quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A MAIOR CARACTERÍSTICA DA TRINDADE NO HOMEM: A COMUNHÃO

     Existe uma teoria que afirma que Deus nos criou porque estava solitário. Esta noção não encontra base nas Escrituras. Dostoievski dizia que é o homem que possui um vazio do tamanho de Deus e não Deus que possui um vazio com o formato do homem. Esta idéia jamais pode ser aplicada a Santíssima Trindade. Cercada, apoiada e coberta pela presença e procissão do coral de milhares de hostes celestiais, a Trindade não poderia estar sozinha.
     O que diferencia o Deus cristão dos outros deuses, é que o Deus do cristianismo é um Deus Trino, Ele se relaciona entre si. O Pai, o Filho e o Espírito Santo se relacionam e mantém unidade e comunhão entre eles. O judaísmo e o islamismo acreditam num monoteísmo unitário. Nestas religiões o deus adorado é um ser solitário, ele não possui ninguém para se relacionar. Já no cristianismo a crença é num monoteísmo trinitário, um Deus em três pessoas distintas. Portanto, o Deus cristão, é uma comunhão entre iguais.
     Sabendo disto, analisemos a expressão bíblica “feito a imagem e semelhança de Deus”. O que é que esta expressão significa? O que é que ela tem haver com o que estamos falando? Esta expressão significa que Deus possui aparência ou forma humana? De jeito nenhum. Esta expressão lembra que a criatura possui traços, características da personalidade, do caráter do Criador. Na teologia isto é percebido através dos atributos comunicáveis e incomunicáveis. Atributos Incomunicáveis = Onisciência, onipresença, onipotência, imutabilidade... Atributos Comunicáveis = Bondade, amor, paciência, misericórdia... Os atributos comunicáveis fazem do ser humano um ser que é feito à imagem e semelhança de Deus.
     Qual é o atributo comunicável, a característica da “imagem e semelhança” mais forte de Deus no ser humano? Alguns pensam que é a capacidade de pensar: “a inteligência nos diferencia dos animais”. Sem dúvida que a inteligência é uma grande característica, contudo, Satanás é muito inteligente e não foi feito a imagem e semelhança de Deus. Este não é o atributo comunicável de Deus mais forte no ser humano.
     Outros pensam que é o amor: “O que nos torna humanos não está em nossa mente, mas em nosso coração, não é a nossa capacidade de pensar, mas a nossa capacidade de amar”. Com certeza, o amor é um dos grandes atributos comunicáveis de Deus, mas ainda não é aquele mais forte que faz o homem ser “imagem e semelhança de Deus”. Certos animais possuem um enorme amor pelos seus filhotes.
     Algumas pessoas vão afirmar que é a espiritualidade humana. Anjos e demônios são seres espirituais. A característica de maior expressão da imagem de Deus no ser humano é a comunhão, a união das pessoas. Não é a inteligência, o amor, a espiritualidade... mas a unidade das pessoas.
     Por que é que a maior característica de Deus no ser humano é a unidade, a comunhão destes seres? Porque o ser humano é a única criatura no mundo capaz de ter comunhão com os mesmos de sua espécie da mesma maneira que o Criador. A comunhão, a unidade na diversidade é a característica de Deus que apenas o ser humano consegue expressar.
     Esta capacidade de pessoas distintas tornarem-se uma só pode ser vista no casamento. No casamento vemos não um triunidade, mas uma unidade de duas pessoas. Pessoas distintas tornam-se uma só no casamento: “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne”. (Ef.5:31) Percebam que o argumento de que quem não se casa está incompleto não é bíblico. Algumas pessoas fazem a seguinte afirmação: “Você precisa encontrar sua cara-metade”. Isto não é encontrado nas Escrituras. ½ + ½ = 1. Isto é falso, é enganoso, é distorção do ensinamento bíblico. O milagre da Bíblia é 1 + 1 = 1. Portanto, no casamento percebemos um retrato da relação entre o Pai e o Filho na Trindade: “Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”. (I Cor.11:3)
     Assim como o Pai tem autoridade sobre o Filho na Trindade, o marido tem autoridade sobre a mulher no casamento. Assim como o Pai e o Filho são iguais em divindade, em importância e em pessoalidade, também o marido e a mulher são iguais em humanidade, em importância e em pessoalidade. Esta capacidade de pessoas distintas tornarem-se uma só pode ser vista na igreja: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo”. (I Cor.12:12) “Em Cristo não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo”. (Gl. 3:28) Ariovaldo Ramos certa vez afirmou que “A maior dimensão de Deus da qual o ser humano é portador é a vocação da unidade-unicidade, a capacidade de formar comunidade, de se tornar um, um entre os seus iguais e um com o Deus Triuno”. Foi por isto que lá no início Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só”. “Mas o homem não tinha Deus e os animais?” O homem precisava de alguém igual a ele, para se relacionar nesta dimensão. Os animais eram inferiores e Deus era superior. O homem estava só porque não possuía ninguém igual a ele para se relacionar.
     Esta declaração de Deus demonstra a Sua preocupação do homem ter comunhão com um ser correspondente. Está implícita nesta declaração a verdade de que ninguém pode ser feliz sozinho. Portanto, a igreja traz felicidade e significado para as pessoas, quando promove a comunhão, amizade...
      Assim como na Trindade existem três pessoas distintas mais iguais em sua comunhão, da mesma maneira, os membros da igreja de Deus, são diferentes, mas ao se unirem desfrutam de comunhão entre iguais. É por isto que no Corpo de Cristo, não deve existir doutor, mestre, major, diretor... Na igreja todos são iguais! Quando damos mais valor a alguns por causa de seus títulos ou posição social, estamos ofendendo a Trindade!
      A partir da Trindade nada existe por si mesmo, individualmente. A comunhão é imprescindível para o homem encontrar sentido para sua vida. Por outro lado, o individualismo é a negação da igreja, do próprio homem e de Deus.
      Para que esta unidade possa ser sadia, ela precisa basear-se no amor: “A fim de que todos sejam um, como és tu ó Pai em mim e eu em ti”. Jesus lembra do sentimento existente entre Ele e o Pai, para mostrar como devemos nos relacionar. “Assim como a nossa unidade está baseada no amor, que seja a unidade deles também.” Somente o amor é capaz de unir para sempre e de forma verdadeira. É claro que existirão brigas, desentendimentos, ciúmes... Mas se o amor existir, junto com ele, estará presente o perdão e a possibilidade de caminharmos juntos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A SANTÍSSIMA TRINDADE (II)

