sexta-feira, 4 de junho de 2010

A IMPOPULARIDADE DO VERDADEIRO EVANGELHO

Depois de Jesus ter multiplicado os pães e os peixes, diz-nos o Evangelho de João que a multidão resolveu coroá-lo o seu rei: “Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se, novamente, sozinho, para o monte”. (Jo. 6:14,15) O raciocínio do povo foi o seguinte: “Um homem que faz milagres como esse precisa ser o nosso rei”. Afinal, quem não gosta de comer de graça? Quem não gostaria que a vida fosse sempre assim? Isto é que é segurança de trabalho, fundo de garantia sem tempo de serviço. Quem não gosta de ter sustento gratuito? Quem é louco de desprezar um líder que lhes concede todos estes benefícios? Sendo assim, o povo concluiu: “Vamos, imediatamente, coroá-lo o nosso rei!”
É interessante, e ao mesmo tempo, lamentável, o fato de que o homem sempre correu atrás de entretenimento, de shows, de coisas espetaculares. Quer ver uma igreja ficar abarrotada de pessoas? É só anunciar cura, libertação, milagres, manifestações sobrenaturais, shows do famoso cantor ou da banda do momento. Agora, convide as pessoas para estudar teologia, para ouvirem sobre o pecado, sobre a necessidade de tomar a cruz, de negar a si mesmo... já era! Não vai aparecer ninguém! Semelhantemente, convoque a população para discutir política, crescimento urbano, moralidade, justiça... o evento pode ser de graça, não será possível encher um ônibus. Agora, promova um show de pagode, de axé, de samba... e cobre 50 R$, 60 R$, 70 R$ o ingresso, ainda assim, vai lotar! Os imperadores romanos, séculos atrás, descobriram a fórmula de lidar com a população: pão e circo.
No dia seguinte ao milagre da multiplicação dos pães, o povo correu novamente atrás de Jesus (Jo. 6:22-24) Eles queriam mais milagres! Eles queriam mais espetáculo! Ao se encontrarem com Jesus a primeira pergunta que fizeram foi a seguinte: “Mestre quando chegastes aqui?” (v.25) Ou seja: “Será que nós perdemos alguma coisa?” “Será que perdemos algum milagre, alguma manifestação espetacular?” “Será que perdemos alguma multiplicação dos pães?” “Como foi este milagre? Será que foi de pão doce? Teve pão de queijo com recheio?” “Quando chegastes aqui?”
Jesus que era Deus, mas que não era bobo; era puro, mas não era ingênuo, disse-lhes o seguinte: “Vós me procurais porque comeste dos pães e vos fartastes”. (v.26) Jesus sabia que a multidão come e come com vontade! Jesus sabia que eles estavam atrás apenas do alimento físico. Sendo assim, Jesus começa a fazer uma série de exortações àquelas pessoas. “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna”. (v.27) “Eu sou o pão da vida”. (v.48) “Se não comerdes a carne do Filho do homem, não tendes vida em vós mesmos”. (v.53) Diante destas palavras de Jesus, qual foi a reação daqueles que andaram vários quilômetros para estar com Ele? “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? (v.60) “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele”. (v.66)
O verdadeiro evangelho não vai ter muitos adeptos, nunca vai ser popular! Isto acontece porque o genuíno evangelho humilha o homem, fere o seu ego, mostra o verme que ele é. O evangelho bíblico não massageia o ego humano, não faz as suas vontades, não atende aos seus melindres. O evangelho das Escrituras – diferentemente deste que é vendido por aí – se preocupa unicamente com a glória de Deus e não está nem aí para as vontades humanas.
O verdadeiro evangelho nunca vai atrair a atenção das multidões. Nesta ocasião Jesus teve de fazer uma escolha: Ter cinco mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo. Em outras palavras, Jesus teve de tomar uma decisão entre muitos consumidores e poucos discípulos fiéis. Jesus poderia ter satisfeito às necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido coroado rei, e teria o povo ao seu lado. Sairia na mídia, sua igreja passaria a ter dois, três, quatro cultos domingo à noite. Ele ganharia dinheiro, ficaria famoso, seria requisitado para congressos e seminários. Contudo, o nosso Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.
Quando se deparou com os consumidores, Jesus fez um duro discurso. Ele não aliviou! Ele não passou a mão na cabeça! Ele não racionalizou! Ele não pegou leve! Ele disse o que precisava ser dito, a ponto do povo dizer: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir”. E não suportando o discurso “muitos dos seus discípulos o abandonaram”. (v.66)
Atualmente a preocupação não está em achar um público para ouvir a mensagem, mas em encontrar uma mensagem para o público que temos. Quando o público e não a mensagem se torna soberana, o Evangelho não é mais o fim, mas simplesmente o meio para se alcançar alguma coisa. Lutero já tinha advertido sobre isto ao afirmar que: “A questão não é se o ensino é belo, atraente, impressionante ou popular. A questão é: ele é verdadeiro? Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que este faça chover milagres todos os dias”.
Jesus preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados.

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