quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Lição do Milho

Existem muitas espécies de milho; contudo, tudo é milho.

O milho produz conforme é tratado. Se lhe retiro amido, dá maisena; se frito dá pipoca; se cozinho ou asso é com para comer; se não serve para mais nada, é bom para os cavalos e as galinhas.

Mas, o milho só produz se for tratado como é devido, na hora certa. E a cada espécie só posso pedir o que pode dar. Milho comum não dá pipoca. Milho de pipoca não serve para fazer curau.

Se não cozinho o milho verde, enquanto está verde, ele fica duro. Se frito o milho verde ele não dá pipoca.

Se colho o sabugo antes de crescer, ele não serve.

Até que o milho fique como quero, como precisa, preciso cuidar dele, dar-lhe o que precisa.

Desta forma, preciso aprender algumas verdades da vida humana com o milho. Precisamos ajudar aos outros a produzir, a crescer, a se realizar.

Contudo, é necessário entender que não podemos pedir a pessoa imatura que seja madura no tempo que nós desejamos. Como o milho, ela tem o seu tempo certo de amadurecer.

Precisamos dar-lhe o que precisa para desenvolver-se.

Precisamos exigir das pessoas conforme as suas habilidades.

Precisamos entender que se alguém está doente, precisamos ter paciência e dar-lhe o que é preciso para se recuperar, e, a partir daí produzir.

Precisamos conhecer a espécie de cada um, o seu grau de maturação, as suas necessidades, conforme precisa, na hora que precisa. E desta forma, amaremos as pessoas verdadeiramente, ajudando-as a desabrochar.

ABAIXO, TEXTO ESCRITO POR RUBEM ALVES

A pipoca é um milho mirrado e subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sob o fogo, esperando assim que os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente, os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles; os grãos duros, quebra-dentes, se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem.

Na simbologia cristã, o milagre do milho de pipoca pode ser representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser do outro.

Em Minas Gerais todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não podem existir outra coisa mais maravilhosa do que o jeito de ser delas. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida, perde-la-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. O seu destino é o lixo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A IMPORTÂNCIA DO EXEMPLO

Napoleão Bonaparte sem dúvida foi um dos maiores líderes que este mundo já conheceu. Certa vez, seu exército estava se preparando para uma as maiores batalhas. As forças adversárias tinham um contingente três vezes superior ao seu, além de um equipamento muito superior. Napoleão avisou seus generais de que ele estava indo para a frente de batalha e estes procuraram convencê-lo a mudar de idéia:

- Comandante, o Senhor é o império. Se morrer, o império deixará de existir. A batalha será muito difícil. Deixe que nós cuidaremos de tudo. Por favor, fique. Confie em nós.

Tudo em vão, não houve nada que o fizesse mudar de idéia. No meio da noite, o general Junot, um de seus brilhantes auxiliares e também amigo, procurou-o e, de novo, tentou mostrar o perigo de ir para a frente de batalha. Napoleão olhou-o com firmeza e disse:

- Não tem jeito, eu vou.
- Mas por quê, comandante?
- É mais fácil puxar do que empurrar.

Ainda sobre a importância do exemplo, lembro-me de uma das histórias envolvendo a "Rainha Sanguinária", Maria Tudor, da Escócia. Sob o seu reinado, muitos ministros e bispos foram queimados na estaca, a ponto disto ter se tornado comum. Numa daquelas ocaisões um homem notou um grande número de pessoas viajando, logo ao amanhecer, na estrada de Smithfield (local geralmente usado para as execuções). Ficou imaginando o que traria um tão grande número de pessoas à rua, fora de suas casas, àquela hora do dia. Então perguntou a um homem que estava passando: “Para onde estão indo vocês?” O Homem respondeu: “Estamos indo a Smithfield, para ver o nosso pastor ser queimado”. Novamente o homem perguntou: “Por que desejam ver tal coisa? Que proveito isto lhes trará?” Aquele pedestre respondeu: “Vamos ver o nosso pastor ser queimado para aprendermos o caminho”.

“Servir de exemplo não é a melhor forma de ensinar; é a única forma de ensinar”. (Albert Schweitzer).

domingo, 25 de julho de 2010

A LEI DO PALHAÇO

Diz uma história que numa cidade apareceu um circo, e que entre seus artistas havia um palhaço com o poder de divertir, sem medida, todas as pessoas da platéia e o riso era tão bom, tão profundo e natural que se tornou terapêutico. Todos os que padeciam de tristezas agudas ou crônicas eram indicados pelo médico do lugar para que assistissem ao tal artista que possuía o dom de eliminar angústias.

Um dia, porém, um morador desconhecido, tomado de profunda depressão, procurou o doutor. O médico então, sem relutar, indicou o circo como o lugar de cura de todos os males daquela natureza, de abrandamento de todas as dores da alma, de iluminação de todos os cantos escuros do nosso jeito perdido de ser. O homem nada disse, levantou-se, caminhou em direção à porta e quando já estava saindo, virou-se, olhou o médico nos olhos e sentenciou: "não posso procurar o circo... aí está o meu problema: eu sou o palhaço".

Como professor vejo que, às vezes, sou esse palhaço, alguém que trabalhou para construir os outros e não vê resultado muito claro daquilo que faz. Tenho a impressão que ensino no vazio (e sei que não estou só nesse sentimento) porque depois de formados meus ex-alunos parecem que se acostumam rapidamente com aquele mundo de iniqüidades que combatíamos juntos. Parece que quando meus meninos(as) caem no mercado de trabalho a única coisa que importa é quanto cada um vai lucrar, não importando quem vai pagar essa conta e nem se alguém vai ser lesado nesse processo. Aprenderam rindo, mas não querem passar o riso à frente e nem se comovem com o choro alheio.

Digo isso, até em tom de desabafo, porque vejo que cada dia mais meus alunos se gabam de desonestidades. Os que passam os outros para trás são heróis e os que protestam são otários, idiotas ou excluídos, é uma total inversão dos valores. Vejo que alguns professores partilham das mesmas idéias e as defendem em sala de aula e na sala de professores e se vangloriam disso. Essa idéia vem me assustando cada vez mais, desde que repreendi, numa conversa com alunos, o comportamento do cantor Zeca Pagodinho, no episódio da guerra das cervejas e quase todos disseram que o cantor estava certo.Tontos foram os que confiaram nele. "O importante, professor, é que o cara embolsou milhões", disse-me um; outro: "daqui a pouco ninguém lembra mais, no Brasil é assim, e ele vai continuar sendo o Zeca, só que um pouco mais rico", todos se entreolharam e riram, só eu, bobo que sou, fiquei sem graça. O pior é quando a gente se dá conta que no Brasil é assim mesmo, o que vale é a lei de Gérson: "o importante é levar vantagem em tudo". (Lei de Gerson... dá para rir...).

Perguntamos: É possível, pela lógica, que todo mundo ganhe? Para alguém ganhar é óbvio que alguém tem de perder.A lógica é guardar o troco a mais recebido no caixa do supermercado; é enrolar a aula fingindo que a matéria está sendo dada; é fingir que a apostila está aberta na matéria dada, mas usá-la como apoio enquanto se joga forca, batalha naval ou jogo da velha; é cortar a fila do cinema ou da entrada do show; é dizer que leu o livro, quando ficou só no resumo ou na conversa com quem leu; é marcar só o gabarito na prova em branco, copiado do vizinho, alegando que fez as contas de cabeça; é comprar na feira uma dúzia de quinze laranjas; é bater num carro parado e sair rápido antes que alguém perceba; é brigar para baixar o preço mínimo das refeições nos restaurantes universitários, para sobrar mais dinheiro para a cerveja da tarde; é arrancar as páginas ou escrever nos livros das bibliotecas públicas; é arrancar placas de trânsito e colocá-las de enfeite no quarto; é trocar o voto por empregos, pares de sapato ou cestas básicas; é fraudar propaganda política mostrando realizações que nunca foram feitas. É a lógica da perpetuação da burrice. Quando um país perde, todo mundo perde. E não adianta pensar que logo bateremos no fundo do poço, porque o poço não tem fundo.

Parafraseando Schopenhauer: "Não há nada tão desgraçado na vida da gente que ainda não possa ficar pior".Se os desonestos brasileiros voassem, nós nunca veríamos o sol. Felizmente há os descontentes, os lutadores, os sonhadores, os que querem manter o sol aceso, brilhando e no alto.