     Os principais erros ligados à Trindade nasceram da negação de uma ou outra dessas três proposições básicas. Eis alguns erros cometidos ao longo da história.
     Modalismo = “Deus é uma pessoa que se revela de três maneiras diferentes”. Eles dizem que Deus se revelou no Antigo Testamento como “Pai”, nos Evangelhos como “Filho” na vida e ministério de Jesus, e no Pentecostes essa mesma pessoa se revelou como o “Espírito” ativo na igreja. Usam alguns textos bíblicos para basear a sua crença: “Eu e o Pai somos um” (Jo.10:30), “Quem vê a mim vê o Pai”. (Jo.14:9) Utilizam a ilustração da mesma pessoa que desempenha três funções ao mesmo tempo. Infelizmente, por desconhecimento bíblico, muitos crentes olham para a Trindade desta maneira.
     Arianismo = Nega a plena divindade do Filho e do Espírito Santo. Ário, bispo de Alexandria, (320 d.C.) pregava que Deus Filho foi gerado por Deus Pai. Embora o Filho seja o maior ser de toda a criação, ele não se iguala ao Pai. Ele é “semelhante” ao Pai, mas não é “igual” ao Pai. Baseia-se em textos que falam de Jesus como “unigênito do Pai”. Usava também o texto de Colossenses 1:15 que fala de Jesus como: “O primogênito de toda a criação”.
     Judaísmo = Afirma que Jesus foi apenas um grande mestre. Muitos intelectuais pensam desta forma nos dias de hoje. Contudo, como nos lembra C.S. Lewis: “Se Jesus não foi Deus ele foi o maior doido que já existiu”.
     Subordinacionismo = O Filho é eterno e divino, mas ainda assim, inferior ao Pai. O Filho não possui todos os atributos e todo o poder do Pai.
    Adocionismo = A partir do batismo Deus adotou Jesus como Filho conferindo-lhe poderes sobrenaturais. Não aceitam que Cristo existia antes de ter nascido como homem. Portanto, não aceitam a eternidade de Jesus. Mesmo depois da “adoção” de Jesus como “Filho de Deus”, não consideram igual ao Pai.
     Milhares de pessoas têm acreditado nestas teorias ao longo dos séculos. Muita gente foi, e ainda é, enganada. Precisamos pregar a verdade bíblica e afastar a heresia do meio da igreja de Deus. Muitos, por não estudarem e não terem acesso a verdade, possuem uma visão equivocada da Trindade. Conseqüentemente, toda a espiritualidade fica comprometida.
     Olhar para a Trindade de forma correta é vital para nossa espiritualidade e para a saúde da vida da igreja. A doutrina da Trindade traz implicações sérias para o cerne da fé cristã. Vejamos algumas doutrinas ameaçadas se a Trindade for pregada de forma errada.
     Primeiro, está em jogo a expiação de Cristo. Se Jesus é um ser criado, e não é Deus, é impossível acreditar que uma criatura suportou a ira de Deus contra todos os pecados. Qualquer criatura, por maior que seja, não pode nos salvar. Podemos confiar com fé absoluta que uma criatura irá nos salvar?
     Segundo, se Jesus não é Deus, a justificação pela fé fica ameaçada. Percebe-se isto nos ensinamentos das Testemunhas de Jeová que não crêem na justificação pela fé.
     Terceiro, se Jesus não é Deus, devemos adorá-lo e nos dirigir a Ele em oração? Seria idolatria proceder assim, e, no entanto, o Novo Testamento nos ordena fazer isto: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fp. 2:9-11)
     Quarto, se Cristo como criatura nos salvou, o mérito da salvação não pertence a Deus. Exaltamos a criatura e não o Criador, isto é blasfêmia.
     Portanto, negar a doutrina da Trindade é negar por completo a fé cristã. “Na confissão da Trindade pulsa o coração da religião cristã: todo erro resulta de uma visão distorcida desta doutrina”. (Herman Bavinck) “Tente explicá-la, e perderá a cabeça, mas tente negá-la e perderá a alma”. “O amor e a fé sentem-se em casa no mistério da Trindade. Que a razão se ajoelhe reverentemente do lado de fora”. (A.W. Tozer)

Existe alguma diferença entre as Pessoas da Trindade?
     O que podemos perceber na Bíblia é que as Pessoas da Trindade possuem funções diferentes.
     Percebemos estas diferenças na obra da criação. Deus Pai proferiu as palavras criadoras para gerar o universo. Deus Filho executou os decretos da criação: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. (Jo.1:3) “Porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele”. (Cl.1:16) O Espírito Santo também estava ativo, diz o texto que Ele “pairava” ou “movia-se” sobre a superfície das águas. Aparentemente Ele sustentava e manifestava a presença de Deus na criação.
     Na redenção também vemos as funções distintas da Trindade. O Pai planejou a redenção e enviou seu Filho ao mundo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo. 3:16) “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei”. (Gl. 4:4) O Filho obedeceu ao Pai e realizou a redenção para nós. Nem o Pai nem o Espírito Santo vieram morrer pelos nossos pecados. Isto foi obra específica do Filho! “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. (Jo. 6:38) O Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para realizar em nós a redenção. É papel especial do Espírito Santo dar-nos regeneração (Jo.3:5), santificação (Rm.8:13) e fortalecimento para o serviço (At.1:8)
      Estes papéis não podem ser trocados, ou seja, as pessoas da Trindade existem eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo. Não existe na trindade uma autonomia das três Pessoas, elas não podem existir sozinhas. O Pai só é Pai porque tem um Filho, por sua vez, é o Filho quem define a identidade do Pai. O Filho só é Filho porque tem um Pai, por sua vez, é o Pai quem define a identidade do Filho. O Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho. “Eu e o Pai somos um” – “Quem vê a mim vê o Pai”. Com estas palavras Jesus demonstra a indivisibilidade (impossibilidade de divisão) da Trindade, a impossibilidade do individualismo autônomo. Por um lado Jesus afirma sua identidade como Pessoa: “Eu”. Por outro lado, Ele define que esta identidade não existe sem o Pai: “Somos um”. Esta é a maneira como Deus se revela nas Escrituras: um ser-em-comunhão.
     Essas diferenças de papéis já existiam antes da criação do mundo. Essas relações sempre existiram, não foi algo que aconteceu com o tempo. Podemos afirmar isto por causa da imutabilidade de Deus. Se Deus existe hoje como Pai, Filho e Espírito Santo, então Ele sempre existiu assim. Se Ele mudasse em algum momento, Ele não seria imutável!
     A Bíblia fala do relacionamento que os membros da Trindade tinham antes da criação do mundo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Ef.1:3,4) “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Rm.8:29)
     Essas diferenças de papéis não são temporárias, elas durarão para sempre! Quando tudo tiver terminado, “Então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”.(I Cor.15:28) Mesmo depois do juízo final, cada Pessoa da Trindade permanecerá como sempre foi!
     Essa diferença nas funções nos mostra outra verdade esquecida sobre a Trindade, os três membros da Trindade são iguais no seu ser, mas subordinados nos papéis. Se o Filho não está eternamente subordinado ao Pai no seu papel, então o Pai não é Pai, nem o Filho é o Filho. Isso significaria que a Trindade não existe desde a eternidade. “A subordinação da Pessoa do Filho à Pessoa do Pai ou, em outras palavras, uma ordem de personalidade, função e ação que permite ao Pai ser funcionalmente o primeiro, o Filho, o segundo, e o Espírito, o terceiro, é perfeitamente coerente com a igualdade. Prioridade não é necessariamente superioridade. Reconhecemos francamente uma subordinação eterna de Cristo ao Pai, mas defendemos ao mesmo tempo que essa subordinação é de ordem, função e ação, não subordinação de essência”. (A. H. Strong)
     Isto nos leva ao ensinamento bíblico de que o Espírito Santo glorifica ao Filho. Este entendimento faz com que a Igreja seja Cristocêntrica em sua teologia e eclesiologia.
     Mediante isto alguém poderia perguntar: “O Pai é mais poderoso e mais sábio que o Filho?” “O Filho é mais importante que o Espírito Santo?” Qualquer pensamento deste tipo é negar a plena divindade dos três membros da Trindade. A diferença na Trindade é de função, mas jamais na divindade, atributos ou na natureza. A diferença está na forma de se relacionarem uns com os outros e com o resto da criação. Eles desempenham papéis apropriados a cada pessoa.
     É importante lembrar que o mais importante na Trindade não é função que cada um desempenha, mas a relação de amor que um possui pelo outro. O que define a identidade deles não é a função, é o relacionamento. A interdependência e o perfeito amor entre os três é que fazem deles apenas um. Aqui a Trindade nos mostra outra verdade: o exercício do amor exige mais de uma pessoa. O amor precisa ser direcionado a uma outra pessoa para que se constitua um verdadeiro amor. Onde existe apenas uma pessoa não existe amor. O amor para ser amor, precisa ser compartilhado! Portanto, se “Deus é amor”, Ele não pode existir solitariamente, não pode ser um Deus uno. “Mas Ele poderia amar a Sua criação”. Este não seria um amor perfeito, pois a criação é inferior ao Criador. Seria algo parecido com um ser humano amar um cachorro. Este amor não pode ser comparado com o amor a outro ser humano. O verdadeiro amor exige um “ser correspondente”, “semelhante”. “Um Deus que não tem alguém com igual dignidade com que possa compartilhar plenamente o seu amor não pode ser um Deus plenamente realizado. Deus não poderia expressar o amor supremo para com a Criação, porque se Ele amasse supremamente alguém que não pudesse ser supremamente amado, o amor seria imperfeito”. (Ricardo de São Vitor)
     Portanto, a partir da Trindade descobrimos que a comunhão com Deus e o próximo não é uma opção. Num mundo cada vez mais individualista, a comunhão e a amizade são a razão de ser do próprio homem! Deus é comunhão e foi assim que nos criou. A nossa natureza exige comunhão! Fomos criados para isto!
     Segundo a Trindade, o homem só encontra sentido para vida na relação de amor e amizade com Deus e o próximo. O sentido de pessoa não é obtido a partir de funções ou papéis que desempenhamos na vida. Não somos o que fazemos nem o que possuímos. Somos o que somos na relação que temos com o outro. As pessoas na Trindade são o que são na relação que nutrem entre si, e não em suas funções. Dá para entender como é impossível ser crente sozinho? Precisamos de uma comunidade para termos comunhão e ser quem realmente somos!
     Sabendo disto, Satanás fará de tudo para romper a comunhão da igreja, pois assim, ele destruirá a nossa identidade. Quando a harmonia nas relações com Deus e o próximo são rompidas o que resta é egoísmo, individualismo, solidão, soberba, amargura, ódio... pecado = separação de Deus!
     É por causa disto que todo esforço divino na história é para promover alianças, reconciliação, religião (religar) com tudo aquilo que o pecado rompeu. Se desejamos a felicidade, precisamos aprender a nos relacionar com Deus e com o próximo. Compreender esta verdade e participar dela constitui a experiência mais rica e mais profunda da alma humana!

