quarta-feira, 8 de setembro de 2010

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”

      O que significa “Justiça” nas Bem-aventuranças? A palavra “justiça” aqui não tem nada a ver com o conceito humano de justiça. Por exemplo, quando um juiz condena um criminoso dizemos que “foi feito justiça”. Quando verbas do governo são desviadas e falta saúde, educação... dizemos que isto é uma injustiça. Não é sobre isto que trata esta bem-aventurança. A justiça das bem-aventuranças se refere a justificação de Deus para com o ser humano.
      Todos nós somos considerados injustos diante de Deus: “Não há um justo sequer, não há quem busque a Deus” (Rm. 3:10) Por causa da morte de Cristo em nosso lugar, agora somos considerados “justos” diante de Deus: “A justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos aqueles que crêem.” (Rm. 3:22) “O homem é justificado pela fé.” (Rm. 3:28) Portanto o desejo de obter justiça significa o desejo de estar bem com Deus, de ter comunhão com Ele, o desejo de se desvencilhar do pecado, o desejo de buscar a santidade acima de todas as coisas.
      Em Filipenses capítulo três encontramos a descrição do apóstolo Paulo de como ele se orgulhava nas coisas deste mundo, se gabava de ter nascido onde nasceu. Ele se vangloriava de ter o nível intelectual que possuía, de participar de grupos que o engrandeciam. Ele faz esta lista de “ganhos”, de coisas pelas quais ele sempre lutou. Depois de enumerar cada um desses itens do seu currículo, ele afirma que tudo aquilo é como refugo. O que foi que aconteceu? O que fez com que ele considerasse tudo aquilo pelo qual ele sempre batalhou como perda? Leia Filipenses 3:7-11.
      Paulo tinha fome e sede da “justiça que procede de Deus, baseada na fé”. Em outras palavras, o apóstolo desejava ardentemente conhecer a Deus! Isto é o que Jesus está nos ensinado nesta bem-aventurança. Isto é ter fome e sede de justiça: Desejar ardentemente conhecer ao Senhor. Portanto, a ambição dos bem-aventurados é completamente diferente da ambição do incrédulo. O homem ímpio busca incansavelmente glória, riquezas, entretenimento, prazeres carnais. Eles têm o discurso daquele homem citado por Jesus: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. Do ponto de vista espiritual, eles não possuem nenhuma necessidade. São como aqueles homens para quem Jesus disse quando estava na casa de Mateus: “Os são não precisam de médicos. Não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”. Eles não viam nenhuma necessidade de Jesus! Eles não reconheciam a necessidade de se tornarem justos diante de Deus. Exatamente o contrário do que está sendo ensinado nesta bem-aventurança.
      A ambição do incrédulo está unicamente direcionada para as coisas terrenas e materiais. Eles são completamente indiferentes para com as realidades espirituais. Eles sentem-se satisfeitos para consigo mesmos: “Nunca matei, nunca roubei, nunca adulterei...”. São homens e mulheres que não conseguem enxergar a sua iniquidade! Espiritualmente não sentem nenhuma necessidade, estão fartos. São como aquele homem da parábola de Lucas 22, confiava em si mesmo por si considerar justo. Louvava a si mesmo: “Ó Deus graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos”, “Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de tudo o quanto ganho”. Quanto orgulho! Quanto inchaço! Quanta presunção!
      Qual é a nossa ambição? Todo o seu esforço gira em torno de quê? Visa o quê? Será que verdadeiramente podemos afirmar: “Como suspira a corça pelas correntes de água, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede do Deus vivo.” (Sl. 42:1,2) A ambição destes que Jesus cita nesta bem-aventurança é apenas uma: Deus! Deus é a ambição maior dessas pessoas. Eles desejam algo sem o qual não conseguem viver. Esta é a ideia de fome e da sede. Nas suas lutas interiores contra o pecado, eles clamam por libertação! “Quem me livrará deste corpo de corrupção, de morte?!”
      Será que o centro das nossas atenções é Deus? Quando o centro das nossas atenções é o Senhor não existem interesses próprios concorrendo com a vontade de adorar a Deus com a sua igreja. Não existe nenhuma dificuldade que me atrapalhe de estar com o povo de Deus adorando-o. Quando o centro das nossas atenções é o Senhor, existe um interesse pelo Senhor, por sua Palavra, pelo seu Reino, pela sua igreja! Quando o centro das nossas atenções é o Senhor, nos doamos e nem percebemos que fazemos isto, afinal, fazemos de coração para o Senhor!
      O que falta é fome e sede de justiça. O que falta é esta santa ambição pelo Senhor. Jesus era um homem que tinha uma agenda impressionantemente cheia! Os compromissos de Jesus eram tão intensos que a Bíblia chega a dizer que eles e os seus discípulos não tinham tempo nem para comer. Mas no dia do Senhor, Ele deixava todas as atividades que possuía para estar na Casa de Deus.