A luz é e sempre foi a metáfora da inteligência. No entanto, de nada adianta o conhecimento sem o caráter. Que nas escolas seja tão importante ensinar Literatura, Matemática ou História quanto decência, senso de coletividade, coleguismo e respeito por si e pelos outros. Acho que o mundo (e, sobretudo, o Brasil) precisa mais de gente honesta do que de literatos, historiadores ou matemáticos. Ou o Brasil encontra e defende esses valores e abomina Zecas, Gérsons, Dirceus, Dudas e todos os marketeiros que chamam desonestidades flagrantes, de espertezas técnicas, ou o Brasil passa de país do futuro para país do sófuro.

De um Presidente da República espera-se mais do que choro e condecoração a garis honestos, espera-se honestidade em forma de trabalho e transparência. De professores, espera-se mais que discurso de bons modos, espera-se que mereçam o salário que ganham (pouco ou muito) agindo como quem é honesto.

A honestidade não precisa de propaganda, nem de homenagens, precisa de exemplos. Quem plantar joio, jamais colherá trigo. Quando reflexões assim são feitas cada um de nós se sente o palhaço perdido no palco das ilusões. A gente se sente vendendo o que não pode viver, não porque não mereça, mas porque não há ambiente para isso. Quando seria de se esperar uma vaia coletiva pelo tombo, pelo golpe dado na decência, na coerência, na credibilidade, no senso de respeito, vemos a população em coro delirante gritando "bis" e, como todos sabemos, um bis não se despreza. Então, uma pirueta, duas piruetas, bravo! bravo! E vamos todos rindo e afinando o coro do "se eu livrar a minha cara o resto que se dane". Enquanto isso o Brasil de irmã Dulce, de Manuel Bandeira, do Betinho, de Clarice Lispector, de Chiquinha Gonzaga e de muitos outros heróis anônimos que diminuíram a dor desse país com a sua obra, levanta-se, caminha em silêncio até a porta, vira-se e diz: "Esse é o problema... eu sou o palhaço".

O que você responderia?

Certa vez um presidiário perguntou o seguinte: “Temos a nossa igreja aqui no presídio, contudo, aqui não existe batistério. É extremamente proibida a construção de um batistério no presídio. O diretor não permite que se leve um batistério móvel até lá. Pastor, quem se converteu genuinamente aqui, pode receber a ceia? Existe algo na Bíblia que proíbe alguém que não é batizado de participar da ceia memorial?”

sábado, 24 de julho de 2010

O Baluarte da Verdade

O apóstolo Paulo disse que a Igreja deveria ser “coluna e baluarte da verdade” (I Tm. 3:15) A história está repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em gerações anteriores, alguém dar a vida por causa daquilo em que cria era considerado um ato heróico. Isso já não é mais assim.

Inácio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros pela verdade cristã, na antiguidade. Ambos eram amigos pessoais e discípulos do apóstolo João. Viveram e ministraram quando o cristianismo ainda era muito recente. Ambos entregaram, voluntariamente, sua vida, em vez de negar a Cristo e se desviarem da verdade.

Inácio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, o qual exigiu que ele fizesse um sacrifício público aos ídolos, como prova de sua lealdade a Roma. Inácio poderia ter poupado sua própria vida, ao ceder diante daquela pressão. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior realizado sob pressão, contanto que Inácio não negasse a Cristo em seu coração. Mas para Inácio, a verdade era mais importante do que a própria vida. Ele recusou-se a sacrificar aos ídolos, e Trajano ordenou que ele fosse lançado às feras, no estádio, para a diversão das multidões pagãs.

Policarpo, procurado pelas autoridades, entregou-se de espontânea vontade, sabendo que isso lhe custaria a vida. Levado a um estádio, diante de uma turba sedenta de sangue, Policarpo foi ordenado a amaldiçoar a Cristo. Ele se recusou, e disse as seguintes palavras: “Durante 86 anos eu o tenho servido, Ele nunca me fez nenhuma injustiça. Como, pois, blasfemarei do meu Rei que me salvou?”. Foi imediatamente queimado vivo, ali mesmo.

Em cada geração, no decorrer da história da igreja, mártires incontáveis preferiram morrer a negar a verdade. Será que essas pessoas não passavam de tolos? Será que eles valorizavam demais as suas convicções? Será que sua total confiança naquilo em que criam era realmente zelo mal orientado? Será que eles morreram desnecessariamente?

Infelizmente esta realidade deixou de existir a muito tempo. O que vemos hoje é o oposto do que acontecia com estes homens. O próprio movimento evangélico tem grande culpa na desvalorização da verdade, afinal, muitos pregadores e pastores satisfazem àqueles que sentem coceira nos ouvidos (II Tm. 4:1-4)

Hoje, boa parte da igreja visível, parece imaginar que os cristãos devem estar numa diversão, e não numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrinária é algo bem distante do pensamento da maioria dos freqüentadores de igreja. Os cristãos contemporâneos estão tão obcecados em fazer com que a igreja pareça “legal” aos incrédulos, que não podem se incomodar com assuntos referentes à exatidão doutrinária de outrem.

Dentre todas as pessoas, os cristãos deveriam ser aqueles mais dispostos a viver e morrer pela verdade. Afinal, foi a verdade que os libertou (Jo. 8:32) Se formos chamados a morrer por amor a verdade, precisamos estar dispostos e prontos a de boa vontade, perder a nossa vida. Foi exatamente a respeito disso que Jesus falou ao chamar os seus discípulos a tomar a sua cruz (Mt. 16:24)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

“NÃO EXISTE VERDADE” – ISTO É VERDADE?

Aqueles que afirmam: "Não existe este negócio de verdade", estão falando a verdade? Esta afirmação pretende ser verdadeira? Em caso positivo, a própria afirmação derrota a si mesma.

A verdade existe, ela não pode ser negada. Aqueles que negam a verdade fazem a afirmação falsa em si mesma de que não existe verdade. A própria declaração absoluta de que “não existe verdade absoluta” não pode ser verdadeira. A declaração do relativismo é irracional porque ela afirma exatamente aquilo que está tentando negar. Os relativistas estão absolutamente certos de que não existem absolutos. Aqueles que negam todos os valores, valorizam seu direito de fazer essa negação. Eles são completamente incoerentes! A verdade é que, na prática, os valores morais são inegáveis!

As reações do ser humano provam que o relativismo é uma falácia. As pessoas podem afirmar que são relativistas, mas não querem que seu cônjuge viva como relativista sexual, seja relativamente fiel. Todo macho relativista espera que sua esposa viva como se o adultério fosse absolutamente errado.

Mesmo que existam poucos relativistas que não colocam objeções ao adultério, nenhum deles aceitaria a moralidade sobre o homicídio ou o estupro se alguém quisesse matá-los ou estuprá-los. A verdade é que o relativismo contradiz nossas reações e nosso bom senso.

Se realmente não existe verdade, então, por quer tentar aprender alguma coisa? Por que um aluno deveria dar ouvidos a um professor? Afinal, o professor não tem a verdade. Qual é o objetivo de ir à escola, quanto mais de pagar por ela? Qual é o objetivo de obedecer às proibições morais de um professor quanto a colar nas provas ou plagiar trabalhos de outras pessoas?

Se ensinarmos aos alunos que não existe certo ou errado, por que deveríamos nos surpreender com o fato de que um grupo de alunos atirar em seus colegas de classe? Ver uma mãe adolescente abandonando o filho numa lata de lixo? Por que eles deveriam agir de maneira "certa" quando nós ensinamos que não existe essa coisa de "certo"? É um absurdo esperar virtude de pessoas a quem foi ensinado que não existe virtude. "Num tipo de simplicidade assustadora, removemos o órgão e exigimos a função. Fazemos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Rimos da verdade e ficamos chocados ao encontrarmos traidores em nosso meio. Castramos e esperamos que o castrado seja reprodutor". (C. S. Leis)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

COMO DESCOBRIR A VERDADE?*

O processo de descoberta da verdade começa com as leis auto-evidentes da lógica chamadas primeiros princípios. São chamados de primeiros princípios porque não existe nada por trás deles. Esses primeiros princípios são as ferramentas que usamos para descobrir todas as outras verdades. Sem eles, ninguém poderia aprender nenhuma outra coisa.

Para entender o que estamos dizendo, considere o seguinte argumento lógico:

1. Todos os homens são mortais.

2. João é um homem.

3. Portanto, João é mortal.

A conclusão necessariamente segue as premissas. Se todos os homens são mortais e se João é um homem, então João é mortal. Contudo, as leis da lógica não nos dizem se estas premissas são verdadeiras, o que comprometeria a conclusão. Talvez nem todos os homens sejam mortais. Talvez João não seja um homem. A lógica por si só não pode dizer nada disso. Esse ponto é facilmente entendido ao olharmos para um argumento válido que não é verdadeiro.

