quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CONSUMISMO

Para entender a mentalidade consumista, precisamos entender onde estamos e como conseguimos chegar a este ponto. O “pós” do mundo pós-moderno indica que estamos vivendo em uma sociedade que vem, de alguma forma, depois do mundo moderno. É claro que, em termos lingüísticos, isto é um absurdo, afinal, tudo que é atual é, por definição, moderno. Contudo, o termo “moderno” está sendo usado em um sentido diferente aqui. “Moderno” refere-se à ideia de “modernismo”, e esta palavra é o rótulo dado a um conjunto de ideias ligadas ao Iluminismo dos séculos XVII e XVIII na Europa. O movimento afirmava que o homem tinha “amadurecido” e não precisava mais de ideias tolas e infantis, como acreditar em Deus. “Somos nossos próprios senhores”, “acima de tudo, a ciência e a razão irão gerar uma sociedade boa e justa”, “não precisamos de outra coisa, a não ser, observar e pensar”.

Os iluministas acreditavam que estas ideias trariam a tão sonhada liberdade para o homem. O Iluminismo gerou uma fé otimista no progresso. Livres da decepção e opressão da religião, as pessoas teriam liberdade de pensamento, prosperidade sob a luz do racionalismo. Esta era a visão do período moderno. Mas como esta visão otimista do modernismo começa a desmoronar, vivemos agora em um mundo pós-moderno. As pessoas estão perdendo a fé com a ideia de que a sabedoria humana é suficiente para solucionar todos os problemas da raça humana. Estamos nos afastando da crença na verdade objetiva universal e na certeza. Por exemplo, a ideia de que a moralidade deve ser igual para todos, independente da época, é considerada absurda!

De alguma forma, estamos sendo levados a uma forma de pensar que é mais incerta e onde o irracional ocupa um espaço maior na vida das pessoas. Ao contrário do que já se pensou e defendeu com “unhas e dentes”, o pensamento racional e a ciência não são vistos como os salvadores da raça humana. O mundo percebeu que o ser humano tem necessidades mais profundas. Fazemos parte de uma sociedade em que as pessoas acreditam que o que sentimos é mais importante do que o que pensamos.

Neste mundo pós-moderno é claro que todos nós temos de consumir coisas para viver, contudo, parece que estamos caminhando na direção de uma sociedade que vive para consumir. As pessoas gostam do sentimento de escolher e comprar. De alguma forma, nos sentimos seguros e confortáveis adquirindo bens.

O consumismo concentra-se no presente, neste mundo, nos nossos cinco sentidos: tato, paladar, visão, audição e olfato. O foco do consumismo está nos bens materiais e nas coisas que divertem e alimentam nossos sentidos. O consumismo nos apresenta os serviços e bens materiais como uma promessa de felicidade. As pessoas são tentadas a depositar suas esperanças na riqueza e nos bens materiais. Os objetos variam muito, de casas e carros a férias e planos de pensão. Mas a mensagem secular é sempre a mesma: “Você alcançará a felicidade nestas coisas”. Uma vez que dispunha de muitos recursos, o rico insensato na parábola de Jesus se sentia seguro, no controle da situação e bem estabelecido na vida.

O consumismo concentra-se no poder da escolha pessoal do cliente. Gostamos de sentir este poder. Não é apenas o fato de nossas necessidades materiais serem supridas, a grande questão é o poder de escolher que nos fascina e seduz! Ser capaz de escolher o que queremos é uma de nossas formas de expressão, e as pessoas sentem muito prazer nisto. As empresas perceberam que não são apenas as coisas materiais que trazem contentamento, mas que a sensação de poder é a principal responsável pela alegria que as pessoas sentem quando compram algo. Portanto, um dos componentes eficazes do consumismo é o prazer por meio do poder.

Quando entramos em uma loja e mostramos nossos cartões de crédito, fazemos com que os vendedores e atendentes se tornem nossos servos. Somos patrões, e sentimo-nos como deuses. E esta sensação de ser um deus nos é bastante atraente (Gn. 3:5) Podemos ter qualquer coisa que seja o nosso objeto de desejo. Com o sistema de cartão de crédito, somos tentados a gastar um dinheiro que ainda não recebemos. Sendo assim, podemos pensar no consumismo como um novo evangelho, a “boa-nova secular”. Podemos defini-lo, grosso modo, da seguinte maneira: “Consumismo é aquela promessa de felicidade oferecida pelos bens materiais e sérvios que se capitaliza no prazer de escolha do consumidor”.

O consumismo apresenta-se como um método para alcançar a felicidade, e isto é um sucesso, afinal, o que o homem mais deseja é a felicidade. A grande questão a ser observada é o fato de que, biblicamente, a nossa felicidade só será encontrada em Deus. (I Tm.6:17) = Paulo encoraja os ricos a não depositar a sua esperança nas riquezas, mas em Deus. (Rm. 1) = Este é o estado natural do homem longe de Deus, ele tem a tendência de adorar a criatura –as coisas materiais – ao invés do Criador. Ao agir assim, o homem muda a ordem da criação, pecando contra Deus.