sábado, 18 de setembro de 2010

A SANTÍSSIMA TRINDADE

     Este assunto é um mistério que jamais iremos entender plenamente. Apesar de todas as explicações, jamais conseguiremos entender esta verdade em sua plenitude.
     Esta é uma das doutrinas mais importantes da fé cristã. Ela é aceita e reconhecida em todos os Credos adotados pelas igrejas cristãs. Está presente na linguagem, nos sacramentos e nas orações.
     Não existe a palavra “Trindade” na Bíblia. Aprendemos esta doutrina por textos que mostram um único Deus e três pessoas fazendo parte da divindade.
     Apesar de ser uma das doutrinas mais importantes, é uma das doutrinas menos difundida, pregada e conhecida. A Trindade tem sido considerada irrelevante e sem nenhuma proposta prática para a vida cristã. É interessante o comentário do teólogo Karl Rahner sobre esta questão: “Se a doutrina da Trindade for considerada falsa, a maior parte da literatura religiosa permanecerá inalterada”. Perceba qual é a atenção que temos dado a esta doutrina em nossas vidas? Quando foi a última vez que você ouviu um sermão sobre este assunto? Quais são os livros que você já leu sobre este importante tema? Achamos que esta questão é para teólogos, estudiosos, filósofos e não para o povo estudar.
     Este desinteresse por esta doutrina se dá, principalmente, porque vivemos numa geração pragmática que rejeita tudo aquilo que não é prático e objetivo. Dizemos que acreditamos na Trindade, mas na prática a ignoramos grandemente! Não sabemos distinguir qual é o papel e a função de cada pessoa da Trindade. Não sabemos nos relacionar com cada uma das pessoas santíssimas. A verdade é que o nosso Deus é uno e não trino. Somos monoteístas unitários e não monoteístas trinitários como ensina a Bíblia.
     Junto com o desinteresse por esta doutrina, o individualismo dos nossos dias contribui para uma percepção incorreta desta doutrina. O individualismo dos nossos dias gerou na consciência humana um processo de fragmentação. Vemos isto quando alguns cristãos demonstram sua preferência por alguma pessoa da Trindade. Valorizam uma Pessoa e rejeitam as outras. Algo completamente errado!
     Algumas pessoas acreditam quer esta doutrina só é ensinada no Novo Testamento. Afirmam que os escritores do Velho Testamento ainda não tinham noção da Trindade. Embora não encontremos esta doutrina explicitamente no Velho Testamento, várias passagens nos mostram que Deus existe como mais de uma pessoa. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn.1:26); “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn. 3:22);  “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gn.11:27); “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”  (Is. 6:8). É verdade que não dá para sabermos no Velho Testamento quantas são as pessoas que fazem parte da divindade. No entanto, percebe-se claramente que existe mais de uma pessoa.
     Já no Novo Testamento podemos perceber a doutrina da Trindade claramente. Existem vários textos do Novo Testamento que deixam claro a doutrina da Trindade. “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele; e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. (Mt. 3:16,17) Temos aqui, ao mesmo tempo, os três membros da Trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala do céu. Deus Filho é batizado e ouve a voz do Pai que vinha do céu. Deus Espírito Santo desce do céu na forma de uma pomba e posa sobre Jesus para dar-lhe poder em seu ministério. Outros textos que falam da Trindade no NT = (Mt.28:19; II Cor.13:13; Ef.4:4-6; I Pe.1:12; Jd. 20,21; I Jo.5:7)
     Três declarações que resumem o ensinamento bíblico. 1 – Deus é três pessoas. 2 – Cada pessoa é plenamente Deus. 3 – Há um só Deus.