1. Todos os homens são répteis de quatro patas.

2. Antônio é um homem.

3. Portanto, Antônio é um réptil de quatro patas.

O argumento é válido porque a conclusão segue as premissas. Mas a conclusão é falsa porque a primeira premissa é falsa!

O que Norman Geisler e Frank Turek nos mostram é o fato de que um argumento pode ser logicamente correto, mas ainda ser falso, afinal, as premissas do argumento não correspondem à realidade. Portanto, a lógica nos leva somente até aqui. A lógica pode nos dizer que o argumento é falso, mas não pode dizer por si só quais premissas são verdadeiras. Como sabemos que João é um homem? Como sabemos que os homens são répteis de quatro patas? Precisamos de mais informações para descobrir estas verdades. Obtemos as informações com base na observação do mundo ao nosso redor e, então, tiramos conclusões gerais destas observações. Ao observar alguma coisa diversas vezes, você pode concluir que algum princípio geral é verdadeiro. Quando um objeto cai da mesa repetidas vezes, a conclusão a que se chega é que o objeto sempre cairá da mesa. Esse princípio de chegar a conclusões gerais a partir de observações específicas é chamado de indução. Este é o processo utilizado para descobrir se uma premissa em um argumento é verdadeira e válida. Este é considerado um método científico.

A maioria das conclusões baseadas na indução não pode ser considerada absolutamente certa, mas apenas altamente provável. Estamos completamente certos de que a gravidade faz todos os objetos caírem no chão? Se as conclusões indutivas não são seguras, podemos confiar nelas? Sim, mas com graus variáveis de certeza. A conclusão é praticamente correta, mas não é absolutamente certa. Podemos ter certeza com uma dúvida justificável, mas não certeza absoluta.

Um exemplo muito interessante citado por Norman Geisler e Frank Turek para nos ajudar a entender o que estamos falando é o seguinte: Não temos uma informação perfeita sobre o líquido que está dentro de um litro de leite. Imaginamos que ele possa ser ingerido e que não vai nos envenenar. Mas estamos 100% certos disso? Não! Confiamos em nossas experiências anteriores de beber o leite. Acreditamos que as pessoas que o produziram são pessoas sérias. Supomos que o que esteja dentro da caixa do leite não seja veneno. Contudo, não estamos completamente certos disto. Semelhantemente, não possuímos informação perfeita sobre o caráter das pessoas quem acabamos de conhecer. Depois de algum tempo de convivência, passamos a confiar nelas bem mais do que no começo. Contudo, estamos completamente certos de que elas são dignas de confiança? Nossa conclusão pode ser altamente provável, mas não é certa. Esse é o caso de muitas decisões que tomamos na vida.

Semelhantemente, nós usamos a indução para investigar Deus da mesma maneira que usamos a indução para investigar as outras coisas que não podemos ver, ou seja, observando seus efeitos. Não podemos observar a gravidade diretamente, podemos apenas observar os seus efeitos. Não podemos observar a mente humana diretamente, apenas os seus efeitos. Dos efeitos, fazemos uma inferência racional quanto à existência de uma causa.

Outro exemplo citado por Norman Geisler e Frank Turek é o da leitura de um livro. Por que acreditamos que um livro é efeito de uma mente humana? Porque todas as nossas experiências de observação nos dizem que um livro é um efeito que resulta apenas de uma inteligência preexistente, o escritor. Ninguém nunca viu o vento, a chuva ou outras forças naturais produzirem um livro. Você só viu até hoje pessoas, seres inteligentes produzem um livro. Apesar do fato de você não ter visto ninguém escrevendo um livro, você pode concluir que ele deve ter um autor inteligente capaz de escrever o que está ali. Ao assumir que um livro tem um autor, estamos colocando juntas a observação, a indução e a dedução.

Se fôssemos escrever tudo que acabamos de falar de maneira lógica, o argumento seria o seguinte:

1. Todos os livros têm um autor (premissa baseada na investigação indutiva)

2. “Deus é Soberano” é um livro (premissa baseada na observação)

3. Portanto, “Deus é Soberano” tem um autor (conclusão)

Portanto, o argumento é válido por causa da dedução, e é verdadeiro porque as premissas são verdadeiras. As premissas foram verificadas por meio da observação e da indução.

*Toda a argumentação deste artigo foi retirada do excelente livro “Não Tenho Fé Suficiente Para ser Ateu” de Norman Geisler e Frank Turek, publicado no Brasil pela Editora Vida.

VERDADES SOBRE A VERDADE

Primeiro. A verdade é descoberta, e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela. A lei da gravidade existia antes de Newton.

Segundo. A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então ela é verdade para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas. 2 + 2 = 4 para todo mundo, em todo lugar, o tempo todo.

Terceiro. A verdade é imutável, embora as nossas crenças sobre a verdade possam mudar. Começamos a acreditar que a Terra era redonda, em vez de plana. A verdade sobre a Terra não mudou, o que mudou foi a nossa crença sobre a forma da terra.

Quarto. As crenças não podem mudar um fato, não importa com que sinceridade elas sejam esposadas. Alguém pode sinceramente acreditar que o mundo é plano, mas isso faz apenas a pessoa estar sinceramente errada.

Quinto. A verdade não é afetada pela atitude de quem a professa. Uma pessoa arrogante não torna falsa a verdade que ela professa. Uma pessoa humilde não faz o erro que ela professa transformar-se em verdade. Portanto, é possível haver crenças contrárias, mas verdades contrárias é uma coisa impossível de existir.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

“O Que é a Verdade?”

Em seu diálogo com Jesus, Pilatos perguntou ao Filho de Deus: “O que é a verdade?” (Jo.18:38)

O desejo do governador romano é o mesmo de todo homem que já habitou este planeta. Todos querem saber a resposta para esta indagação. Todos buscam freneticamente alguma ajuda que possa lhes dar orientação em meio a tantas dúvidas e inquietações.

No filme Questão de Honra, o ator Tom Cruise faz o papel de um advogado da Marinha norte-americana que questiona um coronel, representado por Jack Nicholson, sobre o assassinato de um de seus homens. A dramática cena do tribunal transforma-se num grande bate-boca no qual Cruise acusa Nicholson de ser cúmplice do assassinato. Cruise: “Coronel, o senhor ordenou o Código Vermelho?” E o juiz interrompe: “O senhor não precisa responder a essa pergunta!” Nicholson diz: “Eu responderei a esta pergunta... você quer respostas?” Cruise: “Acho que foi designado para isso”. Nicholson: “Você quer respostas?” Cruise: “Eu quero a verdade!” Nicholson: “Você não pode suportar a verdade!”

Nicholson poderia muito bem estar gritando com a nossa sociedade, em vez de com Cruise, afinal, muitas pessoas ao nosso redor não suportam a verdade. Por um lado, exigimos verdade em praticamente todas as áreas da vida. Exigimos a verdade de entes queridos, ninguém quer ouvir uma mentira de um cônjuge ou de um filho; de médicos, queremos a receita do remédio correto e ter o procedimento médico adequado; dos corretores de ações da bolsa de valores, exigimos que nos digam a verdade sobre as ações que estão nos recomendando; dos tribunais, queremos que condenem apenas os verdadeiros culpados; dos empregadores, queremos que nos digam a verdade e que nos paguem de maneira justa; das companhias aéreas, exigimos aviões verdadeiramente seguros e pilotos realmente sóbrios. Esperamos a verdade quando escolhemos um livro de referência e lemos um artigo no jornal. Esperamos a verdade de anunciantes, professores e políticos. Pressupomos que as sinalizações das estradas, as bulas dos remédios, os rótulos das comidas revelem a verdade.

Exigimos a verdade em praticamente todas as facetas da vida que afetam o nosso dinheiro, os nossos relacionamentos, a nossa segurança e a nossa saúde. Contudo, apesar das firmes demandas pela verdade nessas áreas, muitos de nós, dizem que não estão interessados na verdade quando o assunto é moralidade ou religião. O fato é que muitos simplesmente rejeitam a idéia de que qualquer religião possa ser verdadeira. Esta é uma grande contradição! Exigimos verdade em tudo, exceto na moralidade e na religião. Por que dizemos: "Isso é verdade para você, mas não para mim", quando falamos sobre religião, mas nunca pensamos nessa falta de sentido quando estamos falando com um corretor de ações da bolsa de valores sobre o nosso dinheiro, ou com um médico sobre a nossa saúde?

