humilde de espírito.
     A parábola conta a história de dois homens. O fariseu que tinha uma visão distorcida acerca de si mesmo. Ele não disse na sua oração: “Oh Deus, eu sou”, mas disse: “Eu não sou como os demais homens”. Isso é muito significativo, afinal, ele se comparou aos outros, por isso ele se considerava justo. Além disso, ele era orgulhoso, exaltado e confiava em si mesmo. Tal era a exaltação própria desse homem que a sua oração era um elogio acerca de si mesmo. Por isso que Jesus disse que ele “orava de si para si mesmo” (v.11) Ele relatou na oração aquilo que ele fazia além do que a lei exigia: “Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”. A lei exigia um jejum por ano, e aquele homem fazia dois por semana!
     Ele era desprezador: “Por si considerarem justos, desprezavam os outros”. (v.9) Era um hipócrita, afinal, orava a Deus, mas com o fim de louvar a si mesmo. Ele menciona o nome de Deus apenas no início. Logo depois do início de sua oração, Deus sai do foco. O que acontece é um louvor de si mesmo.
     Essas características deste fariseu deixam evidente o que não é uma pessoa humilde de espírito. Em toda a oração proferida pelo fariseu, não há nenhum elemento de petição. Ele não é pobre! Ele não precisa de nada! Não existe da parte dele nenhum senso de pecado diante de Deus.
     Já o outro personagem da parábola, o publicano, ele é o oposto do fariseu. Ele pensava realisticamente acerca de si mesmo. Diz o texto que o publicano estava “longe”. Ele não tinha coragem de chegar perto do local de culto. Além disso, não tinha coragem de levantar os olhos aos céus, no entanto, “batia no peito e dizia: Ó Deus, sê propício a mim, pecador”. Era assim que ele se via, como um tremendo de um pecador!
     Porque se viu como pecador, era humilde. Além da sua posição, as suas palavras comprovam a sua humildade. Ele demonstra ser pobre de espírito, afinal, o que é que ele oferece ao Senhor? Ao contrário do fariseu, ele não tinha nada para oferecer a Deus. Ele poderia cantar o hino: “Eu venho como estou, porque Jesus na cruz morreu por mim, eu venho como estou”. Ele era consciente do seu estado de miséria, e, por causa disso, concentrava-se na misericórdia de Deus.
     Todos os homens têm um conceito elevado acerca de si mesmos. Sejam os pobres, sejam os ricos, sejam os intelectuais, sejam os ignorantes, todos têm um conceito muito elevado acerca de si mesmo. E a maior prova disso são as guerras entre os homens. Por que marido e mulher brigam tanto? Por que irmãos brigam entre si? Por que há concorrência nos empregos e nas igrejas Porque o conceito acerca de si é muito elevado!
     Enquanto não nos tornamos humildes de espírito, nossas relações são baseadas na concorrência, na disputa, com sentimentos de grandiosidade. Sendo assim, podemos afirmar que os humildes de espírito são assim porque Deus usou de misericórdia para com eles. Os humildes de espírito são aqueles sobre quem o Senhor derramou luz.
     O que é a humanidade sem Cristo? É uma sociedade de pecadores sem a correta visão acerca de si mesmos. Enquanto o holofote divino não brilhar sobre a humanidade, os homens vão continuar sendo autoconfiantes, auto-satisfeitos.
     Já os bem-aventurados são aqueles que receberam a Palavra de Deus e puderam constatar quem eles eram de verdade. Não foi por acaso que o salmista disse: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos”.
     Porque eles foram declarados bem-aventurados? O texto responde: “Porque deles é o reino dos céus”. Eles são bem-aventurados porque desde agora já possuem o sumo bem dado por Deus em seus corações. O Reino de Deus está neles! Deus os resgatou do império das trevas e os transportou para o reino do Filho do seu amor. O reino de Deus pertence a eles! “Não temais pequeninos, porque Deus o vosso Pai, se agradou em dá-los o seu reino”. (Lucas) A eles foi dada completa salvação! Ou seja, a soma completa das bênçãos que é concedida àqueles que são humildes de espírito.
     Porque deles é o reino dos céus, eles podem orar: “Venha a nós o teu reino”. Somente eles podem dizer: “Ó Senhor governa-nos pela tua Palavra e pelo teu Espírito de tal maneira que nos submetamos a Ti”. “Fortalece a tua igreja e faze-a crescer”. “Destrói a obra do Diabo, destrói toda força que se rebela contra Ti”. Somente eles podem orar desse jeito, afinal, o homem natural nunca vai fazer esta oração!
     O Bem-aventurado é alguém que antes era auto-suficiente, autoconfiante, auto satisfeito. Mas ele foi conduzido pelo Espírito Santo a perceber a sua completa necessidade de Deus.
     “Todo que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha, será exaltado”. O publicano reconheceu a sua dependência completa de Deus, e assim, ele foi justificado, santificado, declarado bem-aventurado.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