1 - Deus é três pessoas.
     Isto significa que o Pai não é o Filho e nem o Espírito; o Filho não é o Espírito. Eles são três pessoas distintas com personalidades diferentes!
     Ao longo dos anos, analogias têm sido feitas para explicar a Trindade. Em busca de um melhor entendimento desta doutrina, os homens têm buscado exemplos da Trindade no mundo. Todas elas são equivocadas e incorretas. Vou citá-las e vamos descobrir onde está o erro.
     “A Trindade é como um homem que realiza três funções ao mesmo tempo”. Este homem é ao mesmo tempo, advogado, dentista e arquiteto. É como um homem que desempenha a função de marido, pai, e avô. Esta analogia está completamente errada! Aqui uma pessoa realiza três funções. A Trindade são três pessoas que realizam funções distintas.
     “A Trindade é como um trevo de três folhas”. Neste caso o exemplo fala de três partes, mas ele é apenas um trevo. Cada folha faz parte do trevo. Neste caso, não se pode dizer que cada folha é todo o trevo. Cada Pessoa da Trindade é plenamente Deus e não apenas uma parte separada de Deus.
     “A Trindade é como uma árvore: raízes, tronco e ramos, mas apenas 1 árvore”. Estamos diante do mesmo problema do exemplo anterior do trevo. Não se pode dizer que cada uma destas partes é a árvore inteira. Outro erro nesta analogia: aqui as partes têm propriedades distintas. Na Trindade, cada pessoa possui todos os atributos de Deus em igual medida.
     “A Trindade é como a água: vapor, água e gelo, mas continua sendo água”. Nenhuma quantidade de água é ao mesmo tempo todas as três formas. As três formas tem características diferentes. Existem muitas outras analogias, mas nenhuma delas reproduz com precisão e acerto a doutrina da Trindade. Em nenhum lugar da Bíblia existe qualquer analogia para explicar a Trindade. Concluímos que qualquer analogia com a Trindade é perigosa e deve conter muitos erros.
     O Pai não é o Filho. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”. (Jo.1:1,2) “Estar com” prova que o Verbo é distinto do Pai. “Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois me amaste antes da fundação do mundo”. (Jo.17:24) Este texto nos mostra distinção de pessoas - No pedido do filho ao Pai - compartilhamento de glória - “Para verem a minha glória, a qual me deste” – e relação de amor - “pois me amaste antes da fundação do mundo”; “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. (I Jo. 2:1) Jesus é o nosso Sumo Sacerdote e Advogado perante o Pai. A fim de interceder por nós perante o Pai, é necessário que Cristo seja uma pessoa distinta do Pai.
     O Pai e o Filho não são o Espírito. “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. (Jo.14:26) È clara a distinção entre o Espírito Santo e o Pai. “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei”. (Jo.16:7) Cristo voltou ao céu e enviou o Espírito Santo à Igreja.
     Algumas pessoas alegam que o Espírito Santo não é uma pessoa distinta, mas o poder ou a força de Deus em atuação no mundo. (Jo.14:16,26; 15:26) “Consolador” é um termo usado para falar de uma pessoa que dá consolo e conforto aos outros. Outras atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo: Ensinar: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. (Jo.14:26) Dar testemunho: “Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim”. (Jo.15:26) Sondar as profundezas de Deus: “Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus”. (I Cor.2:10) Conhecer os pensamentos de Deus: “Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus”. (I Cor. 2:11) Conceder dons: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer”. (I Cor.12:11) Se entristecer diante do pecado: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”. (Ef. 4:30)
     Se o Espírito Santo é o poder de Deus, e não uma pessoa distinta, então várias passagens não fazem sentido. Várias passagens mencionam tanto o Espírito Santo quanto o poder de Deus: “Então voltou Jesus para a Galiléia no poder do Espírito; e a sua fama correu por toda a circunvizinhança”. (Lc. 4:14) O sentido aqui seria: “Jesus, no poder do poder”. “Concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele”.(At.10:38) O sentido aqui seria: “Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com poder”.

2 – Cada Pessoa é plenamente Deus.
     Além de serem três pessoas distintas, as Escrituras nos mostram que cada pessoa é plenamente Deus. Deus Pai é Deus. Em todo o Velho Testamento e Novo Testamento o Pai é retratado como Senhor soberano de tudo. Deus Filho é Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. (Jo.1:1); “Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu”. (Jo.20:28); “Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. (Tt. 2:13); “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade”. (Cl. 2:9)
     Deus Espírito Santo é Deus: “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt. 28:19). O Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho: “Por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo? Não mentiste aos homens, mas a Deus”. (At. 5:3,4) “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (I Cor. 3:16) O templo de Deus é o local onde o próprio Deus habita.
     Se a Bíblia ensinasse apenas estas duas verdades - “Deus é três pessoas” / “Cada Pessoa é plenamente Deus”- não haveria dificuldade de entendimento. Concluiríamos que existem três deuses. Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos: “Triteísmo”. Contudo, este não é o ensinamento das Escrituras! A Bíblia ensina que são três pessoas, mas apenas um Deus. Este é o grande mistério!

3 – Só há um Deus.
     “As três diferentes pessoas da trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial”. (Wayne Gruden) Em outras palavras, Deus é ser só, não existem três deuses! Textos bíblicos que demonstram um único Deus: ”Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt. 6:4,5); “O Senhor é Deus e não há outro” (I Rs. 8:60); “Há um só Deus” (I Tm. 2:5); “Deus é um só”(Rm. 3:30); “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem”(Tg. 2:19); Quando Deus fala, Ele não fala como deus dentre três que devem ser adorados: “Eu sou o Senhor e não há outro, além de mim não há Deus”. (Is. 45:5)
     A Bíblia não nos pede para acreditarmos numa contradição. Contradição seria dizer o seguinte: “Só existe um único Deus e não existe um único Deus. Deus é três Pessoas e Deus não é três Pessoas. Deus é três Pessoas e Deus é uma Pessoa”. Dizer que “Deus é três Pessoas e só há um Deus” não é contradição. Simplesmente é algo que não conseguimos compreender, é um mistério, um paradoxo, mas jamais uma contradição!
     Precisamos fazer diferenciação entre compreender a verdade e contradizer a verdade. Dizer que Deus é Um e Três só é contraditório se dissermos que ele é ambos do mesmo modo e ao mesmo tempo. Mas não é isso o que o Cristianismo afirma. O Cristianismo ensina que Deus é Um em essência e Três em pessoa. Compreendemos o suficiente para aceitar, mas não o suficiente para satisfazer a nossa curiosidade. Contudo, não ser capaz de compreender a Trindade é espiritualmente saudável. Não compreender a natureza nos mostra que somos limitados e que Deus é infinito. Isso nos humilha diante de Deus e leva-nos a adorá-lo!
     Negar qualquer uma destas três proposições é heresia e ir contra a Palavra de Deus. Ao longo da história vários erros doutrinários foram cometidos contra a Trindade. É importante conhecê-los e analisá-los para que não venhamos a repeti-los, afinal, como disse Goethe, “Quem não conhece o passado e não se dispõe a aprender com ele, está fadado a repeti-lo estupidamente no presente e no futuro”.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CONSUMISMO

Para entender a mentalidade consumista, precisamos entender onde estamos e como conseguimos chegar a este ponto. O “pós” do mundo pós-moderno indica que estamos vivendo em uma sociedade que vem, de alguma forma, depois do mundo moderno. É claro que, em termos lingüísticos, isto é um absurdo, afinal, tudo que é atual é, por definição, moderno. Contudo, o termo “moderno” está sendo usado em um sentido diferente aqui. “Moderno” refere-se à ideia de “modernismo”, e esta palavra é o rótulo dado a um conjunto de ideias ligadas ao Iluminismo dos séculos XVII e XVIII na Europa. O movimento afirmava que o homem tinha “amadurecido” e não precisava mais de ideias tolas e infantis, como acreditar em Deus. “Somos nossos próprios senhores”, “acima de tudo, a ciência e a razão irão gerar uma sociedade boa e justa”, “não precisamos de outra coisa, a não ser, observar e pensar”.