Embora poucos admitam, nossa rejeição à verdade religiosa e moral está baseada em fundamentos volitivos e não intelectuais. Simplesmente não queremos submeter-nos a qualquer padrão moral ou doutrina religiosa. Desse modo, aceitamos cegamente as fracas afirmações de que “a verdade não existe”, de que “tudo é relativo”, “não existem absolutos”, “tudo é uma questão de opinião”, “você não deve julgar”. Talvez Agostinho estivesse certo quando disse que: "Nós amamos a verdade quando ela no ilumina, mas a odiamos quando ela nos convence. Talvez não possamos suportar a verdade".

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Arte de Escrever

Quando leio o que alguns escritores redigiram, penso que escrever é fácil. Fico impressionado com a capacidade de determinadas pessoas de transmitirem as suas ideias no papel. Poucas coisas me deixam tão fascinado como um bom livro, um grande artigo, uma resenha bem feita. Ao me deparar com as palavras de alguns gênios da caneta, sou levado a dizer o que disse Milton Nascimento em sua música Certa canções: “Certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: Como não fui eu que fiz?!"

Escrever não é fácil! Carlos Drummond de Andrade dizia que “A escolha das palavras adequadas é uma renhida batalha, muitas vezes inglória, que tem início mal rompe a manhã.” Certamente que não foi Drummond, mas existe um escritor que resolveu guardar o texto inacabado na gaveta até descobrir, quase dois anos depois, a palavra que faltava para transmitir com clareza sua idéia e pingar o ponto final no manuscrito. Otto Lara Rezende corrigia e modificava seus escritos exaustivamente. Mesmo depois de publicados, ele revisava seus livros. A conseqüência disto é que seus livros tiveram várias edições revistas. Jorge Luís Borges afirmava que um autor publica seu livro para livrar-se dele.

Ainda citando grandes escritores que revelaram a sua angústia e dificuldade com esta arte, lembro-me de Mark Twain quando afirmou que: "A diferença entre a palavra quase certa e a palavra certa é realmente muito grande: é a diferença entre um vaga-lume e um relâmpago". Philip Roth em “O Escritor fantasma”, afirmou o seguinte: “Eu viro frases do avesso. Essa é a minha vida. Escrevo uma fase e depois a viro do avesso. Em seguida, olho e viro-a novamente. Depois vou almoçar. Mais tarde, volto e escrevo outra frase. Em seguida, tomo um chá e viro a nova frase do avesso. Depois releio as duas frases e as viro. Aí, deito-me no sofá e fico pensando. E, então, me levanto, jogo as frases fora e começo tudo de novo.” E, por fim, o grande Henry Nouwen: “A maioria dos estudantes pensa que escrever é colocar idéias, insights e visões no papel. Acham que, primeiramente, precisam ter alguma coisa a dizer antes que possam efetivamente escrevê-la. Para eles, escrever é um pouco mais do que registrar um pensamento preexistente. Porém, com esta abordagem, o verdadeiro ato de escrever torna-se impossível. Escrever é um processo no qual descobrimos aquilo que vive dentro de nós. O próprio escrever revela o que está vivo. A mais profunda satisfação ao escrever é exatamente que este ato abre novos espaços dentro de nós dos quais não tínhamos consciência antes de começar a escrever. Escrever é embaraçar numa jornada cujo destino final não sabemos”.

Conquanto seja trabalho árduo, escrever é algo que ajuda os escritores em sua solidão e angústia. Dizem que os escritores possuem a “síndrome do observador”. Gostam demasiadamente de observar todas as coisas ao seu redor. Por causa disto, escrever é um ato de extrema solidão. Os escritores constroem uma realidade artificial, habitada somente por eles, e que, normalmente parece mais real do que o mundo lá fora. O resultado é que os escritores possuem a tendência de se afastar da vida observando-a sem participar realmente dela.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

"APLICA-TE À LEITURA"

Escrevendo ao jovem Timóteo que iniciava no ministério, Paulo lhe exortou com a seguinte palavra: “Aplica-te à leitura”. (I Tm. 4:13). O apóstolo sabia da enorme importância da leitura para aqueles que desejavam ser líderes espirituais. Aos crentes de Corinto ele escreveu: "Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis; e espero que o compreendeis de todo". (II Cor. 1:13) À Igreja de Éfeso: "Pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo". (Ef. 3:4) À Igreja de Colossos: "E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai porque seja também lida na igreja aos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede igualmente perante vós". (Cl. 4:16). Ler as cartas do apóstolo Paulo era tão importante, que ele o ordenou com uma imprecação: "Conjuro-vos, pelo Senhor, que esta epístola seja lida a todos os irmãos". (I Ts. 5:27).

Numa outra oportunidade, Paulo disse a Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos”. (II Tm. 4:13) Paulo possuía uns poucos livros que tinham ficado para trás, talvez envolvidos numa capa, e ele orienta a Timóteo a quando for se encontrar com ele, levar aqueles livros que tinham sido esquecidos. Este verso nos mostra que até mesmo um apóstolo precisa ler. Algumas pessoas (pastores e líderes) acreditam que o pregador que estuda não é muito bom. Para estas pessoas, o bom pregador é aquele que sobe ao púlpito abre o texto na hora e, naquele momento, segundo eles, o Espírito lhes dá a mensagem. A postura de tais pessoas é amplamente censurada pelo apóstolo. “Paulo foi inspirado pelo Espírito Santo, e, no entanto, desejava ler os seus livros. Paulo esteve pregando por mais de trinta anos, e, no entanto, desejava ler os seus livros. Paulo tinha visto o Senhor, e, no entanto, desejava ler os seus livros. Paulo tinha uma experiência mais ampla que a maioria dos homens, e, no entanto, desejava ler os seus livros. Paulo tinha sido levado ao terceiro céu, e, no entanto, desejava ler os seus livros. Paulo escreveu a maior parte do Novo Testamento, e, no entanto, desejava ler os seus livros. O homem que nunca lê, nunca será lido. O homem que nunca cita, nunca será citado. Aquele que não usa os pensamentos do cérebro de outros homens, prova que ele mesmo não tem cérebro algum. (Spurgeon)

Escrevendo aos crentes de Éfeso, o apostolo disse o seguinte: "Segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo". (Ef. 3:3,4). Aprendemos aqui a verdade de que a igreja primitiva foi estabelecida pelos escritos dos apóstolos, bem como pela pregação deles. Deus resolveu enviar sua Palavra viva ao mundo por trinta anos, e sua palavra escrita, por dois mil anos. Pense sobre a intenção que estava por trás desta resolução divina. As pessoas, em cada geração, seriam dependentes daqueles que lêem. Algumas pessoas, se não todas, teriam de aprender a ler para serem fiéis a Deus. Assim tem sido por milhares de anos.

Muitas vezes Jesus esclareceu grandes assuntos com uma referência à leitura. Quanto ao assunto do sábado Ele disse: "Não leste o que fez Davi?". (Mt. 12:3) Quanto ao divórcio e ao casamento, Ele disse: "Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher?". (Mt. 19:4) Sobre a verdadeira adoração e louvor, Ele disse: "Nunca lestes: da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?". (Mt. 21:16). Quanto à ressurreição, Jesus disse: "Nunca lestes nas Escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra,angular?". (Mt. 21:42). Ao intérprete da lei que provou a Jesus inquirindo-O sobre a vida eterna, ele disse: "Que está escrito na Lei? Como interpretas?". (Lc. 10:26).

Daniel Webster enfatizando a importância da leitura afirmou o seguinte: "Se livros religiosos não circularem amplamente entre as massas, nesse país, não sei o que nos tornaremos como nação. Se a verdade não for difundida, o erro o será. Se Deus e sua Palavra não forem conhecidos e recebidos, o Diabo e suas obras ganharão ascendência. Se os livros evangélicos não alcançarem cada vilarejo, as páginas de literatura corrupta e licenciosa alcançarão". John Piper também deu a sua contribuição: "Uma das coisas com a qual nós, crentes, precisamos estar comprometidos, além da leitura, é a atitude de dar livros espirituais àqueles que podem lê-los, mas não os compram".

O efeito cascata da leitura é algo que nós não conseguimos imaginar. "Um livro escrito por Richard Sibbes, um dos mais seletos escritores puritanos, foi lido por Richard Baxter, que foi muito abençoado pelo livro. Depois, Baxter escreveu Um Apelo ao Não-Convertido, que influenciou profundamente Philip Doddridge, o qual, por sua vez, escreveu O Surgimento e o Progresso do Cristianismo na Alma. Este livro trouxe William Wilberforce, um político e inimigo da escravatura, a reflexões sérias sobre a eternidade. Wilberforce escreveu seu Guia Prático do Cristianismo, que influenciou a alma de Leigh Richmond. Este, por sua vez, escreveu A Filha do Leiteiro, que trouxe milhares ao Senhor, entre outros, Thomas Chalmers, o grande pregador". (Ernest Reisinger)

Quem deseja crescer, espiritualmente, precisa ler livros teológicos, devocionais, espirituais! Eis o que disse John Piper sobre isto: "Meu principal sustento espiritual vem do Espírito Santo por meio da leitura. Por conseguinte, ler é mais importante para mim do que comer. Se eu ficasse cego, pagaria a alguém a fim de que lesse para mim. Tentaria aprender braile. Compraria livros gravados em fitas cassetes. Preferiria viver sem comida a viver sem livros. Por isso, escrever parece algo que me dá vida, visto que alimento a minha vida com muito do que leio".