Como cristãos, qual deve ser a nossa postura? Surpreendentemente, não devemos ser totalmente contrários. Devemos perceber que o cristianismo é uma religião materialista. Ao contrário de alguns heréticos que acreditavam que as coisas materiais eram más e diziam “Não se case, não toque neste alimento” (I Tm.4), nós acreditamos que o mundo material foi criado por Deus, e, portanto, há algo de bom neste mundo criado por Deus. Na encarnação, o próprio Deus assumiu a forma física. Portanto, devemos ser cuidadosos quanto à nossa forma de lidar com a questão dos bens. Não devemos ser totalmente negativos com relação a isto.

O grande problema a ser percebido é o fato de que uma vez que o consumismo molda os nossos pontos de vista, ele afeta a nossa espiritualidade. O modo como o consumismo modela o caráter das pessoas não corresponde necessariamente ao modo como Cristo, no evangelho, quer que o nosso caráter seja moldado. Por exemplo, numa sociedade acostumada com o cartão de crédito que nos diz que podemos ter aquilo que desejarmos já, neste instante, como uma pessoa aprende sobre a graça cristã da paciência? O consumismo nos afasta do foco! Embora muitos aspectos do consumismo não sejam necessariamente errados, eles nos desviam do nosso foco, do nosso alvo, dos nossos objetivos como cristãos.

Sobre este assunto é bom lembrarmos e perguntarmos: O que aconteceu com a contracultura cristã? De que maneira os cristãos são diferentes de tudo isto que existe por aí? Parecemos frequentemente tão envolvidos e imersos na promessa de felicidade proposta pelo consumismo quanto qualquer outra pessoa. A Palavra de Deus nos revela coisas que nos causam certo desconforto. Nada há de errado com o mundo material, no entanto, os cristãos estão sendo levados cada vez mais a adorar as coisas criadas. É provável que a nossa alegria esteja alicerçada nas criaturas em vez de firmadas no Criador. Muitos se tornaram mais amantes dos prazeres do que de Deus (II Tm.3:4) Talvez não haja nada de errado com certas coisas que podemos comprar, no entanto, a vida fica tumultuada e absorvida por coisas, atividades, diversão e tudo o mais que achamos tempo para fazer. Nossa vida acaba sendo contaminada, não necessariamente por grandes corrupções, mas por assuntos triviais. Nas palavras de John Bunyan, nos desviamos na Campina. Em linguagem antiga, nos tornamos mundanos.

Ao contrário da nossa sociedade de consumo com suas identidades dispensáveis, Jesus salienta que a verdadeira identidade das pessoas não se mostra pelas suas roupas, pela sua raça, pela sua educação ou pelo seu sexo. A verdadeira identidade das pessoas se mostra pelo seu comportamento. Ou seja, Jesus está dizendo que há uma relação entre a verdadeira identidade e a conduta das pessoas. Sendo assim, podemos reconhecer os verdadeiros filhos de Deus quando eles verdadeiramente andam na vontade de Deus.

Percebemos esta verdade na parábola do bom samaritano. O ponto central da parábola é que o homem deitado quase morto na estrada era inidentificável. Este é o ponto chave da parábola! Havia muitos grupos, diferentes raças, diferentes seitas judaicas, diferentes culturas religiosas na Palestina. Existiam vários tipos de pessoas e, cada uma delas, poderia ser identificada por sua roupa, pelo sotaque ou qualquer outra coisa. O grande problema é que este homem não tem como ser identificado! Ele está inconsciente e nu. Ele é apenas um ser humano em necessidade. Se alguém perguntar: “Ele é um dos nossos?”, não há como saber. Desta forma, é possível aplicarmos o verdadeiro teste para sabermos quem verdadeiramente é filho de Deus. O homem sem identidade deitado no caminho torna-se o teste da verdadeira identidade daqueles que passam por ele na estrada sem o ajudar, daqueles que param para lhe dar socorro mesmo não sabendo quem ele é. Portanto, a primeira coisa que a parábola nos ensina é olhar alguém além da imagem exterior. O consumismo prega exatamente o contrário deste princípio...

Deveríamos demonstrar amor ao nosso próximo não porque ele faz parte do nosso grupo ou raça, ou o que quer que seja, mas simplesmente porque ele é um ser humano feito à imagem de Deus.

Nos EUA, com o advento da industrialização, formou-se uma grande lacuna entre produção e consumo. Com isso, a pergunta óbvia que surgiu foi a de como esta lacuna seria preenchida. Falando em termos simples, havia duas opções disponíveis: Primeiro, diminuir a produção e, com isso, os possíveis lucros; ou, ensinar as pessoas a consumir mais do que o necessário. Não é de admirar que a segunda opção tenha sido a escolhida.

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