Existe uma teoria que afirma que Deus nos criou porque estava solitário. Esta noção não encontra base nas Escrituras. Dostoievski dizia que é o homem que possui um vazio do tamanho de Deus e não Deus que possui um vazio com o formato do homem. Esta idéia jamais pode ser aplicada a Santíssima Trindade. Cercada, apoiada e coberta pela presença e procissão do coral de milhares de hostes celestiais, a Trindade não poderia estar sozinha.
O que diferencia o Deus cristão dos outros deuses, é que o Deus do cristianismo é um Deus Trino, Ele se relaciona entre si. O Pai, o Filho e o Espírito Santo se relacionam e mantém unidade e comunhão entre eles. O judaísmo e o islamismo acreditam num monoteísmo unitário. Nestas religiões o deus adorado é um ser solitário, ele não possui ninguém para se relacionar. Já no cristianismo a crença é num monoteísmo trinitário, um Deus em três pessoas distintas. Portanto, o Deus cristão, é uma comunhão entre iguais.
Sabendo disto, analisemos a expressão bíblica “feito a imagem e semelhança de Deus”. O que é que esta expressão significa? O que é que ela tem haver com o que estamos falando? Esta expressão significa que Deus possui aparência ou forma humana? De jeito nenhum. Esta expressão lembra que a criatura possui traços, características da personalidade, do caráter do Criador. Na teologia isto é percebido através dos atributos comunicáveis e incomunicáveis. Atributos Incomunicáveis = Onisciência, onipresença, onipotência, imutabilidade... Atributos Comunicáveis = Bondade, amor, paciência, misericórdia... Os atributos comunicáveis fazem do ser humano um ser que é feito à imagem e semelhança de Deus.
Qual é o atributo comunicável, a característica da “imagem e semelhança” mais forte de Deus no ser humano? Alguns pensam que é a capacidade de pensar: “a inteligência nos diferencia dos animais”. Sem dúvida que a inteligência é uma grande característica, contudo, Satanás é muito inteligente e não foi feito a imagem e semelhança de Deus. Este não é o atributo comunicável de Deus mais forte no ser humano.
Outros pensam que é o amor: “O que nos torna humanos não está em nossa mente, mas em nosso coração, não é a nossa capacidade de pensar, mas a nossa capacidade de amar”. Com certeza, o amor é um dos grandes atributos comunicáveis de Deus, mas ainda não é aquele mais forte que faz o homem ser “imagem e semelhança de Deus”. Certos animais possuem um enorme amor pelos seus filhotes.
Algumas pessoas vão afirmar que é a espiritualidade humana. Anjos e demônios são seres espirituais. A característica de maior expressão da imagem de Deus no ser humano é a comunhão, a união das pessoas. Não é a inteligência, o amor, a espiritualidade... mas a unidade das pessoas.
Por que é que a maior característica de Deus no ser humano é a unidade, a comunhão destes seres? Porque o ser humano é a única criatura no mundo capaz de ter comunhão com os mesmos de sua espécie da mesma maneira que o Criador. A comunhão, a unidade na diversidade é a característica de Deus que apenas o ser humano consegue expressar.
Esta capacidade de pessoas distintas tornarem-se uma só pode ser vista no casamento. No casamento vemos não um triunidade, mas uma unidade de duas pessoas. Pessoas distintas tornam-se uma só no casamento: “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne”. (Ef.5:31) Percebam que o argumento de que quem não se casa está incompleto não é bíblico. Algumas pessoas fazem a seguinte afirmação: “Você precisa encontrar sua cara-metade”. Isto não é encontrado nas Escrituras. ½ + ½ = 1. Isto é falso, é enganoso, é distorção do ensinamento bíblico. O milagre da Bíblia é 1 + 1 = 1. Portanto, no casamento percebemos um retrato da relação entre o Pai e o Filho na Trindade: “Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”. (I Cor.11:3)
Assim como o Pai tem autoridade sobre o Filho na Trindade, o marido tem autoridade sobre a mulher no casamento. Assim como o Pai e o Filho são iguais em divindade, em importância e em pessoalidade, também o marido e a mulher são iguais em humanidade, em importância e em pessoalidade. Esta capacidade de pessoas distintas tornarem-se uma só pode ser vista na igreja: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo”. (I Cor.12:12) “Em Cristo não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo”. (Gl. 3:28) Ariovaldo Ramos certa vez afirmou que “A maior dimensão de Deus da qual o ser humano é portador é a vocação da unidade-unicidade, a capacidade de formar comunidade, de se tornar um, um entre os seus iguais e um com o Deus Triuno”. Foi por isto que lá no início Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só”. “Mas o homem não tinha Deus e os animais?” O homem precisava de alguém igual a ele, para se relacionar nesta dimensão. Os animais eram inferiores e Deus era superior. O homem estava só porque não possuía ninguém igual a ele para se relacionar.
Esta declaração de Deus demonstra a Sua preocupação do homem ter comunhão com um ser correspondente. Está implícita nesta declaração a verdade de que ninguém pode ser feliz sozinho. Portanto, a igreja traz felicidade e significado para as pessoas, quando promove a comunhão, amizade...
Assim como na Trindade existem três pessoas distintas mais iguais em sua comunhão, da mesma maneira, os membros da igreja de Deus, são diferentes, mas ao se unirem desfrutam de comunhão entre iguais. É por isto que no Corpo de Cristo, não deve existir doutor, mestre, major, diretor... Na igreja todos são iguais! Quando damos mais valor a alguns por causa de seus títulos ou posição social, estamos ofendendo a Trindade!
A partir da Trindade nada existe por si mesmo, individualmente. A comunhão é imprescindível para o homem encontrar sentido para sua vida. Por outro lado, o individualismo é a negação da igreja, do próprio homem e de Deus.
Para que esta unidade possa ser sadia, ela precisa basear-se no amor: “A fim de que todos sejam um, como és tu ó Pai em mim e eu em ti”. Jesus lembra do sentimento existente entre Ele e o Pai, para mostrar como devemos nos relacionar. “Assim como a nossa unidade está baseada no amor, que seja a unidade deles também.” Somente o amor é capaz de unir para sempre e de forma verdadeira. É claro que existirão brigas, desentendimentos, ciúmes... Mas se o amor existir, junto com ele, estará presente o perdão e a possibilidade de caminharmos juntos.