Winston Churchill dizia que “quem não lê não cresce e quem não cresce será sempre um servo”. Churchill sabia que as grandes mentes e os grandes homens tinham algo em comum: eram bons leitores.

Os leitores não são necessariamente líderes, mas os líderes quase sempre são leitores. Isto acontece porque quem lê exercita a mente, tem o que dizer, desvenda o conhecimento disponível, chega sempre na frente, tem mais oportunidades na vida, supera seus próprios limites, tem experiências mais profundas, possui melhores argumentos, está sempre atualizado, fala melhor, consegue os melhores empregos. Enfim, jamais terá a sua mente dominada por outra mente.

Em seu livro “A Vida é Fantástica”, Charlie Jones afirmou o seguinte: “Dentro de cinco anos você será a mesma pessoa, exceto pelas pessoas que conhecer e os livros que ler”. A leitura possui o enorme poder de transformar e elevar a cosmovisão das pessoas. Devido a este fato foi que Jorge Luis Borges disse certa vez sobre os livros e o hábito da leitura: “O microscópio e o telescópio são extensões da nossa visão; o telefone é a extensão da nossa voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões do nosso braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da nossa mente e da nossa imaginação”.

Portanto, lembre-se dos valores que os bons livros podem lhe transmitir. Eles instruem, edificam, confortam e provocam um crescimento que dura para sempre. Ninguém poderá lhe roubar o conhecimento que você obtém através da leitura. Sendo assim, invista tempo em leituras que irão abençoar a sua alma, estimular a sua mente e confortar seu coração.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

OS GRANDES MALEFÍCIOS DA TELEVISÃO

A Televisão tem uma mensagem subliminar, ela está sutilmente dizendo que agora é o único momento que realmente importa. Ela fala ao nosso subconsciente que o que importa é simplesmente o agora.

A Televisão prende a nossa atenção pela mudança repetitiva das imagens para que sempre haja algo novo. Neil Postman, em seu livro, “Divertindo-nos até a morte” afirma que a duração média de uma cena na TV americana é de apenas 3,5 segundos para que os olhos não descansem e sempre tenham algo novo para ver. Outras técnicas utilizadas para “prender” a atenção do telespectador são as seguintes: mudar constantemente o ângulo da câmera, fazer com que o foco seja aproximado e depois afastado, e fazer com que alguém diferente sempre entre em cena. Tudo isto acontece com o objetivo de que haja algo diferente o tempo todo.

Logo as mensagens da televisão são as seguintes: Primeiro, algo se torna cansativo quando não está visualmente em movimento. Segundo, se não for entretenimento, o programa não merece a nossa atenção. As pessoas vêm sendo educadas, ao assistirem TV continuamente, a sempre esperar algum entretenimento naquilo que estão assistindo. Terceiro, o tempo de concentração das pessoas diminuiu consideravelmente. Esta é uma das razões pelas quais as crianças, que ficam grudadas em frente à TV por tantos anos, possuem uma enorme dificuldade de aprendizado na escola. Elas simplesmente não estão acostumadas a se concentrar por tanto tempo. Quarto, a TV não nos permite refletir. A TV é capaz de nos enviar tantas mensagens ao mesmo tempo que a nossa mente é incapaz de refletir adequadamente sobre tudo o que nos é apresentado. A TV não é como um livro, ela não permite que paremos para refletir. A não ser que estejamos vendo um vídeo, não há como parar o programa e voltar a vê-lo depois. A TV continua sua exibição sem interrupções. Simplesmente não conseguimos pensar em tudo o que nos é comunicado em tão pouco tempo. Portanto, do que disse Nicholas Johnson: “Toda televisão é educativa. A única questão é: o que ela está ensinando?”

Pense em quão nova é a televisão. Nestes 2000 anos de história desde a vinda de Cristo, a TV tem moldado apenas os últimos 2,5% dessa história. Nos outros 97,5% do tempo desde a vinda de Jesus, não havia TV. E, durante 95% desse tempo, não havia rádio. O rádio entrou em cena no início dos anos 1900. Portanto, durante dezenove séculos de história cristã, as pessoas gastaram seu tempo livre fazendo outras coisas. O que elas fizeram? Usavam mais o seu tempo com leituras, em conversas sobre a vida e tudo que constitui a sua existência. Com certeza, elas não foram bombardeadas com trivialidades prejudiciais à alma, transmitidas pela TV. Ou seja, o problema da TV não é apenas o que ela faz com seus rios de vacuidade, mas também o que ela nos impede de fazer.

Falar sobre TV e espiritualidade não é algo difícil, visto a Bíblia falar muito sobre este assunto. Existem muitos versículos que alertam aos crentes quanto a TV: “Quem não perde sessão da tarde é filho da ociosidade”; “Quem se deleita com o Big Brother é inimigo da cultura e dos pensamentos nobres”; “Tudo que é desagradável, impuro, obsceno, ridículo, medíocre e infantil é observado nos programas de fofoca. Todo aquele que neles tem prazer não é sábio, mas néscio e tolo”. “Aquele que assiste Malhação é filho da insensatez e terá seu cérebro atrofiado - Se é que já não o tem” Este último verso não consta nos melhores manuscritos.

O meio mais rápido de acabar com os dramas da TV seria reescrever os enredos de forma a fazê-los lidar com estabilidades morais. Falar sobre fidelidade conjugal, amizades leais e cooperação generosa no trabalho. Ninguém assistiria! As pessoas querem ver os sete pecados mortais, não as sete virtudes capitais. Ian Fleming, autor de 007, certa vez afirmou que sem os sete pecados mortais nossas vidas seriam “chatas”. Fizeram um Reality Show na França só com pessoas inteligentes e educadas. O programa foi interrompido antes da metade, não teve audiência para continuar a sua exibição.

Acredito que foi o reverendo Ricardo Barbosa, da Igreja Presbiteriana do Planalto em Brasília, que certa vez fez uma estatística, no mínimo assustadora. Ele nos mostrou o enorme prejuízo intelectual e o desperdício com o tempo quando uma pessoa acompanha uma novela. Para ilustrar a sua tese ele utilizou como exemplo a novela Terra Nostra exibida pela Rede Globo no ano de 1999. A trama tem uma produção caprichada, bons atores e mostra uma história de imigrantes. Um investimento milionário foi feito naquele ano para conseguir bons índices de audiência do público. Só o primeiro capítulo, rodado na Inglaterra, teve a participação de 300 figurantes e custou um milhão de reais aos cofres da poderosa emissora. Os capítulos seguintes custaram cerca de 100 mil reais cada um. Ou seja, foram gastos 24 milhões e 900 mil reais para produzir a novela. Tudo isso para conseguir a atenção dos brasileiros, o que inclui os evangélicos.

A novela teve uma média de 240 capítulos, divididos em três épocas. Considerando uma média de 50 minutos (incluindo os comerciais) isso dá um total de doze mil minutos, duzentas horas, oito dias e oito horas na frente da televisão.

Considerando que o tempo médio para a leitura de uma página é de cinco minutos, chegamos a um total de 2.400 páginas de leitura durante uma novela. É o equivalente a aproximadamente os livros “O Jesus que eu nunca conheci” de Philip Yancey, “Deus é Soberano” de A.W. Pink, “Vivendo Com Propósitos” de Ed René Kivitz, “Teologia da Alegria” de John Piper, “Eleitos de Deus” de R.C. Sproul, “O Cristão e a Cultura” de Michael Horton, “Nossa Suficiência em Cristo” de John MacArthur e “Confissões” de Santo Agostinho.

Imagine os benefícios que estão disponíveis para quem decide fazer esta troca. Quantas verdades importantes estão à nossa frente, prontas para fortalecer nossa vida espiritual, e, quem sabe, transformar nossos passos futuros.

Mencionei apenas o tempo gasto com uma novela. Imagine aquelas pessoas que desperdiçam seu tempo com duas, três novelas e outras bobagens que irão lhes roubar mais de quatro ou cinco horas por dia na frente do televisor. Certamente que o mesmo princípio aplica-se à Internet com o Orkut, o MSN, jogos, etc.

