segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A SANTÍSSIMA TRINDADE (II)

     Os principais erros ligados à Trindade nasceram da negação de uma ou outra dessas três proposições básicas. Eis alguns erros cometidos ao longo da história.
     Modalismo = “Deus é uma pessoa que se revela de três maneiras diferentes”. Eles dizem que Deus se revelou no Antigo Testamento como “Pai”, nos Evangelhos como “Filho” na vida e ministério de Jesus, e no Pentecostes essa mesma pessoa se revelou como o “Espírito” ativo na igreja. Usam alguns textos bíblicos para basear a sua crença: “Eu e o Pai somos um” (Jo.10:30), “Quem vê a mim vê o Pai”. (Jo.14:9) Utilizam a ilustração da mesma pessoa que desempenha três funções ao mesmo tempo. Infelizmente, por desconhecimento bíblico, muitos crentes olham para a Trindade desta maneira.
     Arianismo = Nega a plena divindade do Filho e do Espírito Santo. Ário, bispo de Alexandria, (320 d.C.) pregava que Deus Filho foi gerado por Deus Pai. Embora o Filho seja o maior ser de toda a criação, ele não se iguala ao Pai. Ele é “semelhante” ao Pai, mas não é “igual” ao Pai. Baseia-se em textos que falam de Jesus como “unigênito do Pai”. Usava também o texto de Colossenses 1:15 que fala de Jesus como: “O primogênito de toda a criação”.
     Judaísmo = Afirma que Jesus foi apenas um grande mestre. Muitos intelectuais pensam desta forma nos dias de hoje. Contudo, como nos lembra C.S. Lewis: “Se Jesus não foi Deus ele foi o maior doido que já existiu”.
     Subordinacionismo = O Filho é eterno e divino, mas ainda assim, inferior ao Pai. O Filho não possui todos os atributos e todo o poder do Pai.
    Adocionismo = A partir do batismo Deus adotou Jesus como Filho conferindo-lhe poderes sobrenaturais. Não aceitam que Cristo existia antes de ter nascido como homem. Portanto, não aceitam a eternidade de Jesus. Mesmo depois da “adoção” de Jesus como “Filho de Deus”, não consideram igual ao Pai.
     Milhares de pessoas têm acreditado nestas teorias ao longo dos séculos. Muita gente foi, e ainda é, enganada. Precisamos pregar a verdade bíblica e afastar a heresia do meio da igreja de Deus. Muitos, por não estudarem e não terem acesso a verdade, possuem uma visão equivocada da Trindade. Conseqüentemente, toda a espiritualidade fica comprometida.
     Olhar para a Trindade de forma correta é vital para nossa espiritualidade e para a saúde da vida da igreja. A doutrina da Trindade traz implicações sérias para o cerne da fé cristã. Vejamos algumas doutrinas ameaçadas se a Trindade for pregada de forma errada.
     Primeiro, está em jogo a expiação de Cristo. Se Jesus é um ser criado, e não é Deus, é impossível acreditar que uma criatura suportou a ira de Deus contra todos os pecados. Qualquer criatura, por maior que seja, não pode nos salvar. Podemos confiar com fé absoluta que uma criatura irá nos salvar?
     Segundo, se Jesus não é Deus, a justificação pela fé fica ameaçada. Percebe-se isto nos ensinamentos das Testemunhas de Jeová que não crêem na justificação pela fé.
     Terceiro, se Jesus não é Deus, devemos adorá-lo e nos dirigir a Ele em oração? Seria idolatria proceder assim, e, no entanto, o Novo Testamento nos ordena fazer isto: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fp. 2:9-11)
     Quarto, se Cristo como criatura nos salvou, o mérito da salvação não pertence a Deus. Exaltamos a criatura e não o Criador, isto é blasfêmia.
     Portanto, negar a doutrina da Trindade é negar por completo a fé cristã. “Na confissão da Trindade pulsa o coração da religião cristã: todo erro resulta de uma visão distorcida desta doutrina”. (Herman Bavinck) “Tente explicá-la, e perderá a cabeça, mas tente negá-la e perderá a alma”. “O amor e a fé sentem-se em casa no mistério da Trindade. Que a razão se ajoelhe reverentemente do lado de fora”. (A.W. Tozer)