     Os efeitos da fome e da sede sobre o corpo humano são impressionantes. Instintivamente, o corpo clama pelos elementos que necessita para funcionar e sobreviver. Fraqueza, tremedeira, (mau hálito), desmaio, irritação, falta de paciência, raiva, indignação... É só observar como nos portamos quando estamos com fome num restaurante e as mesas ao lado são servidas e o nosso pedido é o que mais demora a chegar. A fome algumas vezes pode ser tão intensa que se transforma em dor. Nesse estágio, o indivíduo é impelido a buscar comida quase sem considerar o preço ou as dificuldades para se obter o alimento. É aí que percebemos que o mais forte e insistente instinto do homem é o da alimentação.
      Além da fome, Jesus fala da sede, outra coisa que nos deixa inquietos, angustiados, agoniados. Jesus usa esses instintos humanos como ilustração, mostrando que devemos sentir algo semelhante quanto à justiça. Assim como o faminto e o sedento anseiam por comida e bebida, nós também devemos desejar a justiça que vem de Deus! Devemos ser como o profeta Jeremias que disse: “Achadas as tuas palavras, logo as comi.” (Jr.15:16)
      Ter fome e sede por justiça assemelha-se ao indivíduo que almeja ardentemente atingir certa posição. Tal homem não descansa, ele está sempre trabalhando, labutando em busca do seu alvo. Ter fome e sede por justiça assemelha-se ao indivíduo que sente saudades da pessoa amada. A pessoa fica inquieta enquanto não se encontra com o seu amado (a). O salmista sintetizou estes sentimentos quando disse: “Como suspira a corça pelas correntes de água, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede do Deus vivo.” (Sl. 42:1,2)
      Será que nós somos assim quando se trata de conhecer o nosso Deus? Seria esta a nossa ambição? Desejamos ardentemente conhecer o nosso Deus como desejava o salmista? Temos fome e sede de justiça?
      Esta bem-aventurança nos coloca numa situação delicada, afinal, ela exige uma resposta da nossa parte. O que tem sido a ambição da minha vida? Esta bem-aventurança sonda as profundezas do nosso ser! Ela visa as nossas motivações, os nossos desejos, os nossos interesses, os nossos propósitos. Ou será que a nossa realidade é uma espantosa falta de fome e sede pelas realidades espirituais? Falta de fome é péssimo sintoma! Pode ser sinal de criancice. As crianças deixam de comer para ficar brincando. Para as crianças brincar é mais gostoso do que comer. Pode ser também sinal de doença. Logo que um vírus ataca ou uma infecção infiltra-se no sistema digestivo, o centro de controle cerebral comunica: “você não está com fome”. A mãe que percebe que o filho não tem fome, ela logo se preocupa. Ela sabe que isso não é natural. Se ela não tomar providências, os efeitos serão desastrosos! Toda mãe conhece a íntima relação entre saúde e fome. Quando a filha de Jairo ressuscitou, Jesus mandou que lhe dessem algo para comer.
       Infelizmente, para alguns, o desejo pela comunhão com Deus que sacia a fome pelo Senhor ocorre raramente. Para muitos, nunca ocorre. Essas pessoas não buscam suprir as calorias para vitalizar sua vida espiritual e afastar a apatia. Isto é um péssimo sinal! Se você não tem fome de conhecer o seu Deus, é porque Ele ainda não é o seu Deus!
      Por que é que eles são chamados de felizes, de bem-aventurados? Pensem nos homens que ambicionam outras coisas. Saúde: Aquele que a possui, muito em breve vai perdê-la. Bens: Certamente todos nós os deixaremos neste mundo. Prazeres: Todo mundo sabe que são transitórios. Não há nada que possa satisfazer plenamente o homem. Cedo ou tarde, os mais ricos dos homens, ficarão absolutamente desprovidos de tudo. Por isso que Jesus chamou de louco aquele homem que pensava ter um futuro garantido. Não há nada que possa satisfazer plenamente o homem! “O homem possui um vazio do tamanho de Deus”.
      Todos os homens são miseráveis, cegos, pobres, paupérrimos! No entanto, esses aqui são chamados de bem-aventurados, felizes! E isto acontece porque eles “serão fartos”. Que promessa gloriosa! Brevemente eles serão saciados! Aquilo que eles tanto almejam, eles encontrarão!
      Nesta vida, a nossa fome nunca será completamente satisfeita, nem a nossa sede plenamente mitigada. Sem dúvida recebemos a satisfação que a bem-aventurança promete. Esta satisfação, no entanto, é parcial, afinal, a fome é satisfeita apenas para tornar a se manifestar. Somente no céu seremos saciados plenamente: “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida”. (Ap.7:16,17)

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