Este assunto é um mistério que jamais iremos entender plenamente. Apesar de todas as explicações, jamais conseguiremos entender esta verdade em sua plenitude.
Esta é uma das doutrinas mais importantes da fé cristã. Ela é aceita e reconhecida em todos os Credos adotados pelas igrejas cristãs. Está presente na linguagem, nos sacramentos e nas orações.
Não existe a palavra “Trindade” na Bíblia. Aprendemos esta doutrina por textos que mostram um único Deus e três pessoas fazendo parte da divindade.
Apesar de ser uma das doutrinas mais importantes, é uma das doutrinas menos difundida, pregada e conhecida. A Trindade tem sido considerada irrelevante e sem nenhuma proposta prática para a vida cristã. É interessante o comentário do teólogo Karl Rahner sobre esta questão: “Se a doutrina da Trindade for considerada falsa, a maior parte da literatura religiosa permanecerá inalterada”. Perceba qual é a atenção que temos dado a esta doutrina em nossas vidas? Quando foi a última vez que você ouviu um sermão sobre este assunto? Quais são os livros que você já leu sobre este importante tema? Achamos que esta questão é para teólogos, estudiosos, filósofos e não para o povo estudar.
Este desinteresse por esta doutrina se dá, principalmente, porque vivemos numa geração pragmática que rejeita tudo aquilo que não é prático e objetivo. Dizemos que acreditamos na Trindade, mas na prática a ignoramos grandemente! Não sabemos distinguir qual é o papel e a função de cada pessoa da Trindade. Não sabemos nos relacionar com cada uma das pessoas santíssimas. A verdade é que o nosso Deus é uno e não trino. Somos monoteístas unitários e não monoteístas trinitários como ensina a Bíblia.
Junto com o desinteresse por esta doutrina, o individualismo dos nossos dias contribui para uma percepção incorreta desta doutrina. O individualismo dos nossos dias gerou na consciência humana um processo de fragmentação. Vemos isto quando alguns cristãos demonstram sua preferência por alguma pessoa da Trindade. Valorizam uma Pessoa e rejeitam as outras. Algo completamente errado!
Algumas pessoas acreditam quer esta doutrina só é ensinada no Novo Testamento. Afirmam que os escritores do Velho Testamento ainda não tinham noção da Trindade. Embora não encontremos esta doutrina explicitamente no Velho Testamento, várias passagens nos mostram que Deus existe como mais de uma pessoa. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn.1:26); “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn. 3:22); “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gn.11:27); “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is. 6:8). É verdade que não dá para sabermos no Velho Testamento quantas são as pessoas que fazem parte da divindade. No entanto, percebe-se claramente que existe mais de uma pessoa.
Já no Novo Testamento podemos perceber a doutrina da Trindade claramente. Existem vários textos do Novo Testamento que deixam claro a doutrina da Trindade. “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele; e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. (Mt. 3:16,17) Temos aqui, ao mesmo tempo, os três membros da Trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala do céu. Deus Filho é batizado e ouve a voz do Pai que vinha do céu. Deus Espírito Santo desce do céu na forma de uma pomba e posa sobre Jesus para dar-lhe poder em seu ministério. Outros textos que falam da Trindade no NT = (Mt.28:19; II Cor.13:13; Ef.4:4-6; I Pe.1:12; Jd. 20,21; I Jo.5:7)
Três declarações que resumem o ensinamento bíblico. 1 – Deus é três pessoas. 2 – Cada pessoa é plenamente Deus. 3 – Há um só Deus.
1 - Deus é três pessoas.
Isto significa que o Pai não é o Filho e nem o Espírito; o Filho não é o Espírito. Eles são três pessoas distintas com personalidades diferentes!
Ao longo dos anos, analogias têm sido feitas para explicar a Trindade. Em busca de um melhor entendimento desta doutrina, os homens têm buscado exemplos da Trindade no mundo. Todas elas são equivocadas e incorretas. Vou citá-las e vamos descobrir onde está o erro.
“A Trindade é como um homem que realiza três funções ao mesmo tempo”. Este homem é ao mesmo tempo, advogado, dentista e arquiteto. É como um homem que desempenha a função de marido, pai, e avô. Esta analogia está completamente errada! Aqui uma pessoa realiza três funções. A Trindade são três pessoas que realizam funções distintas.
“A Trindade é como um trevo de três folhas”. Neste caso o exemplo fala de três partes, mas ele é apenas um trevo. Cada folha faz parte do trevo. Neste caso, não se pode dizer que cada folha é todo o trevo. Cada Pessoa da Trindade é plenamente Deus e não apenas uma parte separada de Deus.
“A Trindade é como uma árvore: raízes, tronco e ramos, mas apenas 1 árvore”. Estamos diante do mesmo problema do exemplo anterior do trevo. Não se pode dizer que cada uma destas partes é a árvore inteira. Outro erro nesta analogia: aqui as partes têm propriedades distintas. Na Trindade, cada pessoa possui todos os atributos de Deus em igual medida.
“A Trindade é como a água: vapor, água e gelo, mas continua sendo água”. Nenhuma quantidade de água é ao mesmo tempo todas as três formas. As três formas tem características diferentes. Existem muitas outras analogias, mas nenhuma delas reproduz com precisão e acerto a doutrina da Trindade. Em nenhum lugar da Bíblia existe qualquer analogia para explicar a Trindade. Concluímos que qualquer analogia com a Trindade é perigosa e deve conter muitos erros.