Os iluministas acreditavam que estas ideias trariam a tão sonhada liberdade para o homem. O Iluminismo gerou uma fé otimista no progresso. Livres da decepção e opressão da religião, as pessoas teriam liberdade de pensamento, prosperidade sob a luz do racionalismo. Esta era a visão do período moderno. Mas como esta visão otimista do modernismo começa a desmoronar, vivemos agora em um mundo pós-moderno. As pessoas estão perdendo a fé com a ideia de que a sabedoria humana é suficiente para solucionar todos os problemas da raça humana. Estamos nos afastando da crença na verdade objetiva universal e na certeza. Por exemplo, a ideia de que a moralidade deve ser igual para todos, independente da época, é considerada absurda!

De alguma forma, estamos sendo levados a uma forma de pensar que é mais incerta e onde o irracional ocupa um espaço maior na vida das pessoas. Ao contrário do que já se pensou e defendeu com “unhas e dentes”, o pensamento racional e a ciência não são vistos como os salvadores da raça humana. O mundo percebeu que o ser humano tem necessidades mais profundas. Fazemos parte de uma sociedade em que as pessoas acreditam que o que sentimos é mais importante do que o que pensamos.

Neste mundo pós-moderno é claro que todos nós temos de consumir coisas para viver, contudo, parece que estamos caminhando na direção de uma sociedade que vive para consumir. As pessoas gostam do sentimento de escolher e comprar. De alguma forma, nos sentimos seguros e confortáveis adquirindo bens.

O consumismo concentra-se no presente, neste mundo, nos nossos cinco sentidos: tato, paladar, visão, audição e olfato. O foco do consumismo está nos bens materiais e nas coisas que divertem e alimentam nossos sentidos. O consumismo nos apresenta os serviços e bens materiais como uma promessa de felicidade. As pessoas são tentadas a depositar suas esperanças na riqueza e nos bens materiais. Os objetos variam muito, de casas e carros a férias e planos de pensão. Mas a mensagem secular é sempre a mesma: “Você alcançará a felicidade nestas coisas”. Uma vez que dispunha de muitos recursos, o rico insensato na parábola de Jesus se sentia seguro, no controle da situação e bem estabelecido na vida.

O consumismo concentra-se no poder da escolha pessoal do cliente. Gostamos de sentir este poder. Não é apenas o fato de nossas necessidades materiais serem supridas, a grande questão é o poder de escolher que nos fascina e seduz! Ser capaz de escolher o que queremos é uma de nossas formas de expressão, e as pessoas sentem muito prazer nisto. As empresas perceberam que não são apenas as coisas materiais que trazem contentamento, mas que a sensação de poder é a principal responsável pela alegria que as pessoas sentem quando compram algo. Portanto, um dos componentes eficazes do consumismo é o prazer por meio do poder.

Quando entramos em uma loja e mostramos nossos cartões de crédito, fazemos com que os vendedores e atendentes se tornem nossos servos. Somos patrões, e sentimo-nos como deuses. E esta sensação de ser um deus nos é bastante atraente (Gn. 3:5) Podemos ter qualquer coisa que seja o nosso objeto de desejo. Com o sistema de cartão de crédito, somos tentados a gastar um dinheiro que ainda não recebemos. Sendo assim, podemos pensar no consumismo como um novo evangelho, a “boa-nova secular”. Podemos defini-lo, grosso modo, da seguinte maneira: “Consumismo é aquela promessa de felicidade oferecida pelos bens materiais e sérvios que se capitaliza no prazer de escolha do consumidor”.

O consumismo apresenta-se como um método para alcançar a felicidade, e isto é um sucesso, afinal, o que o homem mais deseja é a felicidade. A grande questão a ser observada é o fato de que, biblicamente, a nossa felicidade só será encontrada em Deus. (I Tm.6:17) = Paulo encoraja os ricos a não depositar a sua esperança nas riquezas, mas em Deus. (Rm. 1) = Este é o estado natural do homem longe de Deus, ele tem a tendência de adorar a criatura –as coisas materiais – ao invés do Criador. Ao agir assim, o homem muda a ordem da criação, pecando contra Deus.

Como cristãos, qual deve ser a nossa postura? Surpreendentemente, não devemos ser totalmente contrários. Devemos perceber que o cristianismo é uma religião materialista. Ao contrário de alguns heréticos que acreditavam que as coisas materiais eram más e diziam “Não se case, não toque neste alimento” (I Tm.4), nós acreditamos que o mundo material foi criado por Deus, e, portanto, há algo de bom neste mundo criado por Deus. Na encarnação, o próprio Deus assumiu a forma física. Portanto, devemos ser cuidadosos quanto à nossa forma de lidar com a questão dos bens. Não devemos ser totalmente negativos com relação a isto.

O grande problema a ser percebido é o fato de que uma vez que o consumismo molda os nossos pontos de vista, ele afeta a nossa espiritualidade. O modo como o consumismo modela o caráter das pessoas não corresponde necessariamente ao modo como Cristo, no evangelho, quer que o nosso caráter seja moldado. Por exemplo, numa sociedade acostumada com o cartão de crédito que nos diz que podemos ter aquilo que desejarmos já, neste instante, como uma pessoa aprende sobre a graça cristã da paciência? O consumismo nos afasta do foco! Embora muitos aspectos do consumismo não sejam necessariamente errados, eles nos desviam do nosso foco, do nosso alvo, dos nossos objetivos como cristãos.

Sobre este assunto é bom lembrarmos e perguntarmos: O que aconteceu com a contracultura cristã? De que maneira os cristãos são diferentes de tudo isto que existe por aí? Parecemos frequentemente tão envolvidos e imersos na promessa de felicidade proposta pelo consumismo quanto qualquer outra pessoa. A Palavra de Deus nos revela coisas que nos causam certo desconforto. Nada há de errado com o mundo material, no entanto, os cristãos estão sendo levados cada vez mais a adorar as coisas criadas. É provável que a nossa alegria esteja alicerçada nas criaturas em vez de firmadas no Criador. Muitos se tornaram mais amantes dos prazeres do que de Deus (II Tm.3:4) Talvez não haja nada de errado com certas coisas que podemos comprar, no entanto, a vida fica tumultuada e absorvida por coisas, atividades, diversão e tudo o mais que achamos tempo para fazer. Nossa vida acaba sendo contaminada, não necessariamente por grandes corrupções, mas por assuntos triviais. Nas palavras de John Bunyan, nos desviamos na Campina. Em linguagem antiga, nos tornamos mundanos.

Ao contrário da nossa sociedade de consumo com suas identidades dispensáveis, Jesus salienta que a verdadeira identidade das pessoas não se mostra pelas suas roupas, pela sua raça, pela sua educação ou pelo seu sexo. A verdadeira identidade das pessoas se mostra pelo seu comportamento. Ou seja, Jesus está dizendo que há uma relação entre a verdadeira identidade e a conduta das pessoas. Sendo assim, podemos reconhecer os verdadeiros filhos de Deus quando eles verdadeiramente andam na vontade de Deus.