Existe alguma diferença entre as Pessoas da Trindade?
     O que podemos perceber na Bíblia é que as Pessoas da Trindade possuem funções diferentes.
     Percebemos estas diferenças na obra da criação. Deus Pai proferiu as palavras criadoras para gerar o universo. Deus Filho executou os decretos da criação: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. (Jo.1:3) “Porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele”. (Cl.1:16) O Espírito Santo também estava ativo, diz o texto que Ele “pairava” ou “movia-se” sobre a superfície das águas. Aparentemente Ele sustentava e manifestava a presença de Deus na criação.
     Na redenção também vemos as funções distintas da Trindade. O Pai planejou a redenção e enviou seu Filho ao mundo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo. 3:16) “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei”. (Gl. 4:4) O Filho obedeceu ao Pai e realizou a redenção para nós. Nem o Pai nem o Espírito Santo vieram morrer pelos nossos pecados. Isto foi obra específica do Filho! “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. (Jo. 6:38) O Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para realizar em nós a redenção. É papel especial do Espírito Santo dar-nos regeneração (Jo.3:5), santificação (Rm.8:13) e fortalecimento para o serviço (At.1:8)
      Estes papéis não podem ser trocados, ou seja, as pessoas da Trindade existem eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo. Não existe na trindade uma autonomia das três Pessoas, elas não podem existir sozinhas. O Pai só é Pai porque tem um Filho, por sua vez, é o Filho quem define a identidade do Pai. O Filho só é Filho porque tem um Pai, por sua vez, é o Pai quem define a identidade do Filho. O Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho. “Eu e o Pai somos um” – “Quem vê a mim vê o Pai”. Com estas palavras Jesus demonstra a indivisibilidade (impossibilidade de divisão) da Trindade, a impossibilidade do individualismo autônomo. Por um lado Jesus afirma sua identidade como Pessoa: “Eu”. Por outro lado, Ele define que esta identidade não existe sem o Pai: “Somos um”. Esta é a maneira como Deus se revela nas Escrituras: um ser-em-comunhão.
     Essas diferenças de papéis já existiam antes da criação do mundo. Essas relações sempre existiram, não foi algo que aconteceu com o tempo. Podemos afirmar isto por causa da imutabilidade de Deus. Se Deus existe hoje como Pai, Filho e Espírito Santo, então Ele sempre existiu assim. Se Ele mudasse em algum momento, Ele não seria imutável!
     A Bíblia fala do relacionamento que os membros da Trindade tinham antes da criação do mundo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Ef.1:3,4) “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm.8:29)
     Essas diferenças de papéis não são temporárias, elas durarão para sempre! Quando tudo tiver terminado, “Então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”.(I Cor.15:28) Mesmo depois do juízo final, cada Pessoa da Trindade permanecerá como sempre foi!
     Essa diferença nas funções nos mostra outra verdade esquecida sobre a Trindade, os três membros da Trindade são iguais no seu ser, mas subordinados nos papéis. Se o Filho não está eternamente subordinado ao Pai no seu papel, então o Pai não é Pai, nem o Filho é o Filho. Isso significaria que a Trindade não existe desde a eternidade. “A subordinação da Pessoa do Filho à Pessoa do Pai ou, em outras palavras, uma ordem de personalidade, função e ação que permite ao Pai ser funcionalmente o primeiro, o Filho, o segundo, e o Espírito, o terceiro, é perfeitamente coerente com a igualdade. Prioridade não é necessariamente superioridade. Reconhecemos francamente uma subordinação eterna de Cristo ao Pai, mas defendemos ao mesmo tempo que essa subordinação é de ordem, função e ação, não subordinação de essência”. (A. H. Strong)
     Isto nos leva ao ensinamento bíblico de que o Espírito Santo glorifica ao Filho. Este entendimento faz com que a Igreja seja Cristocêntrica em sua teologia e eclesiologia.
     Mediante isto alguém poderia perguntar: “O Pai é mais poderoso e mais sábio que o Filho?” “O Filho é mais importante que o Espírito Santo?” Qualquer pensamento deste tipo é negar a plena divindade dos três membros da Trindade. A diferença na Trindade é de função, mas jamais na divindade, atributos ou na natureza. A diferença está na forma de se relacionarem uns com os outros e com o resto da criação. Eles desempenham papéis apropriados a cada pessoa.
     É importante lembrar que o mais importante na Trindade não é função que cada um desempenha, mas a relação de amor que um possui pelo outro. O que define a identidade deles não é a função, é o relacionamento. A interdependência e o perfeito amor entre os três é que fazem deles apenas um. Aqui a Trindade nos mostra outra verdade: o exercício do amor exige mais de uma pessoa. O amor precisa ser direcionado a uma outra pessoa para que se constitua um verdadeiro amor. Onde existe apenas uma pessoa não existe amor. O amor para ser amor, precisa ser compartilhado! Portanto, se “Deus é amor”, Ele não pode existir solitariamente, não pode ser um Deus uno. “Mas Ele poderia amar a Sua criação”. Este não seria um amor perfeito, pois a criação é inferior ao Criador. Seria algo parecido com um ser humano amar um cachorro. Este amor não pode ser comparado com o amor a outro ser humano. O verdadeiro amor exige um “ser correspondente”, “semelhante”. “Um Deus que não tem alguém com igual dignidade com que possa compartilhar plenamente o seu amor não pode ser um Deus plenamente realizado. Deus não poderia expressar o amor supremo para com a Criação, porque se Ele amasse supremamente alguém que não pudesse ser supremamente amado, o amor seria imperfeito”. (Ricardo de São Vitor)
     Portanto, a partir da Trindade descobrimos que a comunhão com Deus e o próximo não é uma opção. Num mundo cada vez mais individualista, a comunhão e a amizade são a razão de ser do próprio homem! Deus é comunhão e foi assim que nos criou. A nossa natureza exige comunhão! Fomos criados para isto!
     Segundo a Trindade, o homem só encontra sentido para vida na relação de amor e amizade com Deus e o próximo. O sentido de pessoa não é obtido a partir de funções ou papéis que desempenhamos na vida. Não somos o que fazemos nem o que possuímos. Somos o que somos na relação que temos com o outro. As pessoas na Trindade são o que são na relação que nutrem entre si, e não em suas funções. Dá para entender como é impossível ser crente sozinho? Precisamos de uma comunidade para termos comunhão e ser quem realmente somos!
     Sabendo disto, Satanás fará de tudo para romper a comunhão da igreja, pois assim, ele destruirá a nossa identidade. Quando a harmonia nas relações com Deus e o próximo são rompidas o que resta é egoísmo, individualismo, solidão, soberba, amargura, ódio... pecado = separação de Deus!
     É por causa disto que todo esforço divino na história é para promover alianças, reconciliação, religião (religar) com tudo aquilo que o pecado rompeu. Se desejamos a felicidade, precisamos aprender a nos relacionar com Deus e com o próximo. Compreender esta verdade e participar dela constitui a experiência mais rica e mais profunda da alma humana!

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