QUERO SER FELIZ OU TER RAZÃO?

      Oito da noite numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para o jantar na casa de alguns amigos. O endereço é novo, assim como o caminho, que ela conferiu no mapa antes de sair. Ele dirige o carro. Ela o orienta e pede para que vire na próxima rua à esquerda.
      Ele tem certeza de que é à direita. Discutem. Percebendo que além de atrasados, poderão ficar mal humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe que estava errado. Ainda com dificuldade, ele admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há problema algum em chegar alguns minutos mais tarde.
      Mas ele quer saber: "Se você tinha tanta certeza de que eu estava tomando o caminho errado, deveria insistir um pouco mais” E ela diz: “Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma briga, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite”.

      Essa pequena história foi contada por uma empresária durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independente de tê-la ou não. Desde que ouvi esta história, tenho-me perguntado com mais freqüência: " Quero ser feliz ou ter razão?" Pense nisso e seja feliz.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Foco no problema X Foco na solução

      Quando a Nasa iniciou o lançamento de astronautas, descobriram que as canetas não funcionariam com gravidade zero. Para resolver este enorme problema, contrataram a Andersen Consulting, hoje Accenture.
      Empregaram uma década e 12 milhões de dólares. Conseguiram desenvolver uma caneta que escrevesse com gravidade zero, de ponta cabeça, debaixo d'água, em praticamente qualquer superfície incluindo cristal e em variações de temperatura desde abaixo de zero até mais de 300 graus Celsius.
      Os russos usaram um lápis.
     Este fato nos mostra que muitas vezes temos as soluções ao nosso alcance, mas, por estarmos preocupados com o tamanho dos problemas que enfrentamos, caímos no erro de achar que a solução tem que ser algo muito difícil.
      Da próxima vez que um grande problema aparecer busque na simplicidade as soluções, e, talvez, você possa ver que as coisas simples são as de maior valor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PROBLEMA DE UM É PROBLEMA DE TODOS!

     Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua espoa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali. Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado!
     Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos: “Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!
     A galinha disse: “Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.”
      O rato foi até o porco e lhe disse: “Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!” O rato lhe respondeu: “Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.”
      O rato dirigiu-se então à vaca. Ela lhe disse: “O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!”
      Então o rato voltou para casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima.
     A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher...O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.
     Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.
     Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visita-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.
     A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.
     Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

POR QUE?

Dr. Hyles
Já me sentei do lado de um pequenino berço,

E vi uma criancinha morrer.

Enquanto os pais se voltavam para mim,

perguntando, “Oh, pastor, por que?”


Já segurei a cabeça do esposo jovem,

E senti o ofegar e o suspiro da morte.

Uma viúva me olhou entre lágrimas e disse,

“Caro pastor, diga-me, por que?”


Já vi uma mãe chorosa,

Apertar a fotografia junto ao peito solitário,

e perguntar baixinho,

“Por que, pastor, por que, oh, por que?”


Já me afastei da terra das crianças,

Onde os bebês não-nascidos jazem.

Uma mãe estende os braços vazios,

E me pergunta, “Pastor, por que?”


Já ouvi o som da bengala de ponta branca,

Que guia os olhos cegos,

E então uma voz solitária e sombria grita,

“Pregador, mostre-me porque.”


Já enxuguei as lágrimas ardentes de uma noiva,

E ouvi seu lamento solitário

Ela tinha nas mãos um vestido de casamento sem uso,

E gritou, “Pastor por que?”


Já ouvi o paciente de câncer dizer,

“Para mim morrer é lucro,”

Depois olhar no rosto da filha,

E sussurrar silenciosamente, “Por que?”