Não é por acaso que as pessoas possuem problemas em seus relacionamentos familiares, profissionais, na educação de filhos, na comunhão com Deus. Elas estão sendo instruídas pelos escritores das novelas da Globo, ao invés de serem edificadas com as palavras de Paulo, Moisés, Davi, Agostinho, Spurgeon, Russel Shedd e outros gigantes da fé cristã que deixaram grandes pérolas para a humanidade, mas que infelizmente não estão recebendo o valor que merecem.

J. Blanchard afirmou que: “Se o exercício feito pelo homem em seu período de lazer consiste apenas em mudar de canais, não serão apenas suas pernas que ficarão atrofiadas”.

E por fim, quero lembrar do que disse John Piper num dos seus livros: "Não temos possuído um aparelho de TV por 34 anos, exceto por três anos, quando estivemos na Alemanha e o usamos para aprender o idioma. Não existe virtude inerente nisto. Menciono-o apenas para provar que podemos criar cinco filhos sensíveis à cultura e informados biblicamente sem a TV. Eles nunca se queixaram disso. Na verdade, freqüentemente se admiram com o fato de que pessoas conseguem encontrar tanto tempo para assistirem TV".

segunda-feira, 5 de julho de 2010

POR QUÊ IR À IGREJA?

Um freqüentador de Igreja escreveu para o editor de um jornal e reclamou que não faz sentido ir à igreja todos os domingos. "Eu tenho ido à igreja por 30 anos", ele escreveu, "e durante este tempo eu ouvi uns 3.000 sermões. Mas por minha vida, eu não consigo lembrar nenhum deles sequer... Assim, eu penso que estou perdendo meu tempo e os Padres e Pastores estão desperdiçando o tempo deles pregando sermões!"

Esta carta iniciou uma grande controvérsia na coluna "Cartas ao Editor", para prazer do Editor Chefe do jornal. O jornal continuou com isso por semanas, recebendo e publicando cartas sobre o assunto, até que alguém escreveu este argumento: "Eu estou casado há 30 anos. Durante este tempo minha esposa deve ter cozinhado umas 32.000 refeições. Mas, por minha vida, eu não consigo me lembrar do cardápio de nenhuma destas 32.000 refeições. Mas de uma coisa eu sei... Todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava para fazer o meu trabalho. Se minha esposa não tivesse me dado estas refeições, eu estaria hoje fisicamente morto. Da mesma maneira, se eu não tivesse ido à igreja para alimentar minha fome espiritual, eu estaria hoje morto espiritualmente".

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Aranha Aquática

A aranha aquática é um ser muito pequeno e vive no fundo dos lagos, em uma pequena teia semelhante a um dedal. O abrigo tem um buraco na base por onde ela entra. Quando chega à superfície do lago, a aranha prende bolhas de ar nos pêlos curvados. Então, mergulha até sua toca e coloca as bolhas lá dentro. Após algumas viagens, ela acumulou ar suficiente para viver algum tempo debaixo d’água.

Embora o ambiente seja hostil, ela sobrevive, por causa do suprimento de ar que pegou na superfície do lago. Contudo, em algum momento, a reserva de ar acabará e ela será obrigada a voltar à tona para buscar mais. Sem isso, ela não conseguirá sobreviver sob a água.

Os cristãos vivem em situação semelhante à da aranha aquática. Moramos em ambiente hostil, alimentados e sustentados por recursos do alto. Contudo, nossas reservas precisam ser renovadas e completadas, caso contrário, acabarão. Não podemos permitir que os recursos baixem a um nível perigoso, afinal, não sabemos quando precisaremos deles. Se as dúvidas surgirem quando a reserva de ar não for suficiente, teremos sérios problemas com a nossa espiritualidade.

COMO LIDAR COM A DÚVIDA (III)

Ouvindo que Ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram”. (Evangelho de Marcos 9:11) Este verso desperta dois sentimentos no meu coração. Sentimentos opostos e que, aparentemente, não podem conviver ao mesmo tempo no mesmo coração: Consolo e medo.

Consolo pelo fato de que a fé dos discípulos era semelhante a minha: Fraca, oscilante, inconstante. A consolação vem do fato de que, apesar de possuírem uma fé fraca e inconstante, Deus usou aqueles homens no seu reino e para Sua glória. Isto significa que Ele também pode me usar! Isto significa que existe esperança para um coração que muitas vezes fraqueja em sua fé diante das lutas desta vida.

Medo pelo fato de que os discípulos não acreditaram em algo anunciado pelo próprio Jesus. Cristo anunciou várias vezes que iria ressuscitar e, mesmo assim, eles não acreditaram! O mesmo pode acontecer comigo: Descrer das promessas divinas. E quando eu não confio nas promessas de Deus, a ansiedade toma conta do meu coração, a preocupação torna-se um sentimento presente no meu dia-a-dia, todo o meu ser passa a conviver com o fantasma da depressão. Acabo sofrendo demasiadamente pelo fato de não confiar nas promessas de Deus

Esta dicotomia presente na alma humana – crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza – e que está implícita neste verso de Marcos, pode ser percebida na vida dos heróis da fé (Hb.11). O autor de Hebreus separa boa parte de seus escritos para falar de alguns homens que, segundo ele, foram grandes por causa da sua fé. Aqueles homens e mulheres não são heróis de uma guerra, de uma nação, de uma tribo, de um time. O destaque dado a eles não foi por aquilo que fizeram, mas pela fé que tiveram ao fazer o que fizeram. O elogio feito a cada um deles tem haver unicamente com a fé.

O autor de Hebreus celebra a fé dos nossos antepassados espirituais: Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé “conquistaram reinos, administraram a justiça e obtiveram as promessas”.

Sem dúvida que essas pessoas são especialmente dignas de louvor por sua atividade fiel no serviço ao Senhor. No entanto, as Escrituras não escondem nem camuflam os erros, desvios e desobediências desses homens. Noé embebedou-se e seu filho mais novo viu sua nudez; Abraão e Isaque mentiram para se proteger; Jacó enganou seu pai para ganhar o direito de primogenitura; Moisés não cumpriu corretamente as ordens de Deus, além de ser um assassino; Davi foi um adúltero e homicida. Então, percebam, os grandes heróis da fé também tinham seus pecados e dificuldades. E por mais incrível e irônico que possa parecer, uma das dificuldades desses homens era justamente a falta de fé. É isso mesmo! Os heróis da fé em algum momento de suas vidas, não tiveram fé!

Isto fica muito evidente na vida de Gideão que é citado pelo autor de Hebreus como um herói da fé. Um anjo, depois o próprio Senhor apareceu a Gideão para dizer-lhe que ele seria um poderoso guerreiro que libertaria os israelitas da opressão midianita. Diante da clara palavra divina, o que fez Gideão? Ele questionou a palavra de Deus. O Senhor então deu a Gideão um sinal, fogo saiu milagrosamente da rocha e consumiu o pão e a carne. Gideão foi temporariamente convencido por Deus através daquele milagre. Digo temporariamente, porque quando os midianitas vieram para atacar Israel, Gideão duvidou novamente daquilo que Deus já tinha lhe garantido.

Diante de sua dúvida e falta de fé, Gideão pediu mais um sinal a Deus provando que ele realmente seria o libertador de Israel. Ele colocou um pedaço de lã no chão e pediu a Deus que o molhasse sem molhar o solo em volta. O Senhor atendeu ao pedido de Gideão, mas sua fé ainda não acreditou no milagre. Gideão queria mais uma prova! Ele pediu que Deus fizesse o inverso, molhasse o chão e deixasse a lã completamente seca. O Senhor, mais uma vez foi paciente com Gideão e lhe atendeu ao pedido. Só então Gideão convenceu-se daquilo que Deus lhe tinha dito anteriormente. Só então Gideão acreditou na palavra de Deus.

Gideão, citado como exemplo de fé, colocado na galeria dos heróis da fé, em alguns momentos de sua vida, duvidou da palavra de Deus e teve dificuldades na sua fé. Foi preciso a presença de um anjo, do próprio Deus e de três milagres para convencer o herói da fé daquilo que Deus lhe tinha dado como certo que iria acontecer.

Os discípulos ouviram de Jesus várias vezes que Ele iria ressuscitar, mas mesmo assim, duvidaram! Crença e descrença, confiança e medo, esperança e incerteza, esses sentimentos estão presentes mesmo na vida daqueles que são considerados grandes homens no reino de Deus!

Outro herói da fé que tem muito a nos ensinar com a sua vida é Abraão, considerado e chamado de o “pai da fé”. Deus apareceu a Abraão e lhe disse que ele seria o pai de uma grande nação. Abraão creu em Deus, contudo, em vez de esperar com paciência um filho de sua esposa, ele dormiu com sua serva, e concebeu um filho que não era o filho da promessa.