Percebemos esta verdade na parábola do bom samaritano. O ponto central da parábola é que o homem deitado quase morto na estrada era inidentificável. Este é o ponto chave da parábola! Havia muitos grupos, diferentes raças, diferentes seitas judaicas, diferentes culturas religiosas na Palestina. Existiam vários tipos de pessoas e, cada uma delas, poderia ser identificada por sua roupa, pelo sotaque ou qualquer outra coisa. O grande problema é que este homem não tem como ser identificado! Ele está inconsciente e nu. Ele é apenas um ser humano em necessidade. Se alguém perguntar: “Ele é um dos nossos?”, não há como saber. Desta forma, é possível aplicarmos o verdadeiro teste para sabermos quem verdadeiramente é filho de Deus. O homem sem identidade deitado no caminho torna-se o teste da verdadeira identidade daqueles que passam por ele na estrada sem o ajudar, daqueles que param para lhe dar socorro mesmo não sabendo quem ele é. Portanto, a primeira coisa que a parábola nos ensina é olhar alguém além da imagem exterior. O consumismo prega exatamente o contrário deste princípio...

Deveríamos demonstrar amor ao nosso próximo não porque ele faz parte do nosso grupo ou raça, ou o que quer que seja, mas simplesmente porque ele é um ser humano feito à imagem de Deus.

Nos EUA, com o advento da industrialização, formou-se uma grande lacuna entre produção e consumo. Com isso, a pergunta óbvia que surgiu foi a de como esta lacuna seria preenchida. Falando em termos simples, havia duas opções disponíveis: Primeiro, diminuir a produção e, com isso, os possíveis lucros; ou, ensinar as pessoas a consumir mais do que o necessário. Não é de admirar que a segunda opção tenha sido a escolhida.

sábado, 11 de setembro de 2010

“Bem-aventurados os Misericordiosos”

O contexto em que essa palavra de Jesus foi proferia é muito parecido com o momento em que vivemos hoje. Um mundo onde homens e mulheres estão espiritualmente obscurecidos e confusos, uma sociedade de pessoas que estão alheias ao relacionamento com Deus, avessos a tudo o que diz respeito às Escrituras Sagradas. Vivemos hoje numa cultura hedonista onde as pessoas só pensam no seu bem estar e não estão nem aí para o próximo.

Este é um contexto terrível, lamentável, preocupante, em alguns casos, irreversível! Este é um ambiente aonde reina aquilo que é exatamente o oposto de tudo aquilo que Jesus descreve aqui. É um contexto aonde habita a injustiça, o entretenimento, a imoralidade, a mentira, o relativismo. Este é o mundo onde os bem-aventurados precisam viver. Estes são dias de crianças deixadas no lixo, de crianças jogadas dos prédios. Dias de filhos que assassinam os seus pais, de uma rebeldia crescente, de assassinatos inimagináveis, de pecado, de iniqüidades, de transgressões. Estes são dias complicadíssimos para exercer as características das bem-aventuranças.

O que significa misericórdia?

Primeiro, a misericórdia não é algo natural. Olhe para as crianças brincando num berçário, elas não possuem a tendência de ser misericordiosas. Você acha que isso melhora quando crescemos? De forma alguma! Quando crescemos somos ensinados a camuflar o nosso egoísmo, mas a verdade é que ele está muito vivo dentro de cada um de nós!

Por não ser algo natural o misericordioso consegue orar pelos seus inimigos: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”. Ao invés de repudiar os seus inimigos, o misericordioso busca suprir as necessidades deles: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede, dá-lhe de beber”. Ao invés de abandonar os que estão nas trevas da ignorância, o misericordioso se esforça para resgatá-lo. Eles se gastam a si mesmos com o objetivo de conduzir o incrédulo a Cristo: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida”. (II Cor. 2:4)

Segundo, a misericórdia nos leva a ter um sentimento de compaixão por pessoas que passam por problemas sérios. Neste mundo afetado pelo pecado, existem muitas pessoas que precisam de nossa compaixão: Doentes, solitários, famintos, injustiçados, presos... O desalento dessas pessoas toca profundamente no coração daquele que é misericordioso O infortúnio dessas pessoas tocou no coração de Jesus: “Vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não tem pastor” (Mt.9:36) A compaixão de Jesus estendia-se àqueles que não tinham ninguém para cuidar deles.

Terceiro, a misericórdia nos leva a tomar uma atitude diante daquilo que enxergamos. A misericórdia é o amor demonstrado em favor de quem vive em desgraça. Ela abrange tanto um sentimento de bondade quanto um ato bondoso. Não existe apenas o desejo de ajudar, existe muito mais do que a simples intenção! O misericordioso é impulsionado a tomar uma atitude para que a situação que aflige o outro seja aliviada. É o caso do bom samaritano, ele agiu! Ele não apenas sentiu tristeza, ele fez alguma coisa. Ele se dispôs a ajudar, ele colocou em prática os seus sentimentos. Ele amou de forma prática aquele homem necessitado!

Quarto, a misericórdia não é demonstrar amor às custas da justiça. A misericórdia não é complacente. O complacente finge que não vê o que é errado, deixa as coisas acontecerem... O complacente passa a mão por cima do pecado, ele faz vistas grossas ao erro. O misericordioso também é justo e verdadeiro. Ele não vê o erro e se cala. O misericordioso se preciso for, utiliza de disciplina, usando de misericórdia. Como disse Che Guevara, “Endurecer, sem jamais perder a ternura.”

Por que os misericordiosos agem assim?

Primeiro, eles são motivados a agir com misericórdia porque eles mesmos receberam misericórdia. Os misericordiosos percebendo a sua total incapacidade diante de Deus, foram redimidos pelo Senhor. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos e pecados, nos deu vida juntamente com Cristo”. (Ef. 2:4, 5) Eles sabem que Deus utilizou de misericórdia para com eles, sendo assim, eles não se esquecem de tão grande bênção e a sua reação também é a misericórdia.

Eles são completamente diferentes do servo da parábola do credor incompassivo (Mt. 18) Certo homem devia um valor astronômico ao rei, e para o seu azar, o rei resolveu ajustar as suas contas com aqueles que o deviam. Ele tinha uma dívida impagável: 10.000 talentos. Ele não tinha a menor possibilidade de escapar, contudo, ele clamou por ajuda e livramento! O rei perdoou aquele homem, quitou a sua dívida e o despediu em paz. Ao sair da presença do rei, encontrou-se com um colega que lhe devia 100 denários. Comparada com os 10.000 talentos, esta dívida era uma ninharia, algo irrisório, ínfimo! Apesar disto, este homem agarra o seu colega pelo pescoço e diz: “Pague-me o que me deves!” Este conservo clamou por ajuda assim como o amigo fizera com o rei. Contudo, aquele que fora perdoado não quis perdoar a dívida do seu devedor. Lançou o homem no cárcere.

Esta parábola mostra exatamente o oposto da misericórdia. Os misericordiosos são aqueles que agem com misericórdia porque receberam misericórdia no passado. Os misericordiosos não têm problema de memória, eles lembram do que lhes aconteceu.

Segundo, eles são impulsionados pela misericórdia contínua derramada sobre as suas vidas. Os misericordiosos compreendem que Deus os perdoa diariamente. Eles experimentam lutas diárias por causa dos seus pecados. Eles corroboram a fala de João: “Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos”. Mas eles também dizem: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar”. Quem é continuamente perdoado por Deus, usa de misericórdia porque sabe que depende do perdão p/ viver.