Já vi um pai suicidar-se.

Uma viúva se posta a seu lado;

Enquanto os filhos dizem,

“Mãezinha, o pregado nos dirá por que.”


Já vi minha mãe postar-se junto

A duas pequenas sepulturas e chorar.

E embora ela nunca me dissesse,

Sei que ficava se perguntando, “Por que?”


Já ouvi um órfão dizer baixinho,

Olhando para o céu,

“Embora meu pai e minha mãe tivessem ido embora,

meu pregador me dirá por que.”


Fui na ponta dos pés até o trono do Pai,

Tímido e inseguro.

Para dizer, “Deus amado, alguns dos que são teus,

Estão querendo saber o porquê.”


Eu O ouvi dizer com ternura,

“Seus olhos irei enxugar alegremente.

Embora tenham de olhar através da fé hoje

Amanhã saberão por que.”


“Se agora souberem as razões de

suas esperanças não terem vingado.

No céu não terão a alegria

De me ouvirem dizer o por quê.”


Descobri assim que Lhe agrada

Quando posso testemunhar,

“Confiarei em meu Deus para fazer o que é melhor,

E esperarei para saber o por quê.”

sábado, 7 de agosto de 2010

O IDIOTA

Conta-se que numa pequena cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado “de pouca inteligência”, que vivia de pequenos biscates e esmolas.

Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas – uma grande de 400 réis e outra menor, de dois mil réis.

Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

“Eu sei” – respondeu o não tão tolo assim – “ela vale cinco vezes menos, mas no dia em que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar a minha moeda”.

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.

1 – Quem parece idiota, nem sempre é.

2 – Dito em forma de pergunta: quais eram os verdadeiros tolos da história?

3 – Outra: se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

4 – Podemos estar bem, mesmo quando os outros não tem uma boa opinião a nosso respeito.

5 – O que importa não é o que pensam de nós, mas o que realmente somos.

“O maior prazer e um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente”.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Todo homem tem culpa de ter a cara que tem

Certa vez alguém bateu na porta do escritório de Abraham Lincoln. Ele, olhando pela fresta, disse a secretária:

- Eu não vou atender este homem.

A secretária, muito constrangida disse:

- Senhor presidente, com todo respeito, por que o senhor não vai receber este sujeito?

E Abraham Lincoln respondeu: - Eu não fui com a cara dele.

E a secretária novamente lhe perguntou:

- Com todo respeito, que culpa tem este homem de ter a cara que tem?

E Lincoln respondeu:

- Minha filha, depois dos quarenta, todo homem tem culpa de ter a cara tem.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NARCISO

Oscar Wilde
Um belo rapaz que todos os dias ia contemplar sua própria beleza num lago, era tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu nasceu uma flor que chamaram de Narciso.

Quando Narciso morreu, vieram as Oréoides – deusas do bosque – e viram o lago transformado de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.

- Por que choras? Perguntaram as Oréoides.

- Choro por Narciso – disse o lago.

- Ah! Não nos espanta que você chore por Narciso. Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.

- Mas Narciso era belo? Perguntou o lago.

- Quem mais do que você poderia saber disso? – responderam surpresas as Oréoides – afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.

O lago ficou algum tempo quieto, e por fim disse:

- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo de seus olhos, minha própria beleza refletida.”

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

“O Equívoco do Pregador”

Poesia de Brewer Mattocks

O sacerdote da Paróquia da Austeridade
Subiu ao alto campanário da igreja
Para ficar mais perto de Deus,
De forma que pudesse transmitir
Sua palavra a seu povo.

Quando o sol estava alto,
Quando o sol estava baixo,
O bom homem sentado distraído
Coisas sublunares
Da transcendência
Estava ele lendo continuamente.
E de vez em quando
Ouvindo ele o ranger
Do cata-vento girando,
Fechava seus olhos edizia:
“Na verdade, de Deus estou agora aprendendo”.

E no manuscrito do sermão
Ele escrevia diariamente
O que pensava tinha vindo do céu.
E ele deixava cair isto
Sobre as cabeças do seu povo
Duas vezes num dia da semana.

Em sua hora disse Deus:
“Desça daí e morra!”
E ele gritou do campanário:
“Onde estás, Senhor?”
E o Senhor respondeu:
“Aqui embaixo no meio do meu povo”.