Quando Deus apareceu para censurar esta atitude de Abraão e lhe dizer que o filho da promessa nasceria de Sara, ambos, Abraão e Sara, deram uma risada irônica de descrença da palavra de Deus. Deus então ordenou que o nome da criança fosse “Isaque” que significa “ele ri”. Talvez para que Abarão sempre que falasse o nome do filho, lembrasse que ninguém deve rir, ironizar ou descrer da promessa de Deus. Apesar de tudo isto, Abraão é modelo de fé, pelo seu comportamento quando Deus ordenou que ele sacrificasse Isaque.

Foi por passar por aquele terrível teste de fé que Abraão foi mencionado em Hebreus 11. A experiência pela qual Abraão passou no Monte Moriá nos mostra a incrível dificuldade de se confiar em Deus. Infelizmente, por conhecermos o desfecho, a história perde a sua força. Por estarmos familiarizados com o que aconteceu, a história perde um pouco de sua relevância. Nós temos um privilégio que Abraão não teve, nós sabemos qual é o final da história. Abraão não tinha a mínima noção de que Deus iria enviar um cordeiro para ser sacrificado. Sendo assim, coloque-se no lugar de Abraão ao ouvir a ordem de Deus para sacrificar seu único filho: A história surge como tragédia de proporções inimagináveis!

Quais foram os pensamentos que passaram pela mente de Abraão durante os três dias de viagem até o Monte Moriá? Quais foram as explicações que ele deu a sua mulher, aos servos, e depois, ao próprio Isaque? Quantas vezes ele não pensou em desistir? Quantas vezes ele não questionou este mandamento de Deus? Quantas vezes ele não suplicou a Deus para que esta ordem fosse deixada de lado? Quantas vezes ele não se perguntou se tinha entendido corretamente a ordem de Deus? Diante de todas estas questões, sentimentos e inseguranças, Abraão passou pelo dilema moral entre o amor pelo filho e o dever para com Deus. Certamente que ele sofria, ele estava angustiado, apavorado, temeroso, contudo, ele permaneceu obediente àquilo que Deus tinha lhe ordenado.

Mas por que Abraão persistiu? O autor de Hebreus nos oferece a resposta. E é exatamente aqui que vemos a fé de Abraão: “Pela fé, Abraão ao ser provado, ofereceu Isaque. Aquele que havia recebido as promessas ofereceu o seu unigênito, embora Deus lhe tivesse dito: Em Isaque será chamada a tua descendência. Abraão julgou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar”. (Hb. 11:17-19)

Abraão acreditou no improvável, no inimaginável, naquilo que não fazia sentido, naquilo que era incrível. Ele acreditava que ao oferecer Isaque, ele o receberia de volta. Apesar de anteriormente ter falhado diante de algumas provas, desta vez, o grande patriarca ao ser testado com o sacrifício de seu filho, confiou em Deus.

Abraão creu na aparente contradição de que ele mataria seu filho, mas o teria de volta. Este é o grande teste da fé: Continuar sonhando mesmo diante das aparentes impossibilidades; crer quando tudo nos leva a descrer; acreditar no que fere o senso comum, no que extrapola as categorias do explicável e plausível; crer contra as evidências, provas e probabilidades.

A grande questão a ser percebida no exemplo de Abraão é que ele não tinha certeza de que Deus iria ressuscitar o seu filho, ele tinha fé e nada mais. O grande patriarca não tinha evidências confiáveis de que Deus lhe daria o filho de volta, ele tinha fé e nada mais. O “Pai da fé” não poderia garantir que seu filho voltaria a vida depois do sacrifício, ele tinha fé e nada mais.

Abraão nos mostra que a fé não é uma garantia de que as coisas realmente acontecerão como desejamos ou planejamos. A fé muitas vezes navega num mar de incertezas, num oceano de inseguranças, num mundo de dúvidas. Não é sempre que temos a certeza de que Deus irá realmente fazer aquilo que oramos e pedimos, virá sobre as nossas vidas livrando-nos dos nossos problemas e dificuldades, nos libertará daquela situação opressora.

Enquanto estivermos neste mundo, o nosso relacionamento com Deus será marcado por dúvidas e incertezas. É neste momento que carecemos de ter uma fé como a de Abraão. Uma fé que não entende os caminhos de Deus, que não compreende o porquê de Deus fazer determinadas coisas, que não sabe explicar os desígnios e propósitos divinos. Uma fé que mesmo diante destas questões, prefere confiar em Deus e fazer aquilo que Ele ordenou fazer. Jó compreendeu perfeitamente esta fé e afirmou: “Ainda que ele me mate, nele eu confiarei”.

O que desejo enfatizar é que assim como Abraão, Gideão, os heróis da fé e os discípulos, eu e você não teremos uma fé forte o tempo todo! Nossa fé, em alguns momentos de nossa vida irá fraquejar! Como já disse anteriormente, cremos, mas temos medo, cremos, mas não estamos seguros quanto ao que desejamos, cremos, mas achamos que não merecemos tamanha graça, cremos, mas ainda somos incrédulos.

Ao contrário do que muitos pensam, é possível estar comprometido com Jesus mesmo diante da incerteza. Pense nos discípulos de Jesus que ficaram com Ele enquanto outros abandonaram o Messias. Os discípulos que ficaram, o fizeram porque a razão os persuadiu que Jesus era o Cristo? Eles permaneceram porque suas dúvidas intelectuais foram todas dissipadas? Eles insistiram em caminhar com Jesus porque viram, ouviram e aprenderam todas as coisas? Não! Absolutamente não! Eles ficaram com Cristo e continuaram a crer, apesar de muitas perguntas profundas que permaneceram sem resposta! Quando Jesus perguntou-lhes se eles também queriam ir, Pedro respondeu: “Para onde iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. (Jo. 6:68)

Em 1987 os alunos de uma faculdade cristã nos EUA debateram se Bono Vox, cantor do grupo U2, era realmente cristão. Bono, em várias ocasiões professou sua fé e muitas músicas que ele compôs falam da fé cristã. Contudo, o debate surgiu porque numa de suas músicas, Bono afirma o seguinte: “Ainda não achei o que procuro”. Os estudantes interpretaram esta frase como uma negação da fé.

Abraão, Gideão, os discípulos, Bono, eu e você ainda não achamos respostas para muitas perguntas que procuramos. E tem mais, assim como eles, nós iremos partir deste mundo sem as respostas que tanto gostaríamos de ouvir. O Autor de Hebreus afirma que alguns heróis da fé: “Não alcançaram as promessas. Viram-nas de longe, e saudaram-nas. E confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra, mas desejam uma pátria melhor, isto é: celestial”. (Hb.11:13,16)

Muitas respostas e promessas de Deus não serão recebidas nesta vida. Muitos heróis da fé não viram a promessa sendo cumprida, eles aguardaram e não viram! Mas esta é a grande questão da fé: Mesmo que eu não entenda, eu confio; mesmo que eu não receba, eu confio; mesmo que eu não seja abençoado, eu confio. “Mesmo que ele me mate, nele eu confiarei”.

Todas estas questões me mostram que a verdadeira fé não é algo embalado, empacotado, pronto para se abrir e usar. A fé, como disse Kierkegaard, é tarefa para a vida inteira, não é algo que se adquire em semanas ou meses. A fé como deixou claro o autor de Hebreus é uma jornada, uma peregrinação para receber aquilo que é prometido por Deus. É um anseio, uma esperança, um desejo de viajar até o fim e ao chegar lá, encontrar o Autor da fé esperando por você.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

COMO LIDAR COM A DÚVIDA (II)

Se já não bastassem os dilemas e mistérios da fé, vivemos em uma cultura que por princípio, duvida de tudo e costuma considerar que o compromisso com uma crença é o pior dos pecados seculares. Como dizia René Descartes: “A única coisa de que podemos ter certeza é a dúvida”. Contudo, esta postura de questionar todas as coisas é na verdade um anseio por segurança, um desejo por ser capaz de conhecer tudo com total certeza. Só que esta certeza é reservada a um grupo muito pequeno de crenças. Coisas que são evidentes ou passíveis de demonstração, como “2 + 2 = 4”, “O todo é maior do que suas partes”. Podemos ter certeza absoluta de que estas duas proposições são verdadeiras, no entanto, entender que “o todo é maior do que suas partes”, não vai revolucionar as nossas vidas. Descobrir que “2 + 2 = 4”, não nos dará a resposta para o significado da vida.