Terceiro, eles são impulsionados a exercer misericórdia pela sua necessidade da misericórdia no futuro. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Eles sabem que foram alvos da misericórdia de Deus no passado, são no presente e serão no futuro. Segundo as Escrituras, os que exercem misericórdia receberão do Senhor misericórdia como recompensa. (II Sm. 22:26) = “Para o misericordioso, misericordioso te mostras”, (Tg. 2:13) = “O juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia.” (II Tm. 1:16,17) = “O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas algemas; antes, tendo ele chegado a Roma, me procurou solicitamente até me encontrar.”

Alguém já disse que na vida devemos aprender a “estocar misericórdia”. Os misericordiosos sabem que chegará um dia em que eles precisarão enfrentar lutas, inúmeros problemas, o diabo, o mundo, as tentações deste mundo, enfermidades... E quando este momento chegar, eles precisarão da misericórdia divina sobre suas vidas.

Uma questão que deve ser pensada quando se fala de misericórdia é a relação do físico com o espiritual. Há uma grande discussão sobre onde devemos nos concentrar para tentar aliviar as necessidades do próximo. O que é mais importante, o corpo ou a alma? O que deve ter a nossa maior atenção, a ação social ou pregação da Palavra? Devemos fazer as duas coisas! Sempre foi assim na história do Cristianismo. Aonde o Evangelho chegou, junto com ele chegou a prosperidade material. Os hospitais surgiram por causa da igreja. O povo cristão, movido pelo sentimento de compaixão pelos enfermos, começou a fazer algo no tocante as enfermidades físicas. Os primeiros hospitais foram fundados por cristãos. Além disso, as escolas surgiram por causa da igreja. Ao ver a necessidade do povo de aprender a ler e escrever, a igreja construiu lugares para alfabetizar o povo. A Reforma Protestante exerceu o maior estímulo possível às ciências, à pesquisa científica e ao estudo.

Devemos fazer as duas coisas sim! Porém, devemos lembrar que o físico não é a prioridade. Jesus curou a sogra de Pedro, a notícia se espalhou pela cidade. Todos os doentes vieram até Ele para serem curados, e Jesus os curou. No outro dia, mais doentes procuraram a Jesus para serem curados, e Jesus lhes disse: “Eu preciso ir a outras cidades e pregar, pois foi para isto que eu fui enviado.” (Mc. 1:38) Devemos aliviar o físico destas pessoas sim, mas a prioridade é a alma destas pessoas! Se não fizermos isto, cairemos no erro de outras religiões, enviaremos pessoas bem vestidas e bem alimentadas para o inferno. Todo o dinheiro do mundo não vale a alma de uma criança pobre que mora na rua.

Como podemos nos tornar misericordiosos?

Primeiro, esteja atento as atitudes que vão contra a misericórdia. Isolamento egoísta. Muitos adotam o seguinte discurso: “O mundo tem muitos problemas... eu não posso resolver isto”. Esta foi a atitude dos discípulos quando Jesus pediu-lhes para alimentar a multidão. Eles disseram: “O povo está com fome, mande-os para casa. Não podemos fazer nada!”. Se Jesus seguisse o conselho dos discípulos e mandasse a multidão embora, os próprios discípulos ficariam com fome, afinal, como 5 pães e 2 peixes alimentaria 13 homens? Se seguirmos o conselho dos discípulos e dispensarmos a multidão, nós passaremos fome!

Cinismo. O discurso de tais pessoas é o seguinte: “Existe muitos aproveitadores nos dias de hoje”. É verdade que muitas pessoas fingem ser necessitadas quando na verdade não o são. Estas pessoas tiram proveito da nossa bondade, misericórdia... O problema é chegarmos ao ponto de dizer: “Tá todo mundo fingindo! Ninguém precisa de ajuda”. O cinismo acaba com a misericórdia!

Insensibilidade. Nunca na história da humanidade isto aconteceu com tanta freqüência. Rádio, TV, Internet... constantemente nos mostram pessoas que sofrem... Na maioria das vezes não podemos fazer nada com a miséria destas pessoas. Contudo, não podemos nos tornar indiferentes com aqueles que batem à nossa porta.

Segundo, lembre-se do que você seria se Deus não tivesse dispensado misericórdia sobre a sua vida. Quem você seria? Onde você estaria se não fosse a misericórdia divina? Refletir sobre isto nos impulsiona a agir com misericórdia.

Terceiro, arrume tempo para ser misericordioso. O ativismo nos impede de sermos misericordiosos. Quando você está muito atarefado e alguém bate na sua porta, qual é a sua reação? “Eu não acredito! Não é possível!” “Logo agora que estou cheio de coisas para fazer!” “Justamente hoje que a minha agenda está lotada?” John Newton dizia que quando alguém o interrompia, era Deus que desejava que ele parasse. Deus nos deu tempo suficiente para fazermos tudo que Ele quer que façamos. E Ele nos deu tempo para demonstrarmos misericórdia.

Quem são os misericordiosos? São aqueles que se incomodam, se sensibilizam, possuem uma profunda simpatia com aqueles que sofrem. São aqueles que possuem um grande interesse pelos que passam por situações complicadas em suas vidas São aqueles que agem e livram as pessoas dos seus sofrimentos, das suas angústias, das suas misérias.

“Bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”

      O que significa “Justiça” nas Bem-aventuranças? A palavra “justiça” aqui não tem nada a ver com o conceito humano de justiça. Por exemplo, quando um juiz condena um criminoso dizemos que “foi feito justiça”. Quando verbas do governo são desviadas e falta saúde, educação... dizemos que isto é uma injustiça. Não é sobre isto que trata esta bem-aventurança. A justiça das bem-aventuranças se refere a justificação de Deus para com o ser humano.
      Todos nós somos considerados injustos diante de Deus: “Não há um justo sequer, não há quem busque a Deus” (Rm. 3:10) Por causa da morte de Cristo em nosso lugar, agora somos considerados “justos” diante de Deus: “A justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos aqueles que crêem.” (Rm. 3:22) “O homem é justificado pela fé.” (Rm. 3:28) Portanto o desejo de obter justiça significa o desejo de estar bem com Deus, de ter comunhão com Ele, o desejo de se desvencilhar do pecado, o desejo de buscar a santidade acima de todas as coisas.
      Em Filipenses capítulo três encontramos a descrição do apóstolo Paulo de como ele se orgulhava nas coisas deste mundo, se gabava de ter nascido onde nasceu. Ele se vangloriava de ter o nível intelectual que possuía, de participar de grupos que o engrandeciam. Ele faz esta lista de “ganhos”, de coisas pelas quais ele sempre lutou. Depois de enumerar cada um desses itens do seu currículo, ele afirma que tudo aquilo é como refugo. O que foi que aconteceu? O que fez com que ele considerasse tudo aquilo pelo qual ele sempre batalhou como perda? Leia Filipenses 3:7-11.
      Paulo tinha fome e sede da “justiça que procede de Deus, baseada na fé”. Em outras palavras, o apóstolo desejava ardentemente conhecer a Deus! Isto é o que Jesus está nos ensinado nesta bem-aventurança. Isto é ter fome e sede de justiça: Desejar ardentemente conhecer ao Senhor. Portanto, a ambição dos bem-aventurados é completamente diferente da ambição do incrédulo. O homem ímpio busca incansavelmente glória, riquezas, entretenimento, prazeres carnais. Eles têm o discurso daquele homem citado por Jesus: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. Do ponto de vista espiritual, eles não possuem nenhuma necessidade. São como aqueles homens para quem Jesus disse quando estava na casa de Mateus: “Os são não precisam de médicos. Não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”. Eles não viam nenhuma necessidade de Jesus! Eles não reconheciam a necessidade de se tornarem justos diante de Deus. Exatamente o contrário do que está sendo ensinado nesta bem-aventurança.
      A ambição do incrédulo está unicamente direcionada para as coisas terrenas e materiais. Eles são completamente indiferentes para com as realidades espirituais. Eles sentem-se satisfeitos para consigo mesmos: “Nunca matei, nunca roubei, nunca adulterei...”. São homens e mulheres que não conseguem enxergar a sua iniquidade! Espiritualmente não sentem nenhuma necessidade, estão fartos. São como aquele homem da parábola de Lucas 22, confiava em si mesmo por si considerar justo. Louvava a si mesmo: “Ó Deus graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos”, “Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de tudo o quanto ganho”. Quanto orgulho! Quanto inchaço! Quanta presunção!
      Qual é a nossa ambição? Todo o seu esforço gira em torno de quê? Visa o quê? Será que verdadeiramente podemos afirmar: “Como suspira a corça pelas correntes de água, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede do Deus vivo.” (Sl. 42:1,2) A ambição destes que Jesus cita nesta bem-aventurança é apenas uma: Deus! Deus é a ambição maior dessas pessoas. Eles desejam algo sem o qual não conseguem viver. Esta é a ideia de fome e da sede. Nas suas lutas interiores contra o pecado, eles clamam por libertação! “Quem me livrará deste corpo de corrupção, de morte?!”
      Será que o centro das nossas atenções é Deus? Quando o centro das nossas atenções é o Senhor não existem interesses próprios concorrendo com a vontade de adorar a Deus com a sua igreja. Não existe nenhuma dificuldade que me atrapalhe de estar com o povo de Deus adorando-o. Quando o centro das nossas atenções é o Senhor, existe um interesse pelo Senhor, por sua Palavra, pelo seu Reino, pela sua igreja! Quando o centro das nossas atenções é o Senhor, nos doamos e nem percebemos que fazemos isto, afinal, fazemos de coração para o Senhor!
      O que falta é fome e sede de justiça. O que falta é esta santa ambição pelo Senhor. Jesus era um homem que tinha uma agenda impressionantemente cheia! Os compromissos de Jesus eram tão intensos que a Bíblia chega a dizer que eles e os seus discípulos não tinham tempo nem para comer. Mas no dia do Senhor, Ele deixava todas as atividades que possuía para estar na Casa de Deus.
     Os efeitos da fome e da sede sobre o corpo humano são impressionantes. Instintivamente, o corpo clama pelos elementos que necessita para funcionar e sobreviver. Fraqueza, tremedeira, (mau hálito), desmaio, irritação, falta de paciência, raiva, indignação... É só observar como nos portamos quando estamos com fome num restaurante e as mesas ao lado são servidas e o nosso pedido é o que mais demora a chegar. A fome algumas vezes pode ser tão intensa que se transforma em dor. Nesse estágio, o indivíduo é impelido a buscar comida quase sem considerar o preço ou as dificuldades para se obter o alimento. É aí que percebemos que o mais forte e insistente instinto do homem é o da alimentação.
      Além da fome, Jesus fala da sede, outra coisa que nos deixa inquietos, angustiados, agoniados. Jesus usa esses instintos humanos como ilustração, mostrando que devemos sentir algo semelhante quanto à justiça. Assim como o faminto e o sedento anseiam por comida e bebida, nós também devemos desejar a justiça que vem de Deus! Devemos ser como o profeta Jeremias que disse: “Achadas as tuas palavras, logo as comi.” (Jr.15:16)
      Ter fome e sede por justiça assemelha-se ao indivíduo que almeja ardentemente atingir certa posição. Tal homem não descansa, ele está sempre trabalhando, labutando em busca do seu alvo. Ter fome e sede por justiça assemelha-se ao indivíduo que sente saudades da pessoa amada. A pessoa fica inquieta enquanto não se encontra com o seu amado (a). O salmista sintetizou estes sentimentos quando disse: “Como suspira a corça pelas correntes de água, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede do Deus vivo.” (Sl. 42:1,2)
      Será que nós somos assim quando se trata de conhecer o nosso Deus? Seria esta a nossa ambição? Desejamos ardentemente conhecer o nosso Deus como desejava o salmista? Temos fome e sede de justiça?
      Esta bem-aventurança nos coloca numa situação delicada, afinal, ela exige uma resposta da nossa parte. O que tem sido a ambição da minha vida? Esta bem-aventurança sonda as profundezas do nosso ser! Ela visa as nossas motivações, os nossos desejos, os nossos interesses, os nossos propósitos. Ou será que a nossa realidade é uma espantosa falta de fome e sede pelas realidades espirituais? Falta de fome é péssimo sintoma! Pode ser sinal de criancice. As crianças deixam de comer para ficar brincando. Para as crianças brincar é mais gostoso do que comer. Pode ser também sinal de doença. Logo que um vírus ataca ou uma infecção infiltra-se no sistema digestivo, o centro de controle cerebral comunica: “você não está com fome”. A mãe que percebe que o filho não tem fome, ela logo se preocupa. Ela sabe que isso não é natural. Se ela não tomar providências, os efeitos serão desastrosos! Toda mãe conhece a íntima relação entre saúde e fome. Quando a filha de Jairo ressuscitou, Jesus mandou que lhe dessem algo para comer.
       Infelizmente, para alguns, o desejo pela comunhão com Deus que sacia a fome pelo Senhor ocorre raramente. Para muitos, nunca ocorre. Essas pessoas não buscam suprir as calorias para vitalizar sua vida espiritual e afastar a apatia. Isto é um péssimo sinal! Se você não tem fome de conhecer o seu Deus, é porque Ele ainda não é o seu Deus!
      Por que é que eles são chamados de felizes, de bem-aventurados? Pensem nos homens que ambicionam outras coisas. Saúde: Aquele que a possui, muito em breve vai perdê-la. Bens: Certamente todos nós os deixaremos neste mundo. Prazeres: Todo mundo sabe que são transitórios. Não há nada que possa satisfazer plenamente o homem. Cedo ou tarde, os mais ricos dos homens, ficarão absolutamente desprovidos de tudo. Por isso que Jesus chamou de louco aquele homem que pensava ter um futuro garantido. Não há nada que possa satisfazer plenamente o homem! “O homem possui um vazio do tamanho de Deus”.
      Todos os homens são miseráveis, cegos, pobres, paupérrimos! No entanto, esses aqui são chamados de bem-aventurados, felizes! E isto acontece porque eles “serão fartos”. Que promessa gloriosa! Brevemente eles serão saciados! Aquilo que eles tanto almejam, eles encontrarão!
      Nesta vida, a nossa fome nunca será completamente satisfeita, nem a nossa sede plenamente mitigada. Sem dúvida recebemos a satisfação que a bem-aventurança promete. Esta satisfação, no entanto, é parcial, afinal, a fome é satisfeita apenas para tornar a se manifestar. Somente no céu seremos saciados plenamente: “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida”. (Ap.7:16,17)