sexta-feira, 4 de junho de 2010

O SILÊNCIO DA ALMA

No salmo 46:10 lemos o seguinte: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. Infelizmente, esta é uma das ordens mais negligenciadas pelos filhos de Deus. Para o homem moderno, o silêncio atua como a presença de uma pessoa inoportuna, um sujeito que insiste em denunciar nossos fracassos. Não há nada mais constrangedor num culto, numa reunião de oração ou de negócios, do que os espaços vazios. A nossa sociedade organizou-se de tal maneira que não é mais possível existir espaços vazios.
Normalmente, quando se fala em silêncio e contemplação, o que de imediato nos vem à mente são as figuras dos velhos eremitas, homens mergulhados numa total solidão, alienados do mundo. Monges enclausurados nos velhos mosteiros. Contudo, a solitude é mais uma, das várias práticas espirituais, que foi abandonada pelo cristianismo ocidental.
O mundo moderno não sabe o que significa silêncio e contemplação. Todos estão com a agenda lotada, e isto, tornou-se um “status” para o homem moderno. Agenda cheia dá-nos a sensação de importância, de valor. Ninguém daria valor a um médico cuja sala de espera estivesse vazia. A maioria dos membros de uma grande igreja, ao tentar falar com o pastor, iniciam com o mesmo discurso: “Sei que o senhor tem uma vida muito atarefada e quase não tem tempo, mas será que é possível apenas um minutinho?”
Infelizmente e diabolicamente, o que paira na mente dos cristãos hoje é que um pastor que passa algumas horas do dia recolhido em silêncio e oração não será um grande pastor. As igrejas querem líderes “dinâmicos”, pastores que mobilizam o mundo, que não podem desperdiçar sem tempo com atividades não produtivas como oração, estudo e meditação.
Existe um pequeno livro intitulado “Café com Deus”, onde o autor diz o seguinte: “Enfim, um verdadeiro fast-food devocional: de leitura rápida, mas nem por isso desprovido de conteúdo. Para pessoas que não dispõem de muito tempo, mas desejam adquirir o saudável hábito da comunhão diária com Deus, na meditação em sua Palavra e na prática da oração.” O autor tenta se adequar aos tempos modernos ajustando a vida devocional ao corre-corre de todos nós. Será que é disto que estamos precisando? A proposta para o homem moderno deveria ser exatamente o contrário desta idéia! Será que é possível alguém que ama a Deus não dispor de tempo para Deus? Será que é possível construir um relacionamento profundo, íntimo e pessoal com Deus sem dispor de tempo para este encontro?
A verdade é que não temos tempo e não gostamos de olhar para nossa agenda e encontrar nela buracos vazios. Na sociedade americana, da classe média para cima, 90% dos pais convivem 3 minutos por dia com seus filhos. Thomas Kelly sabiamente advertiu: “Somos ocupados demais para sermos boas esposas para nossos maridos, bons maridos para nossas esposas, bons pais para nossos filhos e bons amigos para os nossos amigos, e não temos tempo algum para sermos amigos daqueles que não têm amigos.”
A idéia da não fazer nada é aterrorizante para a maioria das pessoas. Isto pode ser visto nitidamente quando alguém faz uma cirurgia e é obrigado a ficar um longo período em repouso. O que ouvimos de tais pessoas é o seguinte: “Eu não consigo ficar parado”. Que lástima! Pelo menos a pessoa capaz de não fazer nada pode ser capaz de abster-se de fazer a coisa errada, e então talvez seja mais capaz de fazer a coisa certa.
Toda pessoa deveria ter ao longo da vida períodos regulares dedicados a não fazer nada. Os grandes teólogos e concordam que os períodos de solitude e silêncio são oportunidades excelentes de aprender a não fazer nada. A cura para o excesso de afazeres é solitude e o silêncio, pois ali você descobre que é seguramente mais do que aquilo que faz. Alguém já disse que “a cura da solidão é solitude e silêncio, pois ali você descobre inúmeros motivos para jamais se considerar só”. Isto pode ser verdade, afinal, a água barrenta fica clara se você a deixa descansar um pouco.
Pascal certa vez afirmou: “Descobri que toda a infelicidade dos homens nasce de um fato simples: são incapazes de ficar em silêncio no seu quarto”. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” disse Deus através do salmista. Sem dúvida que uma das maiores realizações espirituais é a capacidade de não fazer nada, e, a partir daí, ouvir Deus, repensar conceitos e valores, admirar o belo, encantar-se com o mundo ao seu redor.
Aprenda que você não precisa fazer para ser. Aceite a graça de não fazer nada. Mantenha-se nesse propósito até que toda a inquietação tenha passado. Você acabará percebendo que não está levando o mundo nas costas.

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