O Pai não é o Filho. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”. (Jo.1:1,2) “Estar com” prova que o Verbo é distinto do Pai. “Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois me amaste antes da fundação do mundo”. (Jo.17:24) Este texto nos mostra distinção de pessoas - No pedido do filho ao Pai - compartilhamento de glória - “Para verem a minha glória, a qual me deste” – e relação de amor - “pois me amaste antes da fundação do mundo”; “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. (I Jo. 2:1) Jesus é o nosso Sumo Sacerdote e Advogado perante o Pai. A fim de interceder por nós perante o Pai, é necessário que Cristo seja uma pessoa distinta do Pai.
O Pai e o Filho não são o Espírito. “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. (Jo.14:26) È clara a distinção entre o Espírito Santo e o Pai. “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei”. (Jo.16:7) Cristo voltou ao céu e enviou o Espírito Santo à Igreja.
Algumas pessoas alegam que o Espírito Santo não é uma pessoa distinta, mas o poder ou a força de Deus em atuação no mundo. (Jo.14:16,26; 15:26) “Consolador” é um termo usado para falar de uma pessoa que dá consolo e conforto aos outros. Outras atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo: Ensinar: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. (Jo.14:26) Dar testemunho: “Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim”. (Jo.15:26) Sondar as profundezas de Deus: “Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus”. (I Cor.2:10) Conhecer os pensamentos de Deus: “Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus”. (I Cor. 2:11) Conceder dons: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer”. (I Cor.12:11) Se entristecer diante do pecado: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”. (Ef. 4:30)
Se o Espírito Santo é o poder de Deus, e não uma pessoa distinta, então várias passagens não fazem sentido. Várias passagens mencionam tanto o Espírito Santo quanto o poder de Deus: “Então voltou Jesus para a Galiléia no poder do Espírito; e a sua fama correu por toda a circunvizinhança”. (Lc. 4:14) O sentido aqui seria: “Jesus, no poder do poder”. “Concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele”.(At.10:38) O sentido aqui seria: “Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com poder”.
2 – Cada Pessoa é plenamente Deus.
Além de serem três pessoas distintas, as Escrituras nos mostram que cada pessoa é plenamente Deus. Deus Pai é Deus. Em todo o Velho Testamento e Novo Testamento o Pai é retratado como Senhor soberano de tudo. Deus Filho é Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. (Jo.1:1); “Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu”. (Jo.20:28); “Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. (Tt. 2:13); “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade”. (Cl. 2:9)
Deus Espírito Santo é Deus: “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt. 28:19). O Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho: “Por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo? Não mentiste aos homens, mas a Deus”. (At. 5:3,4) “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (I Cor. 3:16) O templo de Deus é o local onde o próprio Deus habita.
Se a Bíblia ensinasse apenas estas duas verdades - “Deus é três pessoas” / “Cada Pessoa é plenamente Deus”- não haveria dificuldade de entendimento. Concluiríamos que existem três deuses. Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos: “Triteísmo”. Contudo, este não é o ensinamento das Escrituras! A Bíblia ensina que são três pessoas, mas apenas um Deus. Este é o grande mistério!
3 – Só há um Deus.
“As três diferentes pessoas da trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial”. (Wayne Gruden) Em outras palavras, Deus é ser só, não existem três deuses! Textos bíblicos que demonstram um único Deus: ”Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt. 6:4,5); “O Senhor é Deus e não há outro” (I Rs. 8:60); “Há um só Deus” (I Tm. 2:5); “Deus é um só”(Rm. 3:30); “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem”(Tg. 2:19); Quando Deus fala, Ele não fala como deus dentre três que devem ser adorados: “Eu sou o Senhor e não há outro, além de mim não há Deus”. (Is. 45:5)
A Bíblia não nos pede para acreditarmos numa contradição. Contradição seria dizer o seguinte: “Só existe um único Deus e não existe um único Deus. Deus é três Pessoas e Deus não é três Pessoas. Deus é três Pessoas e Deus é uma Pessoa”. Dizer que “Deus é três Pessoas e só há um Deus” não é contradição. Simplesmente é algo que não conseguimos compreender, é um mistério, um paradoxo, mas jamais uma contradição!
Precisamos fazer diferenciação entre compreender a verdade e contradizer a verdade. Dizer que Deus é Um e Três só é contraditório se dissermos que ele é ambos do mesmo modo e ao mesmo tempo. Mas não é isso o que o Cristianismo afirma. O Cristianismo ensina que Deus é Um em essência e Três em pessoa. Compreendemos o suficiente para aceitar, mas não o suficiente para satisfazer a nossa curiosidade. Contudo, não ser capaz de compreender a Trindade é espiritualmente saudável. Não compreender a natureza nos mostra que somos limitados e que Deus é infinito. Isso nos humilha diante de Deus e leva-nos a adorá-lo!
Negar qualquer uma destas três proposições é heresia e ir contra a Palavra de Deus. Ao longo da história vários erros doutrinários foram cometidos contra a Trindade. É importante conhecê-los e analisá-los para que não venhamos a repeti-los, afinal, como disse Goethe, “Quem não conhece o passado e não se dispõe a aprender com ele, está fadado a repeti-lo estupidamente no presente e no futuro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário