Poucas coisas têm a capacidade de nos conduzir a adoração a Deus como o estudo dos seus atributos. No salmo 139 encontramos o salmista exaltando o atributo divino da onipresença, algo que deve nos consolar e não nos colocar medo. Digo isto porque durante muito tempo a onipresença divina me levou a ter certo medo do Senhor. A forma como esta verdade foi transmitida ao meu coração trouxe mais pavor do que consolo. Isto aconteceu através daquele cântico infantil que dizia: “Cuidado mãozinha no que pega... o Salvador no céu está olhando prá você, cuidado...” Isso era um terrorismo! O Salvador olhava com ameaça e não com amor, com suspeita e não com graça. Confesso que eu ficava apavorado!
Wayne Gruden definiu onipresença como: “Deus não tem tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com todo o seu ser; ele, porém, age de modo diversos em lugares diferentes”. Perceba que a ideia não é de que parte de Deus está num lugar, e outra parte dele noutro lugar. Deus está por completo em todos os lugares! Deus, diz a Bíblia, é Senhor do espaço e não pode ser limitado pelo espaço. Até porque, a criação do mundo material implica também na criação do espaço.
Por mais difícil que seja, evite pensar no Criador em termos de tamanho ou de dimensões espaciais. Deus é um ser que existe sem tamanho nem dimensões no espaço. Pense no seguinte, antes que Deus criasse o universo, não havia matéria nem material. Logo, também não havia espaço, no entanto, Deus existia mesmo assim. Onde estava Deus? Não se encontrava num lugar onde poderíamos chamar “onde”, afinal, não havia nem “onde”, nem “espaço”. Mas Deus ainda assim existia! Esse fato nos faz perceber que Deus se relaciona com o espaço de uma maneira bem diferente da nossa ou de qualquer coisa criada.
Embora para nós seja necessário dizer que todo o ser de Deus está presente em toda parte do espaço, é também necessário dizer que Deus não pode ser contido por espaço nenhum, por maior que seja este espaço. Salomão em sua oração de consagração do Templo disse o seguinte: “Habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que edifiquei”. (I Re. 8:27)
Diz a Bíblia que os céus e o céu dos céus não podem conter a Deus. Na verdade, Ele não pode ser contido nem mesmo pelo maior espaço imaginável. “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés, que casa me edificarei vós? E qual é o lugar do meu repouso?”. (Is. 66:1) Este é um dos motivos pelos quais em Atos 7:48 encontramos Lucas afirmando que Deus não habita em casas feitas por mãos humanas. Portanto, a presença de Deus a tudo permeia! Em Jeremias 23 Deus repreende aos profetas que pensam que suas palavras ficam ocultas do Senhor. Ao fazer tal repreensão, Ele nos revela a sua onipresença: “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? – diz o Senhor; porventura, não encho eu os céus e a terra? – diz o Senhor”. (v.24)
A onipresença divina está diretamente relacionada com algumas verdades bem práticas para as nossas vidas. Primeiro, Onde quer que estivermos, podemos nos dirigir a Deus em oração. Depois da cruz de Cristo, o homem não precisa mais se dirigir a um lugar específico de adoração. Agora, em qualquer lugar da terra ou do universo, podemos falar com o Senhor. O véu do templo rasgou-se de alto a baixo demonstrando que temos livre acesso ao Senhor. Isso significa que a partir de então, Não existem mais lugares especiais de adoração. Se Deus não pode ser contido por espaço nenhum, logo, qualquer lugar deste universo é um altar. Não existem templos, mesquitas, sinagogas, tendas, monte... sagrados.
Você já recebeu o convite para “ir ao monte orar”? Poderíamos perguntar: “Por quê? Lá é mais santo do que a varanda da sua casa? A presença de Deus manifesta-se com mais força ali do que no seu quarto?” Se existissem lugares sagrados, como ficariam aqueles cristãos em lugares onde o evangelho não é permitido? Portanto, por causa da onipresença divina, as almas necessitadas espalhadas por este mundão podem se dirigir ao Senhor a qualquer momento e de qualquer lugar.
Em terceiro lugar, por causa da sua onipresença, Deus concede uma atenção especial a cada alma aflita que existe neste planeta. Agostinho em suas confissões afirma que Deus cuida de cada um de nós “como se não tivesse mais nada que cuidar, cuidando de todos como de cada um”. Isto nos lembra que Deus jamais nos trata como números, mas individualmente. Deus não nos trata de forma fria e imparcial, pelo contrário, Ele sabe de cada necessidade individual. Não somos apenas mais um dos bilhões de pacientes do consultório celestial. Somos tratados de forma especial, única, especial, personalizada.
Ao refletir sobre a onipresença de Deus, devemos ter o cuidado de não pensar que Deus seja equivalente a qualquer parte da criação. O panteísta crê que tudo seja Deus, ou que Deus seja tudo o que existe. O ensino bíblico é que Deus está presente em toda parte da sua criação, contudo, Ele é distinto da criação. Como pode ser isto? A analogia de uma esponja cheia de água não é perfeita, mas é útil. A água está presente em todas as partes da esponja, mas ainda assim, é diferente da esponja. O mesmo acontece com a relação do Criador com a sua criação. Alguém pode perguntar: “Mas por que a ilustração não é perfeita?” Porque ela utiliza dois materiais que tem dimensões espaciais, o que não é o caso de Deus.
Alguém pode perguntar: “Se Deus é onipresente, Ele está presente no inferno?” “Não é o inferno o oposto da
presença de Deus, ou a ausência de Deus?” Neste caso precisamos lembrar do fato de que Deus está presente em todo lugar, no entanto, a sua manifestação não é a mesma em todos os lugares. Deus age diferentemente em locais distintos da sua criação. Segundo a Bíblia, a presença de Deus se faz presente para punir, sustentar e abençoar. E existem alguns lugares, - o inferno é um deles - onde Deus está presente para punir (Amós 9:1-4).
Além de punir, Deus se faz presente para sustentar ou manter o universo existindo e funcionando do modo que Ele quer que funcione. “Nele, tudo subsiste”. (Cl. 1:17) “Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder”. (Hb. 1:3) Embora haja algumas referências à presença de Deus para sustentar e para punir, a grande maioria das referências bíblicas à presença de Deus são para abençoar. E são essas referências que nos ajudam a entender outras passagens que podem sugerir que Deus não é onipresente. Por exemplo, alguns textos afirmam que Deus está “longe” =“O Senhor está longe dos perversos, mas atende à oração dos justos”. (Pv. 15:29) Este “longe” não significa ausência, mas quer dizer que “não está presente para abençoar”.
O certo é que, de acordo com o ensinamento geral das Escrituras, a onipresença divina é algo que deve nos levar à adoração e ao louvor, afinal, por estar em todos os lugares, o nosso Deus cuida, protege, preserva, monitora, conserva, abençoa, repreende... a todos nós.
Quando temos este entendimento acerca deste grandioso atributo divino, podemos, com todo o nosso coração, erguer nossa voz ao céu e cantar com todo o entendimento que:
Tua presença é a razão da minha fé!
Tua presença me conduz onde estiver!
Se na seara o meu trigo não produz,
Só não me falte a presença de Jesus!
Até que um dia seu amor senti, a sua imensa graça recebi,
Descobri então que Deus não vive longe lá no céu sem se importar comigo.
Mas agora ao meu lado está, cada dia sinto o seu cuidar, ajudando-me a caminhar.
Abraham Kuyper certa vez afirmou que “não existe um centímetro quadrado em toda a área da existência humana sobre o qual Cristo, que é o Senhor sobre todas as coisas, não declare: ‘Isto é meu’”.
A compreensão de quem Deus é deve nos conduzir a adoração. Se olharmos no Salmo 139, devo adorar a Deus pelas manifestações fantásticas, tremendas e profundas do seu conhecimento (v.6); devo adorá-lo pelo seu assombroso poder (v.14); devo adorá-lo pelos seus admiráveis pensamentos (v.17,18); devo adora-lo por sua sufocante e impressionante onipresença (v.7,8).
Na verdade, o salmista está dizendo o seguinte: “Nossa vida inteira deve ser um ato de adoração. Nossa existência deve ser um convite à adoração. O cosmo nos convida a adoração, tudo ao nosso redor deve nos induzir a adoração. A terra está cheia da glória do Senhor, e perceber esta glória deve nos levar à adoração”.
Encerro citando o famoso texto de Herman Bavinck sobre a onipresença de Deus: “Quando você quer fazer algo mau, foge da presença do público, oculta-se em casa onde nenhum inimigo possa vê-lo; evita os lugares da casa abertos e visíveis aos olhos dos homens e busca o recôndito do próprio quarto; mas mesmo no seu quarto teme alguma testemunha de outro canto; então, retira-se ao próprio coração, e ali medita: Ele é mais íntimo do que o seu coração. Portanto, para onde quer que você fuja, lá está Ele. De si mesmo, para onde fugir? Pois não acompanhará você a si mesmo onde quer que busque esconder-se? Mas como existe Aquele que é mais íntimo até que você, não há lugar para onde possa fugir do Deus irado, a não ser para o Deus reconciliado. Não há absolutamente lugar nenhum para onde você possa fugir. Quer fugir dele? Fuja para Ele”.
“Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá”.
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