Grande parte das verdades do cristianismo se apóiam na fé e não em certezas absolutas. Por exemplo, o nascimento virginal de Cristo, a plena humanidade e a plena divindade de Cristo, o céu e o inferno... Estas coisas são aceitas como verdadeiras unicamente pela fé, não temos como provar que elas são verdadeiras.

Só que tem um detalhe que deve ser levado em consideração, o cristianismo não está sozinho! Qualquer visão de mundo – até o ateísmo – não possui provas suficiente para defender as suas crenças. Crer em Deus requer um ato de fé, assim como não acreditar nele também requer fé. Nenhuma visão de mundo tem certeza absoluta em todas as suas ideologias. Aceitar a Jesus exige um salto de fé, mas o que acontece com a decisão de rejeitá-lo? Aceitar o cristianismo requer fé, isso vale também para o ato de rejeitá-lo.

Ninguém pode provar com certeza absoluta que Jesus é o Filho de Deus, Salvador da humanidade, contudo, ninguém pode provar o contrário com certeza absoluta. A decisão, qualquer que seja ela, repousa na fé. Há um elemento de dúvida em cada caso. Foi por isto que Pascal afirmou que: “A fé, as vezes se parece com uma aposta. Se eu creio em Deus e você não crê em Deus, e se Deus realmente não existe; quando morrermos, nós dois saímos perdendo. Agora, se eu creio em Deus e você não crê em Deus, e se Deus, realmente existe, quando morrermos, eu ganho tudo e você perde tudo”.

E tem mais um detalhe, a crença nas verdades bíblicas e na existência de um Criador, possuem evidências muito mais confiáveis do que as crenças e ideologias dos ateus. Em “Cristianismo puro e simples” C.S. Lewis afirma que “O cristianismo possui excelentes credenciais em todas as áreas”. Em “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, Norman Geisler nos lembra que “Os ateus precisam de muito mais fé do que os cristãos p/ sustentar suas ideologias”.

Sobre este dilema a respeito da fé, um escritor americano (Sheldon Vanauken), que cursou Oxford e lá passou por angústias terríveis em sua fé, afirmou o seguinte: “Há um abismo entre o provável e o provado. Como atravessá-lo? Se era para eu apostar toda a minha vida no Cristo ressurreto, eu queria provas, queria certezas. Desejava vê-lo comer um pedaço de peixe, esperava que letras de fogo cruzassem o céu. Não recebi nada disso. Foi uma questão de aceitar, ou rejeitar. Havia outro abismo atrás de mim! Talvez o salto para a aceitação fosse uma aposta aterrorizante, mas, e quanto ao salto para a rejeição? Poderia não haver a certeza de que Cristo era Deus, mas não havia certeza de que ele não fosse. Não dava para suportar! Eu não podia rejeitar Jesus. Depois que vi o abismo atrás de mim, só havia uma coisa a fazer. Virei as costas para ele e me atirei sobre o abismo que levava a Jesus”.

Que testemunho fantástico! É verdade que algumas coisas do cristianismo não podem ser provadas e são aceitas unicamente pela fé? Sim é verdade! Mas o mesmo pode ser dito para aqueles que rejeitam o cristianismo. Suas ideologias não podem ser provadas, eles o aceitam unicamente pela fé.

Certa vez centenas de pessoas abandonaram a Jesus. Qual foi o motivo? A mensagem de Cristo, as Suas ideologias. Diante daquela situação, Jesus virou-se para os discípulos e lhes fez a pergunta: “Quereis vós também deixar-me?”. O que foi que Pedro respondeu? “Para quem iremos nós?” - “Havia outro abismo atrás de mim!” - E o fim da resposta de Pedro foi: “Só tu tens as palavras de vida eterna” - “Eu não podia rejeitar Jesus. Depois que vi o abismo atrás de mim, só havia uma coisa a fazer. Virei as costas para ele e me atirei sobre o abismo que levava a Jesus”.

O que estou querendo dizer é que a dúvida, nem sempre significa descrença. Significa que entre as promessas imutáveis de Deus e a forma como elas são ministradas a nós, existe uma lacuna muito grande que nem sempre é compreendida por cada um nós. É aquela velha história: Se Deus me ama por que Ele permite o meu sofrimento? Se Deus é bondoso por que Ele permitiu que aquilo acontecesse com aquela pessoa? Se Deus é poderoso por que Ele permite tanta coisa ruim neste mundo? Não sabemos dar respostas a estas e a tantas outras questões.

Temos fé que apesar de tantas atrocidades, Deus é, ao mesmo tempo soberano e amoroso. Contudo, em alguns momentos, nossa fé neste Deus soberano e amoroso, fica enfraquecida. Por isto a importância da palavra daquele pai: “Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé”. Eu creio que o Senhor é soberano, mas me ajude a crer nisto quando alguém que eu amo morrer. Eu creio que o Senhor é amoroso, mas me ajude a crer nisto quando vejo o mal prevalecendo. Eu creio que o Senhor controla todas as coisas, mas me ajude a crer nisto quando vejo a corrupção proliferando cada vez mais. “Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé”.

C.S. Lewis comentando sobre o significado da fé disse o seguinte: “Minha mente está completamente convencida, por provas mais que suficientes, de que os anestésicos não me sufocam e de que os competentes cirurgiões não começam a operar antes que eu esteja inconsciente. Mas isto não impede que, estando eu na mesa operatória, ao me colocarem a terrível máscara no rosto, eu seja tomado por um pânico inteiramente infantil. Começo a pensar que vou ser asfixiado e temo que comecem a me cortar antes de eu estar inconsciente. Em outras palavras, perco minha fé nos anestésicos. Não é a razão que me faz perder a fé, mas a minha imaginação e as minhas emoções. Ou consideremos um menino aprendendo a nadar. Sua razão sabe muito bem que um corpo humano, mesmo sem apoio nenhum, não afunda necessariamente na água; ele já viu muitas pessoas boiando e nadando. Mas a questão é se ele será capaz de continuar a crer nisto quando o instrutor tirar a mão e deixá-lo sozinho na água”.
Para Lewis, o problema da dúvida não é necessariamente racional, mas emocional. Existe entre nossas emoções e nossa razão, um descompasso que não pode ser ignorado.

Calvino reconheceu este conflito entre o racional e o psicológico na experiência da fé. De um lado ele definiu a fé nos seguintes termos: “Podemos ter uma definição correta da fé se dissermos que ela é um conhecimento firme e constante da benevolência divina em direção a nós, que é fundamentada na verdade da graciosa promessa de Deus em Cristo, revelada em nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo”. Num outro momento ele afirmou o seguinte: “Quando afirmamos que a fé deve ser certa e segura, não temos em mente uma certeza sem dúvidas ou uma segurança sem ansiedades. Pelo contrário, afirmamos que os crentes têm uma luta perpétua com sua própria falta de fé, e estão longe de possuir uma consciência pacífica, nunca interrompida por distúrbio algum”.

Ao comentar o texto de Marcos 9 onde o pai pede a Jesus para ter a sua fé aumentada, Calvino disse o seguinte: “Este pai declara que crê, mas também confessa sua incredulidade. Embora essa afirmação pareça inconsistente, de fato não existe ninguém que não experimente esta mesma sensação interior. Fé perfeita não se encontra em lugar algum; portanto, todos nós somos parcialmente incrédulos. Mas, em sua bondade, Deus nos perdoa e nos conta entre os que crêem, a despeito da nossa pequena porção de fé. De nossa parte, reagimos contra a incredulidade que permanece em nós e lutamos contra ela pedindo ao Senhor que nos corrija. Sempre que lutamos, precisamos voltar para Deus em busca de conforto. Se considerarmos cuidadosamente o que Deus tem dado a cada um de nós, ficará claro que dificilmente alguém terá uma fé forte, poucos uma fé mediana e a maioria de nós terá somente uma pequena medida de fé”.

Calvino, Lewis e o pai deste jovem possesso nos lembram que a fé não estará sempre em atuação, nem será forte o tempo todo. Sendo assim, seguiremos crendo e não crendo. Sendo assim, nos momentos de dúvida, nossa oração deve ser: “Ajuda-me na minha falta de fé”. Nos momentos de incredulidade, devemos dizer: “Ajuda-me na minha falta de fé”. Nos momentos de angústia devemos pedir: “Ajuda-me na minha falta de fé”. Nos momentos em que a fé vacilar, devemos clamar: “Ajuda-me na minha falta de fé”.

Todos nós passaremos por situações na vida em que manter intacta a nossa fé será algo complicado. Neste momento, não podemos fingir ser heróis da fé. Precisamos reconhecer nossas limitações e, assim como fez aquele pai, clamar por ajuda e socorro: “Eu creio, contudo, ajude-me na minha falta de fé”.